sábado, 1 de junho de 2013

Opiniões sobre José Maria Dias da Cruz



Opiniões sobre José Maria Dias da Cruz 

Caro José Dias,

foi um grande prazer conhecê-lo e sua palestra incitou-me uma
curiosidade de permanecer em contato e em diálogo. Li seu texto sobre
a verdade em pintura. Igualmente instigante. Conceitos como 'cinza
sempiterno', 'primeira e segunda mortes', 'distância em proximidade',
entre outros, transcendem potencialmente o limite de uma reflexão para
atingir o nível de uma argumentação, portanto, de um filosofar sobre a
pintura, como fica claro em sua citação de Bachelard, esse pensador
inquieto e inquietante. Vou conversar com o prof. Celso Braida e com a
profª. Claudia Drucker para podermos instituir algum tipo de "topos"
dialógico através da universidade. Há mais ou menos um ano e meio
vinha trabalhando em uma filosofia das artes plásticas. Um tipo de
tarefa complementar à filosofia da literatura esboçada no livro
Insignuações. Sua palestra e nossos curtos diálogos me motivaram ainda
mais a dar continuidade a esta reflexão por meio de um grupo de
pesquisa. Caso ele venha a se estabelecer, quero desde já convidá-lo
para nos falar de suas investigações, disseminando suas idéias para
pessoas interessadas nas problemáticas sutis dos conceitos plásticos.
De todo modo, se tal grupo vier a se formar será somente no primeiro
semestre do próximo ano. Neste semestre já me encontro bastante
ocupado. Em especial, sua fala sobre Cézanne e sobre a verdade em
pintura me renovou a idéia de pensar a imagem em geral através do
tratamento gráfico da mesma contido na riquíssima história das artes
plásticas. Sua palestra mostra claramente que os artistas plásticos,
tais como Cézanne e você mesmo, pensam aspectos fundamentais da imagem
através de conceitos plásticos, sem abdicar dos conceitos científicos
(cromáticos e geométricos), mas não limitando-se aos mesmos. Seria
esta investigação "inferior" àquela operada pela psicologia cognitiva
sobre a visão? Parece-me que não. Em certo sentido, a investigação
plástica consegue atingir algo que a investigação científica da imagem
e da visão não consegue. Mas também o inverso pode ser o caso. Assim,
para pensar com mais amplitude a ubiqüidade da imagem não seria melhor
investigá-la através de ambas as perspectivas? Ambas as perspectivas
me parecem integráveis em um horizonte semiótico. Enfim, são apenas
algumas considerações que sua reflexão sobre as cores e as imagens
plásticas me avivam e reavivam. Saudações, tudo de bom e até breve.

Nazareno Almeida. Professor de filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina
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