Depois de muito agonizar, o Museu de A Cataguases fechou.
Transcrevo um trecho de uma crônica de Carlos Drummond de Andrade de dezembro de 1977
Sobre Museus, coitados
Em matéria de museus, parece que os temos em vários Estados, desde o museu com rachaduras até o museu depositado, como é o caso do de Cataguases. Ainda agora, o pintor José Maria Dias da Cruz conta o que aconteceu com a instituição fundada ali por seu pai, o nosso querido Marques Rebelo
Marques Rebelo foi um homem nascido antes de seu tempo, tempo ainda por surgir em que as belas ideias frutifiquem num ambiente propício, de compreensão geral. Escritor que se preocupava muito com o alargamento da visão literária, pelo convívio com as artes plásticas, seu sonho era espalhar museus vivos de arte moderna pelos municípios brasileiros, carentes de toda informação estética. Queria civilizar, iluminar a vida vegetativa e triste do interior brasileiro. Em Cataguases, contando, com o apoio de Francisco Inácio Peixoto, achou que um museu desse tipo pegaria bem. Havia tanta vibração no ar, uma elite intelectual o prestigiava, a cidade dispunha de recursos econômicos para sustentar o empreendimento. Mas as coisas tomaram outro rumo, Marques Rebelo faleceu, até o fabuloso painel da Inconfidência pintado por Portinari, orgulho e glória de Cataguases, bateu asas e voou. Hoje - Peixoto o informa com amargura, e José Maria lhe divulga a informação - O Museu de Cataguases virou um monte de badulaques em depósito.
Sempre que sei de casos destes me lembro das organizações oficiais destinadas a promover cultura. Conselho federal, conselhos estaduais, conselhos municipais, departamento de Assuntos Culturais, Funarte. No tocante a agências culturais, não podemos nos queixar, estamos bem servidos. Resta saber se estão bem equipadas para exercer ação efetiva e eficaz, em suas diferentes áreas de jurisdição, evitando ou remediando, por exemplo, situações como de Cataguases.
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