Teoria das cores, de Aristóteles até hoje, - 5
Seurat, no final do século XIX e início do XX, baseado no
livro de Chevreul, Da lei dos contrastes
simultâneos, realizou uma obra ancorada em princípios científicos. Estudou
a divisão do tom baseado no círculo cromático iluminista. Seurat foi seguido
por Paul Signac e esse método foi classificado pela crítica como pontilhismo,
que pode indicar, talvez, bem mais um procedimento que uma questão teórica.
Seurat preferia que fosse classificado como divisionismo, ou seja, que um tom,
visto a curta distância, poderia ser divido em pequenas pinceladas de cor, que
quando vistas a longa distância resultariam no tom original da cor local. Por
outro lado seus quadros eram construídos a partir do número de ouro, ou seja,
baseados na geometria euclidiana, que o colocava próximo à tradição grega
retomada durante a Renascença.
Os impressionistas ocuparam-se
com as variações cambiantes da luz. São importantes coloristas e basearam-se no
círculo iluminista.
Alguns impressionistas
utilizaram em seus quadros duas escalas básicas para a passagem luz-sombra que
obedeciam à ordem das cores do espectro. As duas escalas: 1 - laranja, amarelo,
verde e azul; 2 - laranja, vermelho, violeta e azul. ´
André Lhote em seu livro Tratado da paisagem dizia que o pintor
devia escolher uma ou outra escala. Em vários quadros meus utilizei as duas
escalas. Segue um exemplo.
José Maria Dias da Cruz
Kandisnky pensou, sobretudo, no simbolismo das cores. Em
relação às formas e cores considerou o
quadrado, o triângulo e o círculo formas primárias, sendo o primeiro vermelho,
o segundo amarelo e o terceiro azul. Reconstruiu um circulo cromático no qual o
oposto do laranja era o violeta.
Para Klee os coloridos possuíam um ritmo e um movimento como
a música. Em minha assemblage mostro como diagramou um esquema de cores. Um
eixo representando os claros e escuros e em torno, em movimento, os amarelos,
vermelhos e azuis.
Aristóteles ao enfatizar a relação claro-escuro
e considerar a cor supérflua fez com que os artistas, mesmo os coloristas,
respeitassem as cores locais. Cézanne em seus retratos começa a romper com a
cor local e é seguido por Matisse. Os fauves abolem totalmente a cor local.
Seguem umas imagens.
Cézanne
Matisse
Derain
Derain
Parece-me que uma crise na
pintura que eclodiu a partir da década de sessenta do século XX e os discursos
sobre sua morte recalcaram ainda mais a questão da cor. Claro, isso não impediu
que grandes artistas com novas ideias surgissem, como acima anotamos.
Estou imaginando a possibilidade de se pensar em uma geometria das cores. E digo que essa geometria sou eu, pois a cor é um fenômeno subjetivo. Mas assim como Cézanne, me sinto como um primitivo pelas coisas novas que descobri. Muitas são ainda as dúvidas.
Estou imaginando a possibilidade de se pensar em uma geometria das cores. E digo que essa geometria sou eu, pois a cor é um fenômeno subjetivo. Mas assim como Cézanne, me sinto como um primitivo pelas coisas novas que descobri. Muitas são ainda as dúvidas.
Vejamos, agora, como essas questões se desdobraram
nas obras de alguns artistas modernos e contemporâneos.
Certamente Hélio Oiticica percebeu o impasse a que
chegara a pintura ao insistir na utilização de uma teoria cromática baseada no
círculo cromático pós-newtoniano. Afirmou que havia um problema importante na
pintura contemporânea, a cor. Penso que ele, ao afirmar o fim da pintura de
cavalete, não estava endossando o que muitos artistas e críticos afirmavam: a
morte da pintura. Penso que condenava as pinturas realizadas no espaço remoto.
Disse que a era da pintura de cavalete estava definitivamente encerrada. Hélio Oiticica pensou no núcleo da cor, em sua
dimensão temporal e espacializou a pintura ao realizar os relevos e os parangolés.
Pergunto-me: não estaria também esse artista seguindo Cézanne, que nos mostrou
um espaço da pintura coincidindo com esse no qual nos orientamos? Lida menos
com o conceito da cor abstrata substantiva e enfatiza mais a concreta adjetiva,
muito embora ainda não as diferenciasse. E mais ainda: estará nos apontando
para repensar o que Leonardo da Vinci nos diz sobre o serpenteamento e uma
visão bi ocular, e como o pintor deve
evitar a segunda morte da pintura?
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