sábado, 15 de junho de 2013

Cezanne, Degas, O centro inexplicável e a Fronteira entre os espeços imediato e mediato.



Degas

Cézanne


Rilke, Cézanne, Elaine Pauvolid e José Maria Dias da Cruz


Espaços Topológicos



O centro inexplicável

    Em uma anotação anterior referimo-nos a um pastel de
Degas. Falamos do centro do quadro, de um outro centro, o da
personagem, etc. Os centros eram visíveis. Em Cézanne, temos o
seguinte: centros são também os cinzas, como ele diz, reinando em
toda a natureza e dificílimos de se alcançar. Esses cinzas ou centros
não existem, manifestam-se na natureza e Cézanne os transpõe para
seus quadros, e estes não representam uma artificialidade, mas nos
permitem perceber uma secção do espaço, como ele nos diz.
Importante é entendermos a ideia de Cézanne no sentido da
composição. Ele diz: “Fazer um quadro é compor.” Composição, para
Cézanne, implicava na criação de uma lógica própria. Creio que não
se trata de estabelecer primeiramente uma estrutura geométrica qualquer
a partir das leis da proporção. Braque foi sutil quando afirmou
que Cézanne não construiu, ele fundou. Continua afirmando que o
mestre não reunia elementos homogêneos, mas heterogêneos. Daí
entendermos porque Cézanne enfatizava tanto o estudo direto da
Natureza e seu interesse pelos contrastes. Há a bem conhecida frase
em que ele se refere aos cones, às esferas e aos cilindros. Cézanne não
os toma como objetos homogêneos, concebidos a priori, mas dentro
de um espaço potencializado pelos cinzas sempiternos, e que se
contrastam continuamente por essa potencialização. Não são formas
históricas da construção do espaço, como pretendeu um crítico, mas
transformações e deformações contínuas das superfícies desses sólidos
geométricos em um “ecran” que nos permite perceber as várias dimensões
temporais e espaciais. Percebemos também um espaço curvo.
Cézanne afirmou: “Os corpos no espaço são todos convexos.”

    Dentro dessa abordagem podemos então afirmar que são
muitos os centros, e estes nunca são pontos ideais e fixos. Cézanne
fala das pequenas sensações. Há sempre a possibilidade de uma
delas vir para o primeiro plano de percepção e realidade, e as outras
ocuparem outros planos. E há a possibilidade de qualquer uma
dessas se movimentarem, criando outros níveis de realidade e percepção,
de tal ordem que podemos dizer que o espaço cezanneano é
simultaneamente sincrético e analítico. Não há, pois, como explicar
o inexplicável. Resta-nos, então, mas uma vez lembrarmo-nos de
Sísifo, o mito do impossível.

    Temos muito que pensar para entender um espaço topológico
na obra de Cézanne. A frase do mestre “Entre o quadro e o pintor
se interpõe um plano, a atmosfera” é bastante enigmática, pois esse
plano é gerado pelos coloridos, e estes, como já vimos, também
são enigmáticos.

    Quase mágico é também constatarmos como Cézanne, partindo
do enigmático – as cores –, conseguiu nos mostrar vários níveis
de percepção e realidade. O mestre sempre falava em realização. O
enigmático, pela lógica do cinza sempiterno e do terceiro incluído,
são levados, respectivamente, para o infinito ou para a zona da
transparência absoluta, que, como já vimos, nos são interditados.

A fronteira entre os espaços imediato e mediato

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