Poesia e Pensamento abstrato
“Todos os poetas verdadeiros são necessariamente críticos de
primeira ordem”, assim escreveu Paul Valéry
no ensaio “Poesia e pensamento abstrato
Os críticos aos quais o autor francês se refere, porem, não são
aqueles poetas que escrevem textos teóricos, resenhas publicadas em jornal,
reflexões circunstanciais; eles são uma espécie de consciência interiorizada na
escrita, que preside essa arte combinatória produzindo no leitor a ilusão de sua
gratuidade (a “inspiração” como uma espécie de graça divina).
Para Paulo Valéry, a poesia pode provocar no leitor um efeito de “transcendência”, mas esse efeito
não se confunde com o caráter material do trabalho do poeta, que manobra as
palavras para fazer com que elas adquiram uma relação necessária (diferentemente
do que acontece na linguagem comum, em que essa relação é arbitrária).
Essa manobra, por sua vez, exige o exame crítico – e por
isso Valéry completa o raciocínio inicial com a afirmação de que “todo poeta
verdadeiro é muito mais capaz do que se pensa geralmente de raciocínio exato e
de pensamento abstrato”.
Manuel da Costa Pinto
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