quarta-feira, 6 de março de 2019


Parece-me que uma crise na pintura que eclodiu a partir da década de sessenta do século XX e os discursos sobre sua morte recalcaram ainda mais a questão da cor. Claro, isso não impediu que grandes artistas com novas ideias surgissem, como acima anotamos.

Estou imaginando a possibilidade de se pensar em uma geometria das cores. E digo que essa geometria sou eu, pois a cor é um fenômeno subjetivo. Mas assim como Cézanne, me sinto como um primitivo pelas coisas novas que descobri. Muitas são ainda as dúvidas.
Vejamos, agora, como essas questões se desdobraram nas obras de alguns artistas modernos e contemporâneos.

Certamente Hélio Oiticica percebeu o impasse a que chegara a pintura ao insistir na utilização de uma teoria cromática baseada no círculo cromático pós-newtoniano. Afirmou que havia um problema importante na pintura contemporânea, a cor. Penso que ele, ao afirmar o fim da pintura de cavalete, não estava endossando o que muitos artistas e críticos afirmavam: a morte da pintura. Penso que condenava as pinturas realizadas no espaço remoto. Disse que a era da pintura de cavalete estava definitivamente encerrada.  Hélio Oiticica pensou no núcleo da cor, em sua dimensão temporal e espacializou a pintura ao realizar os relevos e os parangolés. Pergunto-me: não estaria também esse artista seguindo Cézanne, que nos mostrou um espaço da pintura coincidindo com esse no qual nos orientamos? Lida menos com o conceito da cor abstrata substantiva e enfatiza mais a concreta adjetiva, muito embora ainda não as diferenciasse. E mais ainda: estará nos apontando para repensar o que Leonardo da Vinci nos diz sobre o serpenteamento e uma visão  bi ocular, e como o pintor deve evitar a segunda morte da pintura?

Com a industrialização várias crises surgiram: a luta de classes, por exemplo, a neocolonização da África, problemas econômicos, desemprego, concentração de renda e a consequente desigualdade social, etc. A arte as percebeu. Surgiram escritores como Charles Dickens, Vitor Hugo e artistas como Coubert,  Daumier, os impressionistas, uns mostrando o dia a dia dos menos favorecidos e esses últimos, os impressionistas, saindo do atelier para pintar ao ar livre. Têm aqueles que saíram de Paris; Van Gogh, admirador de Millet que introduz o expressionismo; Gauguin que se interessa pela arte primitiva do Taiti que depois vai influenciar Picasso; e Cézanne que cria as bases da arte moderna. A arte, para dar conta dessas crises, teve que pensar em um espaço plástico aqui, no espaço imediato, e não mais lá, no espaço remoto, ou ali, na superfície do suporte. E se lá, no espaço remoto, ou ali, na superfície do suporte, como muitos pintores continuaram a fazê-lo, passa mostrar, com novas ideias, as diversas faces dessas crises.


Daumier

Se observarmos os quadros de Cézanne, e citarmos algumas de suas frases (Seguem abaixo), ou seja, partirmos das fontes primárias, , poderemos afirmar que ele criou outra teoria das cores.
"Quanto mais as cores se harmonizam, mas as formas se precisam".
“Na natureza tudo está colorido.”
Cézanne encerra a discussão entre desenhistas e coloristas. Creio que podemos dizer que no pictórico, ou em um colorido, as cores são concretas adjetivas e as formas a elas ficam subordinadas, e no gráfico as cores abstratas substantivas ficam subordinadas às formas. 
"A luz não existe para o pintor, tem que ser substituída por outra coisa, a cor".
Seguindo o mestre de Aix e observando as cores simples de Leonardo da Vinci e considerando o conflito entre a percepção sensível e a linguagem, e por extensão as cores concretas, descartei o círculo cromático iluminista. Segue uma assemblage. 


 
Outra frase de Cézanne. "Somente um cinza reina na natureza e alcançá-lo é de uma dificuldade espantosa". Segue uma assemblage:



Cézanne afirmou que somente um cinza reina na natureza. Rilke em suas cartas sobre Cézanne disse que esse cinza não existe, mas que se manifesta no quadro e dele surgem as cores.
Denomino o cinza intuído com conhecimento plástico pelo mestre de Aix como sempiterno.
Um tom considerado como cor concreta adjetiva se rompe, objetivamente, quando sobre ele se sobrepõe sua oposta, sua pós-imagem. Não é, como muitos teóricos afirmam, um problema de misturas pigmentares, ou seja, um pintura retiniana denunciada por Duchamp. Temos então uma distância entre a cor e sua oposta e a passagem entre elas é um ponto. Diremos, então, que esse ponto, que não possui nenhuma dimensão, não é mais aquele definido pela geometria euclidiana, é um não espaço, um não tempo, mas com uma potência. Como todas as cores se rompem, o cinza onipresente contém todas elas, ou seja, todos os coloridos, e assim este cinza é causa e efeito de todas as cores e coloridos. Como na natureza tudo está colorido, o cinza onipresente nela se manifesta como um pré ou pós-fenômeno. 

Mas não percebemos todos os coloridos, esses nos são interditados. Daí entendermos porque Cézanne dizia que só pinta uma fração do espaço. Cada colorido, então, terá seu exclusivo cinza sempiterno e com a mesma lógica do cinza onipresente, ou seja, ambos são causa de si mesmo. E há ainda a questão de jamais sabermos quando uma cor é ela mesma. Podemos pensar na geometria dos fractais e na topologia. E mais ainda, o colorido com uma dimensão metafísica e ontológica, estas agora enriquecidas com as novas descobertas da física quântica. 

Outras frases: "Entre o objeto e o pintor se interpõe um plano, a atmosfera. A natureza é mais em profundidades que em superfície".


Segue uma assemblage.




Segue uma assemblage. 



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