domingo, 1 de janeiro de 2017

Trata-se do serpenteamento vinciano, e dos espaços exclusivo e inclusivo. Ilustrara-se com imagens de Michel Ângelo, Cézanne, Hélio Oiticica e José Maria Dias da Cruz.

Trata-se do serpenteamento vinciano, e dos espaços exclusivo e inclusivo.  Ilustrara-se com imagens de Michel Ângelo, Cézanne, Hélio Oiticica e José Maria Dias da Cruz.

Renato Velasco

Como vc está? Por aqui com alguns probleminhas destes que sempre atravessam nossas vidas e que logo passará. O importante é que apesar de tudo continuo criativo, com muitos projetos e acreditando que posso deixar algum material para que depois possa ser estudado, já que na minha obra procuro fugir dos dogmas que são criados, que como diz Gauguin, desorientam não somente os artistas, mas o público em geral. Certamente devo ter cometido muitos equívocos, mas no geral não creio que esses desmereçam o que tentei mostrar. Digo tudo isso, pois vi em seu trabalho muita coerência, muitas potencialidades que certamente serão aprofundadas na medida em que vc for amadurecendo, - sim, a pintura, e por extensão as artes plásticas, é realmente bastante complexa.  Percebe-se um grafismo em seus últimos trabalhos e vejo aí a necessidade de um aprofundamento dessa questão que é bem instigante.  Afinal ainda podemos pensar na questão da linha nas artes plásticas. Cézanne afirmou que ela não existe na natureza, o que existe é uma relação de tons, ou claros ou escuros e pelas tramas que vc constrói pode ir bem longe nessas discussões. E certamente aprofundar aquilo que Leonardo afirmou sobre a pintura linear ao introduzir o conceito de serpenteamento. Aqui entra um dos dogmas que são criados não sei bem como, mas está dito em todas as histórias das artes que Leonardo introduziu o esfumato na pintura. Para mim esfumato é um procedimento e não uma questão teórica. Já o limite dos corpos, limites estes que Leonardo diz que serpenteiam é bem mias complexo, e creio que pode ser estendido para todo o espaço plástico em substituição à linha a qual Cézanne afirma que não existe. Substitui-se, assim, a linha por esse serpenteamento, que é bem mais do que dar um traço com volteios. Por enquanto não estou afirmando nada, mas expondo minhas dúvidas, resultantes de minhas observações e que me impulsionam para novos estudos. Sobre essas dúvidas creio que ficam mais bem expostas no meu livro sobre o cromatismo cezanneano. Só estou te escrevendo para te mostrar, se é que consigo apontar para caminhos que vc poderá desenvolver.

E há mais ainda. Atualmente está me assaltando a idéia do que pode ser nas artes plásticas um espaço plástico exclusivo ou inclusivo. Ou um ou outro ou a convivência dos dois. Explico-me. Por exemplo, a estátua do David de Michel Ângelo se fosse transportada para a floresta amazônica iria nos forçar a abrir uma grande clareira, pois é uma obra que exige um espaço exclusivo apesar dele considerar o conceito de no finito, ou seja,  não há um limite absoluto. Uma mosca que pousasse na estátua já seria uma interferência que ela recusaria. Já as montanhas de Santa Vitória de Cézanne têm um espaço mais inclusivo, pois nela se manifesta o cinza sempiterno que segundo o mestre só ele se manifesta também em toda a natureza. Os relevos de Hélio Oiticica também criam um espaço inclusivo e isto afirmo em meu livro sobre o cromatismo de Cézanne.  Creio que seu trabalho também pode se encaminhar para esse problema.
Abç
JM
e


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