Fontes para o Cinza sempiterno
“... eu disse cinza – ontem, quando indicava o fundo de um autorretrato, sobre claro cruzado obliquamente; deveria ter dito: um certo branco metálico, alumínio ou coisa semelhante, pois a cor cinza, literalmente cinza, não se mostra nos quadros de Cézanne. Para sua imensa visão de pintor, ela não subsistia como cor: ele ia até o fundo, e lá a encontrava violeta ou azul ou avermelhada ou verde. Particularmente o violeta (uma cor que nunca tinha sido desdobrada de modo tão variado e minucioso) era o que ele reconhecia ali, e nós esperávamos apenas o cinza e ficaríamos satisfeitos com ele; o pintor não se contenta e vai buscar os violetas que estão espalhados, assim como algumas tardes. Sobretudo as tardes de outono, que interpelam as fachadas acinzentadas diretamente como violeta. De tal modo que elas respondem em todos os tons, desde o lilás leve e suspenso, até o violeta pesado do granito finlandês. Quando reparei que não havia nada propriamente cinza nesses quadros (nas paisagens, o ocre e o terra, queimados e não queimados, estão presentes demais para que o cinza pudesse desenvolver-se), a senhorita Vollmoeler apontou-me que, se permanecemos entre eles, depreende-se um cinza suave, como uma atmosfera, e nós concordamos que o equilíbrio interior das cores de Cézanne, que nunca sobressaem e nem são forçadas, produz esse ar calmo, como de veludo...”
R M Rilke
“... eu disse cinza – ontem, quando indicava o fundo de um autorretrato, sobre claro cruzado obliquamente; deveria ter dito: um certo branco metálico, alumínio ou coisa semelhante, pois a cor cinza, literalmente cinza, não se mostra nos quadros de Cézanne. Para sua imensa visão de pintor, ela não subsistia como cor: ele ia até o fundo, e lá a encontrava violeta ou azul ou avermelhada ou verde. Particularmente o violeta (uma cor que nunca tinha sido desdobrada de modo tão variado e minucioso) era o que ele reconhecia ali, e nós esperávamos apenas o cinza e ficaríamos satisfeitos com ele; o pintor não se contenta e vai buscar os violetas que estão espalhados, assim como algumas tardes. Sobretudo as tardes de outono, que interpelam as fachadas acinzentadas diretamente como violeta. De tal modo que elas respondem em todos os tons, desde o lilás leve e suspenso, até o violeta pesado do granito finlandês. Quando reparei que não havia nada propriamente cinza nesses quadros (nas paisagens, o ocre e o terra, queimados e não queimados, estão presentes demais para que o cinza pudesse desenvolver-se), a senhorita Vollmoeler apontou-me que, se permanecemos entre eles, depreende-se um cinza suave, como uma atmosfera, e nós concordamos que o equilíbrio interior das cores de Cézanne, que nunca sobressaem e nem são forçadas, produz esse ar calmo, como de veludo...”
R M Rilke
Prezado senhor José Maria Dias da Cruz, bons dias!
ResponderExcluirAtuo como professor do Cefet-MG e como pesquisador do Acervo de Escritores Mineiros da UFMG, com trabalhos sobre Murilo Rubião. Venho desenvolvendo pesquisa de pós-doutorado sobre a correspondência de Murilo e Marques Rebelo (curiosamente, dois "MR").
Caso não constitua incômodo, gostaria de conversar com o senhor, via e-mail, sobre o trabalho.
Grato pela atenção,
Cleber A. Cabral.