Anotações sobre o cinza sempiterno e o
serpenteamento
Inicío este
texto com duas citações de Paul Klee que se completam: “O
pintor torna visível.” “O crepúsculo incerto do centro.” (Lugar onde se dá a passagem?)
pintor torna visível.” “O crepúsculo incerto do centro.” (Lugar onde se dá a passagem?)
Um desaparecer
gradativo ou não. Não há certezas. Não há como se estabelecer um comportamento linear
para os fenômenos cromáticos. A cor é enigmática.
Ao rompermos um tom sua tonalidade vai mudando em direção a sua
oposta, mas o percurso é interrompido.
Ao rompermos um tom sua tonalidade vai mudando em direção a sua
oposta, mas o percurso é interrompido.
Primeiro
tem-se que entender o rompimento do tom. Observando-se um tom ele vai se
rompendo por ação da pós imagem, Quanto mais tempo observarmos, mas o
rompimento se acinzenta. Ocorre q há um limite nesse rompimento, ou seja, não é
possível se observar todo o trajeto até sua oposta, muito embora podemos
figurá-lo, ou seja, um trajeto do tom até sua oposta passando por um ponto
central.
Azul --- tom rompido---cinza sempiterno---tom rompido---amarelo
Na observação temos o seguinte: o trajeto de
um tom até o limite de seu rompimento é visível. Do outro lado o trajeto do
amarelo alaranjado até o limite do rompimento também é visível. Além de um e
outro é uma zona invisível.
Azul----Zona visível---tom rompido
Amarelo --- zona visível --- tom rompido
Tom rompido--- Zona invisível --- tom rompido
O cinza
sempiterno sendo um ponto, não possui
nenhuma dimensão, é um não lugar e um não tempo.
Mas Cézanne
diz q somente ele reina na natureza e alcançá-lo é de uma dificuldade
espantosa. O cinza então se manifesta na natureza pelo fato das cores estarem
sempre se rompendo.
Nesse caso
um cinza sempiterno, por contraste e por interação, ao lado do azul torna-se
amarelado e ao lado do amarelo se torna azulado. Não podemos ver o cinza como ele
mesmo.
Az – cinza
sempiterno (amarelado)
Am – cinza sempiterno (azulado)
Se
figurarmos temos o seguinte gráfico
Ao lado do azul
Azul ---- cinza amarelado
Ao lado de um amarelo
Amarelo ---- cinza/azulado
Há,
portanto, uma oscilação entre o cinza amarelado e o cinza azulado quando do
vistos lado a lado, ou um serpenteamento. Como o cinza se manifesta em toda a
natureza, ele está sempre serpenteando, e assim animando o espaço plástico quando
da transposição para o quadro. Cabe ao
pintor, como nos adverte Leonardo, quando da transposição, evitar uma segunda
morte da pintura Diz Leonardo q qdo o pintor transpõe para a tela cenas da
natureza , mata-a pela primeira vez. E eu interpreto-o afirmando q o cinza sempiterno
anima a pintura,
Define-se a
cor como abstratas substantiva, que subsistem por si mesma e, assim, é uma
idéia abstrata. E a cor concreta adjetiva, que está sempre se rompendo e,
assim, sua condição é ser no colorido.
Não há como
tornar visíveis o cinza sempiterno e o serpentaeamentodele decorre no sentido
de animar o espaço plástico antes de se tornarem fenômenos cromáticos porque se
situam naquela área de não visibilidade.
Se todas as
cores concretas adjetivas de um colorido ao se romperem se encaminham para um cinza,
temos q todas as cores estão potencialmente contidas no cinza sempiterno. Um
colorido assim é, como nos adverte Cézanne, uma seção do espaço. Cada colorido
tem seu próprio cinza sempiterno. Daí podemos dizer que o cinza sempiterno é um
pré ou pós-fenômeno, já que ele é um não lugar e um não tempo. Torna-se um
fenômeno quando do se manifesta na natureza.
Como nos é
interditado todos os coloridos diremos que há um cinza onipresente. E esse
sempre invisível.
Tornam-se visíveis, e fenômenos, apenas quando se manifestam na natureza, mas tanto um quanto outro se nos mostram como outros níveis de realidade. Como pós ou pré-fenômenos nos são interditados. Isto não nos impede, entretanto, de nosso pensamento construir a lógica que os regem e de até permitir uma figuração esquemática. Aproximamo-nos, assim,
da lógica do terceiro incluído. Seguindo o pensamento de Wittgenstein diremos também que essa lógica não esclarece o enigma.
Podemos agora afirmar que a visibilidade não é permanente, mas um processo de visibilidade e não visibilidade, uma e outra com suas lógicas próprias e interdependentes que criam uma terceira lógica. Esta minha tomada de posição, acredito, confirma o que penso: a teoria antecedendo a experimentação como uma metodologia. E também permitindo outra percepção da arte conceitual. Antes do conceito e a realização, a lógica que rege a obra. Pintar, côo observou Elaine Pauvolid, é bem mais uma questão do saber do olho do que só perceção.
Para uma compreensão do que pretendo mostrar transcrevo aqui uma citação do Biólogo Henry Atlan retirada de seu livro, Entre o Cristal e a Fumaça, Editora Zahar, Rio de Janeiro.
[...] a organização dos seres vivos não é estática, nem tampouco um processo que se oponha a forças e desorganização. Mas antes um processo de desorganização permanente seguida de reorganização, com o aparecimento de propriedades novas, quando a desorganização pode ser
suportada e não mata o sistema. Em outras palavras, a morte do sistema faz parte da vida, não apenas por sob a forma de uma potencialidade dialética, mas como uma parte intrínseca de seu funcionamento e sua evolução: sem perturbações ao acaso, sem desorganização, não há
reorganização adaptativa ao novo; sem um processo de morte controlada,
não há processo de vida.
Tornam-se visíveis, e fenômenos, apenas quando se manifestam na natureza, mas tanto um quanto outro se nos mostram como outros níveis de realidade. Como pós ou pré-fenômenos nos são interditados. Isto não nos impede, entretanto, de nosso pensamento construir a lógica que os regem e de até permitir uma figuração esquemática. Aproximamo-nos, assim,
da lógica do terceiro incluído. Seguindo o pensamento de Wittgenstein diremos também que essa lógica não esclarece o enigma.
Podemos agora afirmar que a visibilidade não é permanente, mas um processo de visibilidade e não visibilidade, uma e outra com suas lógicas próprias e interdependentes que criam uma terceira lógica. Esta minha tomada de posição, acredito, confirma o que penso: a teoria antecedendo a experimentação como uma metodologia. E também permitindo outra percepção da arte conceitual. Antes do conceito e a realização, a lógica que rege a obra. Pintar, côo observou Elaine Pauvolid, é bem mais uma questão do saber do olho do que só perceção.
Para uma compreensão do que pretendo mostrar transcrevo aqui uma citação do Biólogo Henry Atlan retirada de seu livro, Entre o Cristal e a Fumaça, Editora Zahar, Rio de Janeiro.
[...] a organização dos seres vivos não é estática, nem tampouco um processo que se oponha a forças e desorganização. Mas antes um processo de desorganização permanente seguida de reorganização, com o aparecimento de propriedades novas, quando a desorganização pode ser
suportada e não mata o sistema. Em outras palavras, a morte do sistema faz parte da vida, não apenas por sob a forma de uma potencialidade dialética, mas como uma parte intrínseca de seu funcionamento e sua evolução: sem perturbações ao acaso, sem desorganização, não há
reorganização adaptativa ao novo; sem um processo de morte controlada,
não há processo de vida.
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