domingo, 10 de março de 2019

Teoria das cores, de Aristóteles até hoje - 6 - Daumier e José Maria Dias da Cruz

Teoria das cores, de Aristóteles até hoje - 6


Com a industrialização várias crises surgiram: a luta de classes, por exemplo, a neocolonização da África, problemas econômicos, desemprego, concentração de renda e a consequente desigualdade social, etc. A arte as percebeu. Surgiram escritores como Charles Dickens, Vitor Hugo e artistas como Coubert,  Daumier, os impressionistas, uns mostrando o dia a dia dos menos favorecidos e esses últimos, os impressionistas, saindo do atelier para pintar ao ar livre. Têm aqueles que saíram de Paris; Van Gogh, admirador de Millet que introduz o expressionismo; Gauguin que se interessa pela arte primitiva do Taiti que depois vai influenciar Picasso; e Cézanne que cria as bases da arte moderna. A arte, para dar conta dessas crises, teve que pensar em um espaço plástico aqui, no espaço imediato, e não mais lá, no espaço remoto, ou ali, na superfície do suporte. E se lá, no espaço remoto, ou ali, na superfície do suporte, como muitos pintores continuaram a fazê-lo, passa mostrar, com novas ideias, as diversas faces dessas crises.



Daumier

Se observarmos os quadros de Cézanne, e citarmos algumas de suas frases (Seguem abaixo), ou seja, partirmos das fontes primárias, , poderemos afirmar que ele criou outra teoria das cores.
"Quanto mais as cores se harmonizam, mas as formas se precisam".
“Na natureza tudo está colorido.”
Cézanne encerra a discussão entre desenhistas e coloristas. Creio que podemos dizer que no pictórico, ou em um colorido, as cores são concretas adjetivas e as formas a elas ficam subordinadas, e no gráfico as cores abstratas substantivas ficam subordinadas às formas. 
"A luz não existe para o pintor, tem que ser substituída por outra coisa, a cor".
Seguindo o mestre de Aix e observando as cores simples de Leonardo da Vinci e considerando o conflito entre a percepção sensível e a linguagem, e por extensão as cores concretas, descartei o círculo cromático iluminista. Segue uma assemblage.
 
Outra frase de Cézanne. "Somente um cinza reina na natureza e alcançá-lo é de uma dificuldade espantosa". Segue uma assemblage:




Cézanne afirmou que somente um cinza reina na natureza. Rilke em suas cartas sobre Cézanne disse que esse cinza não existe, mas que se manifesta no quadro e dele surgem as cores.
Denomino o cinza intuído com conhecimento plástico pelo mestre de Aix como sempiterno.
Um tom considerado como cor concreta adjetiva se rompe, objetivamente, quando sobre ele se sobrepõe sua oposta, sua pós-imagem. Não é, como muitos teóricos afirmam, um problema de misturas pigmentares, ou seja, uma pintura retiniana denunciada por Duchamp. Temos então uma distância entre a cor e sua oposta e a passagem entre elas é um ponto. Diremos, então, que esse ponto, que não possui nenhuma dimensão, não é mais aquele definido pela geometria euclidiana, é um não espaço, um não tempo, mas com uma potência. Como todas as cores se rompem, o cinza onipresente contém todas elas, ou seja, todos os coloridos, e assim este cinza é causa e efeito de todas as cores e coloridos. Como na natureza tudo está colorido, o cinza onipresente nela se manifesta como um pré ou pós-fenômeno.
Mas não percebemos todos os coloridos, esses nos são interditados. Daí entendermos porque Cézanne dizia que só pinta uma fração do espaço. Cada colorido, então, terá seu exclusivo cinza sempiterno e com a mesma lógica do cinza onipresente, ou seja, ambos são causa de si mesmo. E há ainda a questão de jamais sabermos quando uma cor é ela mesma. Podemos pensar na geometria dos fractais e na topologia. E mais ainda, o colorido com uma dimensão metafísica e ontológica, estas agora enriquecidas com as novas descobertas da física quântica.
Outras frases: "Entre o objeto e o pintor se interpõe um plano, a atmosfera. A natureza é mais em profundidades que em superfície".


Segue uma assemblage.
Acredito que, por um espírito de época e a sincronicidade e o inconsciente coletivo pensados por Jung, nesse espaço à frente do quadro que coincide com esse no qual nos orientamos fez Duchamp colocar nele sua obra A fonte.
Podemos considerar, partindo da geometria dos fractais, uma superfície plana na qual se transfere um colorido com mais de duas e menos de três dimensões.    
Cabe aqui uma observação sobre os cubistas. Dizem os historiadores de arte que os cubistas no período analítico criavam quadros com apenas duas dimensões e que usavam umas poucas cores: ocres, terras e cinzas não os considerando coloristas. Se Diderot diz que em cada dez pintores apenas um é colorista acrescento: no pictórico (os coloristas) a forma fica subordinada às cores e no gráfico (desenhistas) as cores ficam subordinadas às formas. Mas não há nem um nem outro de forma absoluta, e assim podemos exemplificar: Cézanne e  Braque criam um equilíbrio entre o gráfico e o pictórico.
 


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