sábado, 8 de junho de 2013

Poesia e pensamento abstrato - Manuel da Costa Pinto



Poesia e Pensamento abstrato

   “Todos os poetas verdadeiros são necessariamente críticos de primeira ordem”, assim escreveu Paul  Valéry no ensaio “Poesia e pensamento abstrato

   Os críticos aos quais o autor francês se refere, porem, não são aqueles poetas que escrevem textos teóricos, resenhas publicadas em jornal, reflexões circunstanciais; eles são uma espécie de consciência interiorizada na escrita, que preside essa arte combinatória produzindo no leitor a ilusão de sua gratuidade (a “inspiração” como uma espécie de graça divina).

   Para Paulo Valéry, a poesia pode provocar no leitor um  efeito de “transcendência”, mas esse efeito não se confunde com o caráter material do trabalho do poeta, que manobra as palavras para fazer com que elas adquiram uma relação necessária (diferentemente do que acontece na linguagem comum, em que essa relação é arbitrária).

   Essa manobra, por sua vez, exige o exame crítico – e por isso Valéry completa o raciocínio inicial com a afirmação de que “todo poeta verdadeiro é muito mais capaz do que se pensa geralmente de raciocínio exato e de pensamento abstrato”.

Manuel da Costa Pinto

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