sábado, 27 de abril de 2013

O cinza e o sempiterno serpenteamento.



O cinza e o sempiterno serpenteamento.

Amanhece, o céu se esclarece.
Armando Freitas Filho

  Começo este texto com duas citações de Paul Klee que se completam: “O pintor torna visível.” “O crepúsculo incerto do centro.”

  Um desaparecer gradativo ou não. Não há certezas. Não há como se estabelecer um  romportamento linear para os fenômenos cromáticos. A cor é enigmática.

  Ao rompermos um tom sua tonalidade vai mudando em direção de sua oposta, mas o percurso é interrompido .

  Primeiro tem-se que entender o rompimento do tom. Segue um desenho no qual mostro como se dá se dá. Se observarmos o tom azul fixamente surgirá sua oposta, um amarelado. Quanto maior o tempo de observação mais acinzentado fica o rompimento. Há um momento que o tom não mais se rompe. A pós-imagem pode permanecer na nossa visão por um grande tempo (ver as observações de Goethe). Há, contudo, um retorno ao azul inicial,
  Portanto, há um limite nesse rompimento, ou seja, não é possível se observar todo o trajeto até sua oposta, muito embora podemos figurá-lo. Ou seja, um trajeto do tom até sua oposta passando por um ponto central, o cinza sempiterno.
Azul -->Tom rompido--cinza sempiterno --tom rompido <--Amarelo
 Na observação temos o seguinte: O trajeto de um tom até o limite de seu rompimento é visível. Do outro lado o trajeto do amarelo alaranjado até o limite do rompimento tbm é visível. Além de um e outro na realidade é uma zona invisível. 
Az--Zona visível--Tom rompido--cinza sempiterno--Tom rompido--zona visível-- Amarelo/
                                       (-------Zona invisível-----)
  O cinza sempiterno sendo um ponto, não possui nenhuma dimensão, é um não lugar e um não tempo.
  Mas Cézanne diz que somente ele reina na natureza e alcançá-lo é de uma dificuldade espantosa. O cinza, então, se manifesta na natureza pelo fato das cores estarem sempre se rompendo. 
  Nesse caso um cinza sempierno, por contraste, ao lado do azul torna-se amarelado e ao lado do amarelo se torna azulado. Já não podemos ver o cinza como ele mesmo.
  Azul– cinza sempiterno (amarelado)  amarelo      Amarelo – cinza sempiterno (azulado)
  1 - Ao lado do azul: azul--cz amarelado 
  2 – Ao lado do amarelo: amarelo – cinza azulado
  3 - Azul-- rompimento—cinza sempiterno--rompimento -- amarelo
  Há, portanto, uma oscilação entre o cinza amarelado e o cinza azulado, ou um serpenteamento. Como o cinza se manifesta em toda a natureza, ele está sempre serpenteando, e assim animando o espaço plástico. Daí ter definido as cores como abstratas substantivas, que subsistem por si mesmo, e é uma idéia abstrata. E a cor concreta adjetiva, que está sempre se rompendo e sua condição é ser no colorido.




 
 

Visibilidade e invisibilidade



VISIBILIDADE E INVISIBILIDADE

  Ao rompermos um tom sua tonalidade muda em direção a sua oposta. Mas não há como tornar visíveis o cinza sempiterno e o serpenteamento que dele decorrem no sentido de animar o espaço plástico antes de se tornarem fenômenos cromáticos, porque se situam nessa área de não visibilidade. Tornam-se visíveis, e fenômenos, apenas quando se manifestarem na natureza, mas tanto um quanto outro se nos mostram como outros níveis de realidade.  Como pós ou pré-fenômenos nos são interditados. Isto não nos impede, entretanto, de nosso pensamento construir a lógica que os regem e de até permitir uma figuração esquemática. Aproximamos, assim, da lógica do terceiro incluído. Seguindo o pensamento de Wittgenstein diremos também que essa lógica não esclarece o enigma.

  Podemos agora afirmar que a visibilidade não é permanente, mas um processo de visibilidade e não visibilidade, uma e outra com suas lógicas próprias e interdependentes que criam uma terceira lógica. Esta minha tomada de posição, acredito, confirma o que penso: a teoria antecedendo a experimentação como uma metodologia. E também permitindo  outra percepção da arte conceitual. Antes do conceito e a realização, a lógica que rege a obra.

  Para uma compreensão do que  pretendo mostrar transcrevo aqui uma citação do Biólogo Henry Atlan retirada de seu livro, Entre o Cristal e a Fumaça, Editora Zahar, Rio de Janeiro.

[...] a organização dos seres vivos não é estática, nem tampouco um processo que se oponha a forças e desorganização. Mas antes um processo de desorganização permanente seguida de reorganização, com o aparecimento de propriedades novas, quando a desorganização pode ser suportada e não mata o sistema. Em outras palavras, a morte do sistema faz parte da vida, não apenas por sob a forma de uma potencialidade dialética, mas como uma parte intrínseca de seu funcionamento e sua evolução: sem perturbações ao acaso, sem desorganização, não há reorganização adaptativa ao novo; sem um processo de morte controlada, não há processo de vida.



Poemas para projetor de Elaine auvolid



POEMAS PARA PROJETOR DE ELAINE PAUVOLID





Elaine
Para mim essa consciência de um espaço plástico que você consegue é realmente  muito importante. Veja, costumo dizer que, se temos um suporte (uma tela, uma folha de papel, etc.), e se nelas cinscuscrevemos algo, ela deixa de ser apenas o suporte e passa a ser um suporte de uma consciência de um espaço plástico. Mas temos algo anterior (ou entre um e outro), quando o suporte apenas deixa de sê-lo e ainda não é o de uma consciência de um espaço plástico. Seria um pós ou pré-fenômeno? Pré por ser anterior ao suporte de uma consciência de um espaço. Pós por ser posterior a apenas o suporte. Nesse outro espaço onde tudo isso ocorre será que podemos afirmar que é o local do silêncio, da ausência e, simultaneamente, o local de uma possibilidade de ruído e presença? Um paradoxo na medida em que é um vazio cheio? Uma outra lógica, a do terceiro incluído? A possibilidade de um poema? Me parece que sim.
Mas você vai além com a  anulação das margens do suporte. Isso certamente pelo poder de concentração das palavras por serem também geradoras de idéias, ou em última análise, de pensamentos (ou possibilidade de pensamentos?).
Parece-me que todas esses acontecimentos já carregam em si uma carga poética que explode com o poema PA LA RA com a curiosa ausência (ou a invisibilidade e silêncio) do V.
E agora, com esses poemas projetados? A mesma coisa se repetindo em outros espaços?
Seja o que for, uma bela junção entre poesia e pintura. Parabéns.
Vínhamos conversando sobre isso e creio que estamos conseguindo dar alguns passos. Eu com os meus não tão largos como os seus.

Bjs
Jm


Silvana Jussara Szlágvi - Alquimía



Um quadro de Silvana Jussara Szlágvi

 

  Nesse quadro de Silvana Jussara Szlágvi intitulado Alquimia observa-se como são muitos os procedimentos que possibilitam uma passagem do suporte para uma consciência de um espaço plástico. Ou melhor, aquele momento em que o suporte deixa de ser o suporte e passa a ser o suporte da possibilidade de uma consciência de um espaço plástico e que, por isso, não sendo ainda nenhum e nem outro, pode ser testemunhado como um pré ou pós-fenômeno. Na ocorrência do fenômeno, quando a pintura se materializa, os contrastes se manifestam. Não somente os contrastes de coisas - cores e formas visíveis -, mas também o que essa visibilidade permite, através do pensamento plástico, ou seja, de um entendimento para quem a tudo testemunha da manifestação, entre outras coisas, do serpenteamento que anima o espaço plástico. Para que haja um contraste tem que haver uma coisa e outra e assim pode surgir no quadro, se bem executado, uma oscilação que dá origem ao serpenteamento. Essa oscilação se inicia no momento no qual há a passagem do nada (o zero?) para o todo.  O serpenteamento permite a quem testemunha esse fato pictórico ver pelos intervalos. Por exemplo, entre as formas engendradas pelo vermelho e pelo azul, pelos claros e escuros, pelo vermelho e seu rompimento, pelo tratamento das bordas e muito mais.
  Assim Silvana mostra, seguindo o que Leonardo aconselha, como não matar sua pintura por uma segunda vez.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Anotações sobre o cinza sempiterno e o serpenteamento



Anotações sobre o cinza sempiterno e o serpenteamento

  Inicío este texto com duas citações de Paul Klee que se completam: “O
pintor torna visível.” “O crepúsculo incerto do centro.” (Lugar onde se dá a passagem?)
  Um desaparecer gradativo ou não. Não há certezas. Não  há como se estabelecer um comportamento linear para os fenômenos cromáticos. A cor é enigmática.

 Ao rompermos um tom sua tonalidade vai mudando  em direção a sua
oposta, mas o percurso é interrompido.
 Primeiro tem-se que entender o rompimento do tom. Observando-se um tom ele vai se rompendo por ação da pós imagem, Quanto mais tempo observarmos, mas o rompimento se acinzenta. Ocorre q há um limite nesse rompimento, ou seja, não é possível se observar todo o trajeto até sua oposta, muito embora podemos figurá-lo, ou seja, um trajeto do tom até sua oposta passando por um ponto central.
Azul --- tom rompido---cinza sempiterno---tom rompido---amarelo
  Na observação temos o seguinte: o trajeto de um tom até o limite de seu rompimento é visível. Do outro lado o trajeto do amarelo alaranjado até o limite do rompimento também é visível. Além de um e outro é uma zona invisível. 
Azul----Zona visível---tom rompido
Amarelo --- zona visível --- tom rompido
Tom rompido--- Zona invisível --- tom rompido
  O cinza sempiterno  sendo um ponto, não possui nenhuma dimensão, é um não lugar e um não tempo.
 Mas Cézanne diz q somente ele reina na natureza e alcançá-lo é de uma dificuldade espantosa. O cinza então se manifesta na natureza pelo fato das cores estarem sempre se rompendo. 
  Nesse caso um cinza sempiterno, por contraste e por interação, ao lado do azul torna-se amarelado e ao lado do amarelo se torna azulado. Não podemos ver o cinza como ele mesmo.
 Az – cinza sempiterno (amarelado)
Am – cinza sempiterno (azulado)
  Se figurarmos temos o seguinte gráfico
Ao lado do azul
Azul ---- cinza amarelado    
Ao lado de um amarelo
Amarelo ---- cinza/azulado


  Há, portanto, uma oscilação entre o cinza amarelado e o cinza azulado quando do vistos lado a lado, ou um serpenteamento. Como o cinza se manifesta em toda a natureza, ele está sempre serpenteando, e assim animando o espaço plástico quando da transposição para o quadro.  Cabe ao pintor, como nos adverte Leonardo, quando da transposição, evitar uma segunda morte da pintura Diz Leonardo q qdo o pintor transpõe para a tela cenas da natureza , mata-a pela primeira vez. E eu interpreto-o afirmando q o cinza sempiterno anima a pintura,
  Define-se a cor como abstratas substantiva, que subsistem por si mesma e, assim, é uma idéia abstrata. E a cor concreta adjetiva, que está sempre se rompendo e, assim, sua condição é ser no colorido.
  Não há como tornar visíveis o cinza sempiterno e o serpentaeamentodele decorre no sentido de animar o espaço plástico antes de se tornarem fenômenos cromáticos porque se situam naquela área de não visibilidade.
  Se todas as cores concretas adjetivas de um colorido ao se romperem se encaminham para um cinza, temos q todas as cores estão potencialmente contidas no cinza sempiterno. Um colorido assim é, como nos adverte Cézanne, uma seção do espaço. Cada colorido tem seu próprio cinza sempiterno. Daí podemos dizer que o cinza sempiterno é um pré ou pós-fenômeno, já que ele é um não lugar e um não tempo. Torna-se um fenômeno quando do se manifesta na natureza.
  Como nos é interditado todos os coloridos diremos que há um cinza onipresente. E esse sempre invisível.

  Tornam-se visíveis, e fenômenos, apenas quando se manifestam na natureza, mas tanto um quanto outro se nos mostram como outros níveis de realidade.  Como pós ou pré-fenômenos nos são interditados. Isto não nos impede, entretanto, de nosso pensamento construir a lógica que os regem e de até permitir uma figuração esquemática. Aproximamo-nos, assim,
da lógica do terceiro incluído. Seguindo o pensamento de Wittgenstein diremos também que essa lógica não esclarece o enigma.

 Podemos agora afirmar que a visibilidade não é permanente, mas um processo de visibilidade e não visibilidade, uma e outra com suas lógicas próprias e interdependentes que criam uma terceira lógica. Esta minha tomada de posição, acredito, confirma o que penso: a teoria antecedendo a experimentação como uma metodologia. E também permitindo  outra percepção da arte conceitual. Antes do conceito e a realização, a lógica que rege a obra. Pintar, côo observou  Elaine Pauvolid, é bem mais uma questão do saber do olho do que só perceção.

  Para uma compreensão do que  pretendo mostrar transcrevo aqui uma citação do Biólogo Henry Atlan retirada de seu livro, Entre o Cristal e a Fumaça, Editora Zahar, Rio de Janeiro.

  [...] a organização dos seres vivos não é estática, nem tampouco um processo que se oponha a forças e desorganização. Mas antes um processo de desorganização permanente seguida de reorganização, com o aparecimento de propriedades novas, quando a desorganização pode ser
suportada e não mata o sistema. Em outras palavras, a morte do sistema faz parte da vida, não apenas por sob a forma de uma potencialidade dialética, mas como uma parte intrínseca de seu funcionamento e sua evolução: sem perturbações ao acaso, sem desorganização, não há
reorganização adaptativa ao novo; sem um processo de morte controlada,
não há processo de vida.