Um trecho de uma crônica de Manuel Antônio de Almeida,
denominada “Nome”, pode nos propor algumas reflexões, por isso
transcrevo-o.
“Dizem os gramáticos, gente detestável nestes tempos de
discordâncias, que o nome é uma voz com que se dá a
conhecer as coisas. Quando nos tempos de colégio minha
memória, rebelde às exigências do decurião, recusava
guardar no seu arquivo esta triste definição, é que meu
espírito, agora o conheço, pressentia-lhe já todo o absurdo
e falsidade. Nunca em verdade uma mentira tão grande se
escreveu em letra redonda.
Aquilo que as coisas menos se dão a conhecer é pelo seu
nome. O nome é hoje, e não sei se o deixou de ser em
algum tempo, a primeira mentira de todas as coisas: é
como o cunho do pecado original impresso sobre tudo
que existe. A tradição da torre de Babel parece-me errada
até certo ponto; o que ali se confundiu não foram as
línguas, foram os nomes das coisas.”
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