terça-feira, 15 de maio de 2012

Considerações sobra as cores e os coloridos


Algumas considerações sobre as cores e os coloridos.  



                                                       Diagrama realizado por Walter François


Há a questão do surgimento do cinza sempiterno quando ele passa da condição de não existente para a de existente. Na condição de existente o cinza deixa de ser somente bidimensional. Surge como uma atmosfera que se interpõe entre o modelo e o pintor e assim, tornando-se mais dinâmico e permitindo que as demais cores de um colorido transformem-se em concretas adjetivas. Isto não impede que cada cor se manifeste também como abstrata substantiva. No primeiro caso a condição de cada cor é ser no colorido. No segundo as cores se nos apresentam mais como idéias as quais podemos nomear. Estas últimas, subsistindo somente em nossos cérebros, não se rompem, isto é, não articulam suas respectivas opostas que vão gerar outras tonalidades, fenômeno este que também nos levam a perceber a manifestação do cinza sempiterno. 

As consequências dessas atitudes são as seguintes:

a) como concretas adjetivas as cores são mais qualitativas, independente de nomeação na medida que convivem com as demais cores de um colorido. Não podemos, pois que ilógico, afirmar qual a cor de um colorido. E assim aceitamos a afirmativa de que as cores são enigmáticas e, por extensão, pensar no nosso miserere, isto é, na imperfeição própria dos homens. E assim também aceitamos a idéia de que ética e estética é uma só coisas.
b) Como abstratas substantivas percebemos que as cores, como déias, subsistem por si só. São nomeáveis e se tornam mais subordinadas às formas. Assim tornam-se mais racionais.

c) As consequências é que podemos perceber que pode haver uma convivência entre as cores concretas adjetivas e abstratas substantivas.

As considerações acima nos levam a algumas indagações sobre as harmonias. Podemos repensá-las não mais como absolutas e estáticas, (e presas a uma lógica mais clássica) mas também como dinâmicas e com uma dimensão temporal. Neste caso podemos considerar a harmonia absoluta e estática como uma morte, e se dinâmica como uma vida. A passagem entre uma e outra se dá quando há a possibilidade de um estado de entropia máxima, e assim nos possibilita um recomeço. Abre, inclusive, para repensarmos em uma situação na qual não temos mais um espaço somente pictórico, mas também gráfico e este perceptível quando nossa mentalidade é absoluta. Em um espaço mais gráfico predomina a racionalidade das formas isto é, ele torna-se mais racional NE assim sendo as questões de proporcionalidade podem ser mensuráveis racionalmente e independentes de uma  fenomenologia.



                                                         Diagrama realizado por Walter François

José Maria Dias da Cruz                                                                                                                Florianópolis - Maio de 20012

sábado, 12 de maio de 2012

Natureza morta - 55x38cm - 1975 - óleo sobre trela

A Cor e a Paciência de Braque




 A cor é dentro do pensamento verbal e dentro das lógicas decorrentes desse pensamento, impossível de ser racionalizada. No século XVIII criou-se um círculo cromático no qual as cores eram classificadas em primárias, secundárias e com valores absolutos, etc. com a pretensão de explicar todos os fenômenos cromáticos da Natureza e, assim, aprisioná-las dentro de uma mentalidade quantitativa na medida em que ficavam subordinadas às formas, estas mais racionais. Com isso, ficou eclipsada a possibilidade de se pensar as cores e o colorido fora do modelo imposto por este círculo. Além do mais, este círculo cromático é regido por uma lógica que criou os conceitos de cores puras, pastéis e neutras, e assim, atrelando as questões cromáticas ao discurso verbal. Dentro do pensamento plástico a cor é enigmática, portanto passível de ser percebida por outra lógica, como diz Cézanne, nada absurda.
  Vale ressaltar que a partir desse círculo classificamos as harmonias em termos absolutos e em conseqüência, igualmente as cores. O mesmo em relação aos contrastes. Todos com valores absolutos e estáticos. Nesse círculo as cores são explicadas pelas misturas pigmentares, as quais foram mais tarde denunciadas por Duchamp. Claro, estudam-se alguns outros fenômenos como os contrastes simultâneos, por exemplo. Mas na base está um pensamento lógico, atualmente questionado, decorrente do discurso verbal. A partir desse círculo cromático classificaram-se as harmonias, por exemplo. Estas seriam consoantes, dissonantes e assonantes. (No pensamento plástico como a cor pode ser assonante ou neutra, vale dizer, uma não-cor?). Essas harmonias consideram uma mentalidade quantitativa, ou seja, explicam-se considerando ritmo como recorrência pressentida, que é racional e a cor ficando subordinada às formas. E assim bem longe do que Cézanne nos adverte: “Na natureza tudo está colorido.” A partir do círculo cromático absoluto ficamos presos à lógica aristotélica. Ou seja, à lógica do terceiro excluído, lógica esta que afirma que uma coisa não pode ser verdadeira e falsa simultaneamente.  Esse círculo excluiu o que hoje nos é familiar, as incertezas.
 Assim, fugindo deste aprisionamento, nos meus estudos descartei o círculo cromático que classifica as cores em primárias e secundárias. Descartando-se o círculo cromático absoluto, como, parece-me, também o fez Cézanne, passamos a considerar um terceiro termo. A dimensão espaço-temporal da cor, pelo rompimento do tom, nos permite entender o cinza sempiterno como um pré ou pós-fenômeno. Vale dizer, um cinza que não existe, mas que se manifesta na natureza. Isso nos aproxima a cor e o colorido da lógica do terceiro incluído, sendo o terceiro um termo que se refere às diversas dimensões embutidas na fecha do tempo como informação.
 Escrevi um livro intitulado A Cor e o Cinza  utilizando-me, é claro, da linguagem verbal Nele refiro-me ao conflito entre a percepção sensível e a linguagem. Neste livro, para reforçar a disparidade entre a cor e o nome que lhe damos, cito o filósofo Mário Guerreiro, que diz:
 “Sim, pois onde estão as cores puras no mundo percebido? Na verdade, elas pertencem ao mundo nomeável, mas esse mundo nomeado reparte o mundo percebido e o organiza de acordo com essa coisa enigmática que é o critério de relevância implícito na língua estruturada. Parece que se abre um abismo entre a percepção sensível e a linguagem, entre as qualidades percebidas e as qualidades nomeáveis, mas ficamos em dúvida se deveríamos concordar com a idéia de que o percebido só se faz passando pelo crivo na nomeação, como se a linguagem estivesse filtrando a percepção, canalizando-a no sentido de só poder captar certos padrões em detrimento de outros. Com certeza este é um problema que teria de ser colocado para uma fenomenologia, onde uma incursão nos domínios da pintura seria, certamente, bastante esclarecedora.”
 Nesse sentido, podemos fazer com que haja uma convivência entre a percepção sensível e a linguagem verbal. Neste caso, consideramos a cor abstrata substantiva, que subsiste por si mesma na medida em que sua substância não se altera, é nomeável e é uma idéia platônica, e a cor concreta adjetiva, cuja condição é ser no colorido e está sempre se rompendo, possuindo uma dimensão temporal. Podemos, assim, lidar simultaneamente tanto com a percepção sensível e a linguagem verbal.
 Procurei através do estudo das questões que os pintores discutiram chegar ao pensamento plástico. Apoiei-me em Poussin que se refere a um ver prospectivo, além de outro que considera apenas o aspecto dos objetos. Por esse olhar prospectivo Poussin  considera o saber do olho, os eixos visuais e as diversas distâncias. Braque diz que explicar uma coisa é substituir a coisa pela explicação. No meu livro caí, em parte, nessa sutil observação. Acabei substituindo a coisa pela explicação. Só me foi possível fugir desse impasse nas aulas, nas quais procurava um desenvolvimento do pensamento plástico no qual substitui a explicação pelo ato poético ao mostrar aos alunos a possibilidade de se ver prospectivamente.  O ato de olhar permite a experimentação e, obviamente, o ato poético, criativo, etc.
 Estudei, sobretudo, a obra de Cézanne que afirmou que a luz não existe para o pintor, e, conseqüentemente, tem que ser substituída por uma outra coisa, a cor. Portanto o mestre de Aix não se interessou pelo cromatismo impressionista. Disse mais ainda, que somente um cinza reina na natureza dificílimo de alcançar. Não se trata obviamente de um cinza baseado na mistura do branco com o preto, pois esse não oferece nenhuma dificuldade. Digo que Cézanne nos preparou para pensar no cinza sempiterno, como passei a denominá-lo.
 Cabe enfatizar, que o cinza sempiterno não existe. É um pré ou pós fenômeno. Acrescento agora que ele não é objetivo na medida em que não é um fenômeno. Talvez seja apenas uma lógica. E mais, talvez nos faça compreender Cézanne quando ele afirma que a arte é uma religião. Ele, o cinza sempiterno, se manifesta na natureza. Será que podemos afirmar que essa manifestação pode nos levar a considerá-lo como uma manifestação de uma das faces de Deus?
 Além dessas questões, incluiu-se na lógica da cor a questão do serpenteamento vinciano. Leonardo no Tratado da Pintura diz que devemos observar com muito cuidado os limites de qualquer corpo para julgar se suas voltas participam de curvaturas circulares e concavidades angulares, uma questão bem mais complexa do que afirmar, como se vê nas histórias das artes, que ele introduziu na pintura o esfumato. Este é apenas um procedimento e não uma questão teórica.
 Sobre esta questão vale citar a famosa frase de Cézanne na qual ele reforça que tratar a natureza através do cone, esfera e cilindro não implica em uma geometrização considerando esses sólidos geométricos como os que possibilitam a construção do espaço pictórico tomando-os como formas históricas da construção deste espaço. Além do mais Cézanne afirmava que queria chegar à perspectiva unicamente pela cor. Interessante é que podemos compreender a afirmação de Duchamp na qual diz que o cubismo tem inicio em Cézanne, e passa pelo fauvismo, (em minha opinião, sobretudo por Braque).
 Consideraríamos a geometria dos fractais, e novamente o cinza sempiterno, que estaria presente tanto no todo como nas partes. Assim em uma fração teríamos também um elemento contido no todo, no caso, o cinza sempiterno. Daí poder-se dizer que as partes são maiores que o todo. Consideraríamos, também, a teoria do caos, e a partir daí pensaríamos no processo contínuo de organização e desorganização quando estados de entropia máxima são observados, o que metaforicamente nos levaria a considerar a questão de vida, morte e ressurreição.
 Tudo isso nos permite realmente pensarmos em uma geometria das cores considerando-se entre outras a topologia na qual, além das transformações e deformações contínuas, o cinza sempiterno seria uma fronteira. Ou na geometria dos fractais e novamente aquele cinza lhe dá consistência.
 Podemos imaginar também que essas surdas questões pertinentes ao pensamento plástico e, por extensão, às artes visuais, poderão, talvez, ser mais bem compreendidas pelas geometrias que hão de vir. Como, por exemplo, uma geometria das cores.
 De resto há que se ter paciência.
  José Maria Dias da Cruz - Março de 2011



Cenas da vida brasileira - Marques Rebelo

quarta-feira, 9 de maio de 2012

E-mail enviado por Walter François



Caro José Maria, estou curtindo a montagem de círculos cromáticos partindo de tons diferenciados ... veja como esse ficou mais sutil.
Interessante que ao fixarmos o olhar no centro do cz semp, a uma certa distância (+/- 1 m.) por 20 segundos, veremos uma célula se movendo em alta velocidade p/todos os lados em sí. Esse dinamismo deve ser o que nos leva a ver um pular de lado no penúltimo elo antes do entro onde ainda vemos diferença de tons entre os cinzas quase semp opostos, horas endendo p/o avermelhado, horas p/o esverdeado, por exemplo.
Não sei se teve a oportunidade de assistir o vídeo Prof. Laércio, ele classifica as partículas como parte do Campo Universal. Tudo é Campo / frequência e nós identificamos um eletron por exemplo quando ele aumenta a frequência, p/dar o salto quântico o eletron diminui a frequência e some, tornando-se campo e aparece em outro elo do átomo, quando a frequência aumenta de novo, podendo ser identificado novamente. Acho que esse princípio se aplica ao universo das cores, que como luz, são frequências. No caso do círculo cromático que vós criastes, pode haver o mesmo salto dos cinzas quase semp, sumindo e se tornando o campo sempiterno e reaparecendo como o quase semp oposto. Isso numa tamanha velocidade que confunde a visão com seu serpenteamento e não identificamos o Cinza sempiterno ele foge a vista sumindo durante o salto quântico como campo de cor. Será que podemos classificar a
cor como partícula que obedece as leis quânticas. Aleluia !!!rsrsrsrs ... Estou empolgado !!!
Veja o círculo que fiz agora como é mais sutil. Acho que o efeito visual do cinza semp à distância se dá melhor com o círculo de cores mais intensa. Por favor faça a experiência e se ver o centro vibrando em sí, me confirme por favor.
Acho que vacilei e perdi o e-mail com suas anotaçôes, pode me mandar de novo, vou salvar.

Aguardo seu parecer ancioso,
abraço,
Walter.

domingo, 6 de maio de 2012

Ainda sobre a dimensinalidade das cores e dos coloridos.

Notas sobre a multidimensionalidade das cores e dos coloridos

O cinza sempiterno

O cz semp não possui nenhuma dimensão, daí ser um pré ou pós fenômeno. As cores dele divergem, e neste caso ele é pré-fenôneno. Há movivmentos de convergência, e neste caso é um pós-fenômeno. Uma cor quando surge em função desse cz sempo é já um fenômeno, Assim sendo pode ser dimensionado. Vai gerar uma cor concreta adjetiva. Neste caso ela terá sua oposta que tbm é pode ser dimensionada.

Aqui entra Espinosa e suas considerações epistemológicas: primeiro entramos em contato com a coisa. No caso, entramos em contato com a cor concretas adjetiva. Depois racionalizamos. neste caso a cor passa a ser tbm abstrata subsitantiva. Portanto um outro fenômeno. Em um terceiro estágio podemos produzir, ou seja, podemos nos valer da intuição com conhecimento. Ou seja, criamos e para que a criação subsista além de nosso cérebros, realizamo-nas. Torna-se assim um fenômeno. Creio que todo fenômeno é mensurável e, assim sendo, é dimensionavel.

O serpenteamento.

O cz semp é causa é efeito dos coloridos.

                        a-----------cz----------b
                         -->       <--->      <--

As cores para o cz convergem. Do cz semp surge então um colorido. Mas como Cézanne diz que só pinta uma secção do espaço conclui-se que esse espaço é parte de um todo. Mas esse todo nos é interditado, está além de nosso limites. Mas nos é possível pensar que há um colorido total e que ele é regido por uma lógica igual a do cz semp. O colorido total pode ser pensado como um movimento divergente que partiu do cz onipresente. Creio q aqui se entra em questões mais metafísicas da questão da cores e dos coloridos.

O rompimento do tom e o serpenteamento

Um tom se rompe qdo sobre ele se sobrepõe sua pós imagem ou sua oposta. Dessa forma diremos que a cor a se rompe por ação da cor b. Já a cor b. O rompimento de a ganha uma tonalidade mais próxima de b se observarmos como se dá uma percepção das duas quando há uma convivência entre elas. Da mesma forma em relaçaõ a b. SE esle está rompido este rompimento ganha uma tonalidade d q se desvia para a. O cz semp estando no intervalo entre a e b vai se manifestar como uma oscilação entre elas.como fenômeno, portanto, dimensionável.

                                          <----I---->
                     a--------I--------cz--------I--------b 
                      --->  a'                           b'   <---
                       Romp de a                Romp de b
                     

O cinza sempiterno e o serpenteamento.

O cz semp ao se manifestar passa tbm a ser um fenômeno. Passa da condição de não existente para de existente e se manifesta como "uma atmosfera q se interpõe entre o objeto e o pintor" (Cézanne). Portanto Podemos então dizer que é um serpenteamento que se apresenta tanto como curvaturas circulares ou concavidades angulares, ambas considerando uma visão binocular.

Exemplo. Olhemos um objeto bem próximo com os dois olhos. Fecha-se um, fecha-se outro. Observamos q um olho foca e o outro dá pa profundidade. E mais ainda; um ponto no limite do corpo vai ser diferente conforme for visto por um olho. Temos na realidade dois pontos e uma distância entre eles. Nesta distância se manifesta o serpenteamento como curvaturas circulares.
Mas se considerarmos o espaço posterior ao objeto veremos q temos 3 pontos e observando ora com um, ora com outro olho.  Um no limite do corpo. Os dois outros além do objeto, Os 3 pontos nos permite construir um ângulo. As concavidades angulares se manifestam como um serpenteamento em zigue-zague em toda a extensão do limite do corpo.

Como Cézanne diz que a 'linha ñ existe em absoluto na natureza" e que "na natureza tudo está colorido", tem os que considerar os contraste das cores possibilitando-nos uma percepção dos limites dos corpos.

(Claro, p pintor pode se utilizar do desenho, ou seja, de um concepção gráfica do espaço plástico. Neste caso as questões do serpenteamento do cz semp deveram ser pensadas a partir das relações de claro-escuro, como sobre isto nos adverte Cézanne).

Verificação

Resto-nos verificar, e não concluir, pois há o enigma. O cinza sempiterno, o serpenteamento, o rompimento do tom são fenômenos, e como tal passíveis de serem dimensianados.

Para chegar a estas anotações tive que redefinir o rompimento de tom, descartar o circulo cromático tradicional, reinterpretar a frase do Leonardo sobre o serpenteamento, criar os conceitos de cores abstratas substantivas e concretas adjetivas, etc. Mas dúvidas persistem.

José Maria Dias da Cruz
Maio de 2012

O Goleiro - óleo sobre tela- 73x60cm - 1994 - José Maria Dias da Cruz

sexta-feira, 4 de maio de 2012

A Cor e a Paciência de Braque


                                                      A cor e a paciência de Braque


 




 A cor é dentro do pensamento verbal e dentro das lógicas decorrentes desse pensamento, impossível de ser racionalizada. No século XVIII criou-se um círculo cromático no qual as cores eram classificadas em primárias, secundárias e com valores absolutos, etc. com a pretensão de explicar todos os fenômenos cromáticos da Natureza e, assim, aprisioná-las dentro de uma mentalidade quantitativa na medida em que ficavam subordinadas às formas, estas mais racionais. Com isso, ficou eclipsada a possibilidade de se pensar as cores e o colorido fora do modelo imposto por este círculo. Além do mais, este círculo cromático é regido por uma lógica que criou os conceitos de cores puras, pastéis e neutras, e assim, atrelando as questões cromáticas ao discurso verbal. Dentro do pensamento plástico a cor é enigmática, portanto passível de ser percebida por outra lógica, como diz Cézanne, nada absurda.
  Vale ressaltar que a partir desse círculo classificamos as harmonias em termos absolutos e em conseqüência, igualmente as cores. O mesmo em relação aos contrastes. Todos com valores absolutos e estáticos. Nesse círculo as cores são explicadas pelas misturas pigmentares, as quais foram mais tarde denunciadas por Duchamp. Claro, estudam-se alguns outros fenômenos como os contrastes simultâneos, por exemplo. Mas na base está um pensamento lógico, atualmente questionado, decorrente do discurso verbal. A partir desse círculo cromático classificaram-se as harmonias, por exemplo. Estas seriam consoantes, dissonantes e assonantes. (No pensamento plástico como a cor pode ser assonante ou neutra, vale dizer, uma não-cor?). Essas harmonias consideram uma mentalidade quantitativa, ou seja, explicam-se considerando ritmo como recorrência pressentida, que é racional e a cor ficando subordinada às formas. E assim bem longe do que Cézanne nos adverte: “Na natureza tudo está colorido.” A partir do círculo cromático absoluto ficamos presos à lógica aristotélica. Ou seja, à lógica do terceiro excluído, lógica esta que afirma que uma coisa não pode ser verdadeira e falsa simultaneamente.  Esse círculo excluiu o que hoje nos é familiar, as incertezas.
 Assim, fugindo deste aprisionamento, nos meus estudos descartei o círculo cromático que classifica as cores em primárias e secundárias. Descartando-se o círculo cromático absoluto, como, parece-me, também o fez Cézanne, passamos a considerar um terceiro termo. A dimensão espaço-temporal da cor, pelo rompimento do tom, nos permite entender o cinza sempiterno como um pré ou pós-fenômeno. Vale dizer, um cinza que não existe, mas que se manifesta na natureza. Isso nos aproxima a cor e o colorido da lógica do terceiro incluído, sendo o terceiro um termo que se refere às diversas dimensões embutidas na fecha do tempo como informação.
 Escrevi um livro intitulado A Cor e o Cinza  utilizando-me, é claro, da linguagem verbal Nele refiro-me ao conflito entre a percepção sensível e a linguagem. Neste livro, para reforçar a disparidade entre a cor e o nome que lhe damos, cito o filósofo Mário Guerreiro, que diz:
 “Sim, pois onde estão as cores puras no mundo percebido? Na verdade, elas pertencem ao mundo nomeável, mas esse mundo nomeado reparte o mundo percebido e o organiza de acordo com essa coisa enigmática que é o critério de relevância implícito na língua estruturada. Parece que se abre um abismo entre a percepção sensível e a linguagem, entre as qualidades percebidas e as qualidades nomeáveis, mas ficamos em dúvida se deveríamos concordar com a idéia de que o percebido só se faz passando pelo crivo na nomeação, como se a linguagem estivesse filtrando a percepção, canalizando-a no sentido de só poder captar certos padrões em detrimento de outros. Com certeza este é um problema que teria de ser colocado para uma fenomenologia, onde uma incursão nos domínios da pintura seria, certamente, bastante esclarecedora.”
 Nesse sentido, podemos fazer com que haja uma convivência entre a percepção sensível e a linguagem verbal. Neste caso, consideramos a cor abstrata substantiva, que subsiste por si mesma na medida em que sua substância não se altera, é nomeável e é uma idéia platônica, e a cor concreta adjetiva, cuja condição é ser no colorido e está sempre se rompendo, possuindo uma dimensão temporal. Podemos, assim, lidar simultaneamente tanto com a percepção sensível e a linguagem verbal.
 Procurei através do estudo das questões que os pintores discutiram chegar ao pensamento plástico. Apoiei-me em Poussin que se refere a um ver prospectivo, além de outro que considera apenas o aspecto dos objetos. Por esse olhar prospectivo Poussin  considera o saber do olho, os eixos visuais e as diversas distâncias. Braque diz que explicar uma coisa é substituir a coisa pela explicação. No meu livro caí, em parte, nessa sutil observação. Acabei substituindo a coisa pela explicação. Só me foi possível fugir desse impasse nas aulas, nas quais procurava um desenvolvimento do pensamento plástico no qual substitui a explicação pelo ato poético ao mostrar aos alunos a possibilidade de se ver prospectivamente.  O ato de olhar permite a experimentação e, obviamente, o ato poético, criativo, etc.
 Estudei, sobretudo, a obra de Cézanne que afirmou que a luz não existe para o pintor, e, conseqüentemente, tem que ser substituída por uma outra coisa, a cor. Portanto o mestre de Aix não se interessou pelo cromatismo impressionista. Disse mais ainda, que somente um cinza reina na natureza dificílimo de alcançar. Não se trata obviamente de um cinza baseado na mistura do branco com o preto, pois esse não oferece nenhuma dificuldade. Digo que Cézanne nos preparou para pensar no cinza sempiterno, como passei a denominá-lo.
 Cabe enfatizar, que o cinza sempiterno não existe. É um pré ou pós fenômeno. Acrescento agora que ele não é objetivo na medida em que não é um fenômeno. Talvez seja apenas uma lógica. E mais, talvez nos faça compreender Cézanne quando ele afirma que a arte é uma religião. Ele, o cinza sempiterno, se manifesta na natureza. Será que podemos afirmar que essa manifestação pode nos levar a considerá-lo como uma manifestação de uma das faces de Deus?
 Além dessas questões, incluiu-se na lógica da cor a questão do serpenteamento vinciano. Leonardo no Tratado da Pintura diz que devemos observar com muito cuidado os limites de qualquer corpo para julgar se suas voltas participam de curvaturas circulares e concavidades angulares, uma questão bem mais complexa do que afirmar, como se vê nas histórias das artes, que ele introduziu na pintura o esfumato. Este é apenas um procedimento e não uma questão teórica.
 Sobre esta questão vale citar a famosa frase de Cézanne na qual ele reforça que tratar a natureza através do cone, esfera e cilindro não implica em uma geometrização considerando esses sólidos geométricos como os que possibilitam a construção do espaço pictórico tomando-os como formas históricas da construção deste espaço. Além do mais Cézanne afirmava que queria chegar à perspectiva unicamente pela cor. Interessante é que podemos compreender a afirmação de Duchamp na qual diz que o cubismo tem inicio em Cézanne, e passa pelo fauvismo, (em minha opinião, sobretudo por Braque).
 Consideraríamos a geometria dos fractais, e novamente o cinza sempiterno, que estaria presente tanto no todo como nas partes. Assim em uma fração teríamos também um elemento contido no todo, no caso, o cinza sempiterno. Daí poder-se dizer que as partes são maiores que o todo. Consideraríamos, também, a teoria do caos, e a partir daí pensaríamos no processo contínuo de organização e desorganização quando estados de entropia máxima são observados, o que metaforicamente nos levaria a considerar a questão de vida, morte e ressurreição.
 Tudo isso nos permite realmente pensarmos em uma geometria das cores considerando-se entre outras a topologia na qual, além das transformações e deformações contínuas, o cinza sempiterno seria uma fronteira. Ou na geometria dos fractais e novamente aquele cinza lhe dá consistência.
 Podemos imaginar também que essas surdas questões pertinentes ao pensamento plástico e, por extensão, às artes visuais, poderão, talvez, ser mais bem compreendidas pelas geometrias que hão de vir. Como, por exemplo, uma geometria das cores.
 De resto há que se ter paciência.
  José Maria Dias da Cruz - Março de 2011

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Resposta a Guilherme Bueno


Resposta a Guilherme Bueno


Certa ocasião há uns três anos, o crítico Guilherme Bueno me perguntou: que cor nos envelopa?
Tentarei agora responder.
Creio que somos envelopados pelo cinza sempiterno. Este é um pré ou pós fenômeno, as cores para ele convergem e divergem.  É um ponto, não possui nenhuma dimensão, mas é potencialmente ativo, dele podem surgir todas as cores de um determinado colorido, este então como um fenômeno.  E cada cor possui seu exclusivo cinza sempiterno assim como seus respectivos rompimentos. Um colorido é uma seção do espaço, ou uma fração deste, e seus cinzas sempiternos nos são  interditado, assim como o cinza onipresente. Imagináveis ou inimagináveis. Por consequência também nos é interditado um colorido total. Desta forma creio em uma aproximação com as questões cromáticas da geometria dos fractais.
Cézanne nos diz que entre o objeto (o quadro) e o pintor se interpõe um plano, a atmosfera. Podemos então afirmar que ora estamos dentro desse espaço, que é gerado tanto pelas cores com seus respectivos cinzas sempiternos, como o do próprio colorido pelos contraste, convivência e a dinâmica entre as cores que o conformam. Aqui outra aproximação: a do espaço plástico com a topologia. Há uma fronteira entre a atmosfera gerada à frente do quadro com o espaço no qual nos orientamos.
Dessa forma podemos afirmar que ora estamos dentro da atmosfera gerada pelo quadro ou fora dele, ou seja, no espaço no qual nos orientamos. No primeiro caso estamos envelopados pelo cinza sempiterno – ou pelas cores nele contidos – cinza este gerado pelo colorido do quadro. No segundo caso estamos envelopados pelo colorido do espaço no qual nos orientamos no qual também se manifesta um cinza sempiterno.
Será que podemos dizer que se estivermos envelopados pelo cinza sempiterno que se manifesta no quadro a nossa natureza se manifesta? E se no espaço no qual nos orientamos simultaneamente na natureza em si? Afinal Cézanne quando questionado por Émile Bernard sobre qual natureza se referia respondeu: “A minha natureza e a natureza em si.”
Agora uns adendos (excluímos a palavra conclusão).
Se me perguntarem se sou religioso diria que sou ateu. Mas se me perguntassem se acredito de deus diria sim na medida em que é uma lógica e esta só em uma parte me é acessível. Afinal, como dizia Einstein, deus não joga dados. Mais uma vez vale relembrar Cézanne quando ele afirmou que “a arte é uma religião.” Referriu-se também uma lógica nada absurda.
Segundo: será que todas essas observações podem nos levar a pensar em uma geometria das cores, embora não tenhamos ainda uma equação para comprová-la? Talvez seja oportuno citarmos dois artistas. Um deles Braque quando ele diz que “explicar uma coisa é substituir a coisa pela explicação.” O outro Barnett Newmann quando ele afirma que “a arte está para a teoria assim como o pássaro está para a ornitologia.”
Para interromper (excluo aqui a palavra terminar) cito agora uma frase de Philippe Sollers retirada do livro O paraíso de Cézanne, na qual o autor faz uma referência a um dos conceitos de tempo comum dos gregos, o aión: “Qual é o tempo de Cézanne?”
Outra do próprio Cézanne: “Não obstante a natureza é bela.”

José Maria Dias da Cruz
Florianópolis, abril de 2012.