Rosane
Franco
Algumas
anotações
“Sem título” – 2008 – óleo, acrílica, pastel e spray
s/ lona – 250 x 150 cm
Parece-me que há uma ordem no quadro
pela organização que permite pensar no espaço através de elementos gráficos ou
formas geométricas históricas do desenho considerando-se a tradição vasariana:
triângulos, uma cruz, círculos. Há, portanto, uma ordem, que se contrasta com
um processo de desordem do lado esquerdo. Temos, então, um processo dinâmico de
organização, reorganização que permite um continum. Este metafórico: vida,
morte e ressurreição.
Opondo-se à tradição vasariana
que priorizava o desenho há também várias estruturas cromáticas: à direita, ao
alto, uma unidade cromática baseada no rosa e seu oposto, um verde amarelado e
uns vermelhos rompidos. Estes permitem a passagem para outra unidade cromática,
abaixo à direita, na qual dominam vermelhos e verdes. Nos dois claros e
escuros. Do lado esquerdo, em conseqüência dessas duas estruturas, uma outra
com azuis e seus rompimentos em uma gama bem extensa.
Percebemos, entre outras coisas, uma
dinâmica entre o gráfico e o pictórico, o primeiro entendido como mais formal racional
e o segundo mais cromático e fugindo de qualquer racionalidade é enigmático.
O curioso é que me parece que com
essa estratégia o conflito entre o masculino e o feminino se evidencia dentro
da lógica do terceiro excluído. Mas você vai além. Há uma dinâmica na qual
estão presentes, simultaneamente, momentos de harmonia e desarmonia,
considerando-se esses dois conceitos como interdependentes. Vejo que você
caminha para considerar harmonia e desarmonia uma só coisa em si dinâmica. Com
isso você abandona as certezas, os valores absolutos e nos leva a refletir
sobre a lógica do terceiro incluído. O terceiro termo é a inclusão do cinza
sempiterna que se dá no tempo. Isto é, a inclusão de um terceiro termo sem
ferir o axioma da não contradição.
O que está em jogo, entretanto, não é
somente o que acima está dito. É, sobretudo, toda uma complexidade que se
ilumina com um raio poético e nos leva a pensar no enigma.
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