Email recebido de Carlos Didier comentando o que escrevi sobre o cinza sempiterno e o serpenteamento que
segue abaixo
Você procurou no par organização/desorganização do biólogo um paralelo
para o seu visível/invisível.
Embora haja, de fato, uma sintonia entre ambos, o que veio à cabeça
foi uma outra coisa: a migração das cores para uma outra dimensão. Vou
explicar, mas permita-me um salto; depois, retorno.
O grande Einstein perseguiu, a partir de determinado ponto de sua
vida, um sonho que não conseguiu concretizar: unificar todas as forças
da natureza (magnética, gravitacional, forte e fraca) numa só teoria.
Ele pensava assim: se tudo veio do big-bang, então todas as forças da
natureza podem ser explicadas numa mesma equação, numa mesma fórmula.
Mesmo sem ter êxito, era, na minha opinião, uma bela busca da
inteligência de deus. E hoje há quem pense que o "fracasso de
Einstein" tenha tido origem num fato assombroso: o desaparecimento de
uma ou mais dimensões da realidade. Isso mesmo: o impacto do big-bang
teria sido de tal ordem que provocara o sumiço de talvez mais de uma
dimensão. Sem todas as dimensões presentes na criação do universo, não
seria possível explicar pela mesma teoria todas as forças da natureza.
De volta. Este "interrompimento de percurso" e esta "área de não
visibilidade" me trouxeram à mente a possibilidade de uma dimensão
extra frequentada apenas pelas cores. Não teria você, nesta sua também
"bela busca da inteligência de deus", encontrado um vestígio das
dimensões perdidas?
Um abraço,
Carlos
para o seu visível/invisível.
Embora haja, de fato, uma sintonia entre ambos, o que veio à cabeça
foi uma outra coisa: a migração das cores para uma outra dimensão. Vou
explicar, mas permita-me um salto; depois, retorno.
O grande Einstein perseguiu, a partir de determinado ponto de sua
vida, um sonho que não conseguiu concretizar: unificar todas as forças
da natureza (magnética, gravitacional, forte e fraca) numa só teoria.
Ele pensava assim: se tudo veio do big-bang, então todas as forças da
natureza podem ser explicadas numa mesma equação, numa mesma fórmula.
Mesmo sem ter êxito, era, na minha opinião, uma bela busca da
inteligência de deus. E hoje há quem pense que o "fracasso de
Einstein" tenha tido origem num fato assombroso: o desaparecimento de
uma ou mais dimensões da realidade. Isso mesmo: o impacto do big-bang
teria sido de tal ordem que provocara o sumiço de talvez mais de uma
dimensão. Sem todas as dimensões presentes na criação do universo, não
seria possível explicar pela mesma teoria todas as forças da natureza.
De volta. Este "interrompimento de percurso" e esta "área de não
visibilidade" me trouxeram à mente a possibilidade de uma dimensão
extra frequentada apenas pelas cores. Não teria você, nesta sua também
"bela busca da inteligência de deus", encontrado um vestígio das
dimensões perdidas?
Um abraço,
Carlos
O cinza
sempiterno e o serpenteamento
Amanhece,
o sol se esclarece
Armando Freitas Filho
Inicío este texto com duas citações de Paul Klee que se completam: “O pintor torna visível.” “O crepúsculo incerto do centro.”
Ao rompermos um tom sua tonalidade vai mudando em direção a sua oposta, mas o percurso é interrompido. Assim não há como tornar visíveis o cinza sempiterno e o serpenteamento que dele decorre no sentido de animar o espaço plástico antes de se tornarem fenômenos cromáticos porque se situam nessa área de não visibilidade. Tornam-se visíveis, e fenômenos, apenas quando se manifestarem na natureza, mas tanto um quanto outro se nos mostram como um outros níveis de realidade. Como pós ou pré-fenômenos nos são interditados. Isto não nos impede, entretanto, de nosso pensamento construir a lógica que os regem
e de até permitir uma figuração esquemática. Aproximamos, assim, da lógica do terveiro incluído. Seguindo o pensamento de Wittgenstein diremos também q essa lógica não esclarece o enigma.
Podemos agora afirmar que a visibilidade não é permanente, mas um processo de visibilidade e não visibilidade, uma e outra com suas lógicas próprias e interdependentes que criam uma terceira lógica. Esta minha tomada de posição, acredito, confirma o que penso: a teoria antecedendo a experimentação como uma metodologia. E também permitindo outra percepção da arte conceitual. Antes do conceito e a realização, a lógica que rege a obra.
Para uma compreenção do que pretendo mostrar transcrevo aqui uma citação do Biólogo Henry Atlan retirada de seu livro, Entre o Cristal e a Fumaça, Editora Zahar, Rio de Janeiro.
[...] a organização dos seres vivos não é estática, nem tampouco um processo que se oponha a forças e desorganização. Mas antes um processo de desorganização permanente seguida de reorganização, com o aparecimento de propriedades novas, quando a desorganização pode ser suportada e não mata o sistema. Em outras palavras, a morte do sistema faz parte da vida, não apenas por sob a forma de uma potencialidade dialética, mas como uma parte intrínseca de seu funcionamento e sua evolução: sem perturbações ao acaso, sem desorganização, não há reorganização adaptativa ao novo; sem um processo de morte controlada, não há processo de vida.
José Maria Dias da Cruz – Florianópolis – Fevereiro de 2013
Armando Freitas Filho
Inicío este texto com duas citações de Paul Klee que se completam: “O pintor torna visível.” “O crepúsculo incerto do centro.”
Ao rompermos um tom sua tonalidade vai mudando em direção a sua oposta, mas o percurso é interrompido. Assim não há como tornar visíveis o cinza sempiterno e o serpenteamento que dele decorre no sentido de animar o espaço plástico antes de se tornarem fenômenos cromáticos porque se situam nessa área de não visibilidade. Tornam-se visíveis, e fenômenos, apenas quando se manifestarem na natureza, mas tanto um quanto outro se nos mostram como um outros níveis de realidade. Como pós ou pré-fenômenos nos são interditados. Isto não nos impede, entretanto, de nosso pensamento construir a lógica que os regem
e de até permitir uma figuração esquemática. Aproximamos, assim, da lógica do terveiro incluído. Seguindo o pensamento de Wittgenstein diremos também q essa lógica não esclarece o enigma.
Podemos agora afirmar que a visibilidade não é permanente, mas um processo de visibilidade e não visibilidade, uma e outra com suas lógicas próprias e interdependentes que criam uma terceira lógica. Esta minha tomada de posição, acredito, confirma o que penso: a teoria antecedendo a experimentação como uma metodologia. E também permitindo outra percepção da arte conceitual. Antes do conceito e a realização, a lógica que rege a obra.
Para uma compreenção do que pretendo mostrar transcrevo aqui uma citação do Biólogo Henry Atlan retirada de seu livro, Entre o Cristal e a Fumaça, Editora Zahar, Rio de Janeiro.
[...] a organização dos seres vivos não é estática, nem tampouco um processo que se oponha a forças e desorganização. Mas antes um processo de desorganização permanente seguida de reorganização, com o aparecimento de propriedades novas, quando a desorganização pode ser suportada e não mata o sistema. Em outras palavras, a morte do sistema faz parte da vida, não apenas por sob a forma de uma potencialidade dialética, mas como uma parte intrínseca de seu funcionamento e sua evolução: sem perturbações ao acaso, sem desorganização, não há reorganização adaptativa ao novo; sem um processo de morte controlada, não há processo de vida.
José Maria Dias da Cruz – Florianópolis – Fevereiro de 2013
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