quinta-feira, 3 de maio de 2012

Resposta a Guilherme Bueno


Resposta a Guilherme Bueno


Certa ocasião há uns três anos, o crítico Guilherme Bueno me perguntou: que cor nos envelopa?
Tentarei agora responder.
Creio que somos envelopados pelo cinza sempiterno. Este é um pré ou pós fenômeno, as cores para ele convergem e divergem.  É um ponto, não possui nenhuma dimensão, mas é potencialmente ativo, dele podem surgir todas as cores de um determinado colorido, este então como um fenômeno.  E cada cor possui seu exclusivo cinza sempiterno assim como seus respectivos rompimentos. Um colorido é uma seção do espaço, ou uma fração deste, e seus cinzas sempiternos nos são  interditado, assim como o cinza onipresente. Imagináveis ou inimagináveis. Por consequência também nos é interditado um colorido total. Desta forma creio em uma aproximação com as questões cromáticas da geometria dos fractais.
Cézanne nos diz que entre o objeto (o quadro) e o pintor se interpõe um plano, a atmosfera. Podemos então afirmar que ora estamos dentro desse espaço, que é gerado tanto pelas cores com seus respectivos cinzas sempiternos, como o do próprio colorido pelos contraste, convivência e a dinâmica entre as cores que o conformam. Aqui outra aproximação: a do espaço plástico com a topologia. Há uma fronteira entre a atmosfera gerada à frente do quadro com o espaço no qual nos orientamos.
Dessa forma podemos afirmar que ora estamos dentro da atmosfera gerada pelo quadro ou fora dele, ou seja, no espaço no qual nos orientamos. No primeiro caso estamos envelopados pelo cinza sempiterno – ou pelas cores nele contidos – cinza este gerado pelo colorido do quadro. No segundo caso estamos envelopados pelo colorido do espaço no qual nos orientamos no qual também se manifesta um cinza sempiterno.
Será que podemos dizer que se estivermos envelopados pelo cinza sempiterno que se manifesta no quadro a nossa natureza se manifesta? E se no espaço no qual nos orientamos simultaneamente na natureza em si? Afinal Cézanne quando questionado por Émile Bernard sobre qual natureza se referia respondeu: “A minha natureza e a natureza em si.”
Agora uns adendos (excluímos a palavra conclusão).
Se me perguntarem se sou religioso diria que sou ateu. Mas se me perguntassem se acredito de deus diria sim na medida em que é uma lógica e esta só em uma parte me é acessível. Afinal, como dizia Einstein, deus não joga dados. Mais uma vez vale relembrar Cézanne quando ele afirmou que “a arte é uma religião.” Referriu-se também uma lógica nada absurda.
Segundo: será que todas essas observações podem nos levar a pensar em uma geometria das cores, embora não tenhamos ainda uma equação para comprová-la? Talvez seja oportuno citarmos dois artistas. Um deles Braque quando ele diz que “explicar uma coisa é substituir a coisa pela explicação.” O outro Barnett Newmann quando ele afirma que “a arte está para a teoria assim como o pássaro está para a ornitologia.”
Para interromper (excluo aqui a palavra terminar) cito agora uma frase de Philippe Sollers retirada do livro O paraíso de Cézanne, na qual o autor faz uma referência a um dos conceitos de tempo comum dos gregos, o aión: “Qual é o tempo de Cézanne?”
Outra do próprio Cézanne: “Não obstante a natureza é bela.”

José Maria Dias da Cruz
Florianópolis, abril de 2012.

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