Com a industrialização várias crises surgiram: a
luta de classes, por exemplo, a neocolonização da África, problemas econômicos,
desemprego, concentração de renda e a consequente desigualdade social, etc. A
arte as percebeu. Surgiram escritores como Charles Dickens, Vitor Hugo e
artistas como Coubert, Daumier, os
impressionistas, uns mostrando o dia a dia dos menos favorecidos e esses
últimos, os impressionistas, saindo do atelier para pintar ao ar livre. Têm
aqueles que saíram de Paris; Van Gogh, admirador de Millet que introduz o
expressionismo; Gauguin que se interessa pela arte primitiva do Taiti que
depois vai influenciar Picasso; e Cézanne que cria as bases da arte moderna. A
arte, para dar conta dessas crises, teve que pensar em um espaço plástico aqui,
no espaço imediato, e não mais lá, no espaço remoto, ou ali, na superfície do
suporte. E se lá, no espaço remoto, ou ali, na superfície do suporte, como
muitos pintores continuaram a fazê-lo, passa mostrar, com novas ideias, as
diversas faces dessas crises.
Daumier
Se observarmos os quadros de Cézanne, e citarmos
algumas de suas frases (Seguem abaixo), ou seja, partirmos das fontes primárias,
, poderemos afirmar que ele criou outra teoria das cores.
"Quanto mais as cores se
harmonizam, mas as formas se precisam".
“Na natureza tudo está colorido.”
Cézanne encerra a discussão entre desenhistas e
coloristas. Creio que podemos dizer que no pictórico, ou em um colorido, as
cores são concretas adjetivas e as formas a elas ficam subordinadas, e no
gráfico as cores abstratas substantivas ficam subordinadas às formas.
"A luz não existe para o
pintor, tem que ser substituída por outra coisa, a cor".
Seguindo o mestre de Aix e observando as cores
simples de Leonardo da Vinci e considerando o conflito entre a percepção
sensível e a linguagem, e por extensão as cores concretas, descartei o círculo
cromático iluminista. Segue uma assemblage.
Outra frase de Cézanne. "Somente um cinza reina na natureza e alcançá-lo é de
uma dificuldade espantosa". Segue uma
assemblage:
Cézanne afirmou que somente um cinza reina na
natureza. Rilke em suas cartas sobre Cézanne disse que esse cinza não existe,
mas que se manifesta no quadro e dele surgem as cores.
Denomino o cinza intuído com conhecimento plástico
pelo mestre de Aix como sempiterno.
Um tom considerado como cor concreta adjetiva se
rompe, objetivamente, quando sobre ele se sobrepõe sua oposta, sua pós-imagem.
Não é, como muitos teóricos afirmam, um problema de misturas pigmentares, ou
seja, uma pintura retiniana denunciada por Duchamp. Temos então uma distância
entre a cor e sua oposta e a passagem entre elas é um ponto. Diremos, então,
que esse ponto, que não possui nenhuma dimensão, não é mais aquele definido
pela geometria euclidiana, é um não espaço, um não tempo, mas com uma potência.
Como todas as cores se rompem, o cinza onipresente contém todas elas, ou seja,
todos os coloridos, e assim este cinza é causa e efeito de todas as cores e coloridos.
Como na natureza tudo está colorido, o cinza onipresente nela se manifesta como
um pré ou pós-fenômeno.
Mas não percebemos todos os coloridos, esses nos são
interditados. Daí entendermos porque Cézanne dizia que só pinta uma fração do
espaço. Cada colorido, então, terá seu exclusivo cinza sempiterno e com a mesma
lógica do cinza onipresente, ou seja, ambos são causa de si mesmo. E há ainda a
questão de jamais sabermos quando uma cor é ela mesma. Podemos pensar na
geometria dos fractais e na topologia. E mais ainda, o colorido com uma
dimensão metafísica e ontológica, estas agora enriquecidas com as novas
descobertas da física quântica.
Outras frases: "Entre
o objeto e o pintor se interpõe um plano, a atmosfera. A natureza é mais em
profundidades que em superfície".
Segue uma assemblage.
Acredito que, por um espírito de época e a
sincronicidade e o inconsciente coletivo pensados por Jung, nesse espaço à
frente do quadro que coincide com esse no qual nos orientamos fez Duchamp colocar
nele sua obra A fonte.
Podemos considerar, partindo da geometria dos
fractais, uma superfície plana na qual se transfere um colorido com mais de
duas e menos de três dimensões.
Cabe aqui uma
observação sobre os cubistas. Dizem os historiadores de arte que os cubistas no
período analítico criavam quadros com apenas duas dimensões e que usavam umas
poucas cores: ocres, terras e cinzas não os considerando coloristas. Se Diderot
diz que em cada dez pintores apenas um é colorista acrescento: no pictórico (os
coloristas) a forma fica subordinada às cores e no gráfico (desenhistas) as
cores ficam subordinadas às formas. Mas não há nem um nem outro de forma
absoluta, e assim podemos exemplificar: Cézanne e Braque criam um equilíbrio entre o gráfico e
o pictórico.
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