Kelly Kreis
Há uma
constância na obra de Kelly: as texturas e a invenção plástica. Ao percebermos
as texturas evidenciam-se os valores hápticos. Assim como nas maçãs de Cézanne,
essas texturas ganham outra realidade. Como diz Rilke, são maçãs não
comestíveis.
Dito isso
creio que posso afirmar que os desenhos e quadros de Kelly, graças a sua enorme
capacidade de invenção, tanto de relações cromáticas como de texturas, são
muito mais que desenhos ou pinturas. São pinturas e desenhos que uma vez
realizados, passam a ocupar o espaço imediato, este percebido no espaço
plástico, e esses percebidos descolados da superfície do suporte graças aos
rompimentos de tons e ao cinza sempiterno. Têm, portanto, mais de duas e menos
de três dimensões. Percebemos os valores hápticos. No caso da pintura (ver adiante) o cinza sempiterno se
manifesta. Assim esses desenhos e pinturas são verdadeiros em outro nível de
percepção. São fatos pictóricos ricos em invenção plástica e presença. São
desenhos verdadeiros externos de desenhos internos ou pinturas externas verdadeiras
de pinturas internas.
Kelly
Kreis
Nesse
desenho acima, um quadrado interno tensinona seu centro e, consequentemente,
enfraquece as bordas ou a estrutura subjacente do suporte. Com isto as linhas
de contorno do quadrado interno deixam de ser euclidianas para serem vincianas.
Nesse trabalho de Kellyy um cinza sempiterno se manifesta e junto com o
serpenteamento as texturas são dinamizadas.
Kelly
Kreis
Nesse
quadro acima temos vários contrastes. Do tratamento do tomate e das bananas,
mais realista, representando quase uma tridimensionalidade, contra as jarras, panejamento e flores, mais
moduladas. Esses conjuntos, por sua vez, se contrastam com o fundo, diversas
áreas padronizadas, ou seja, superfícies tratadas da mesma forma em todas suas
extensões, mas que criam certas texturas. A manifestação do cinza sempiterno,
assim como no desenho acima referido, cria uma lógica bastante complexa.
Permite uma convivência dinâmica de elementos heterogêneos.
Em seu
texto O olho e o espírito,
Merleua-Ponty, referindos-se ao interesse de Cézanne pela profundidade, diz que
esta não é tridimensional. Nesse quadro de Kelly os objetos representados não
nos levam a uma percepção tridimensional, não mostram um relevo absoluto. É o
espaço plástico, à frente do quadro, que cria essa profundidade. E esse espaço
plástico é maior que a superfície do suporte.
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