domingo, 23 de outubro de 2016

O fato plástico, A questão do belo e do feio na arte contemporânea , Buadeleire



O Fato plástico e a questão da dicotomia belo/feio na arte contemporânea

Os fatos no espaço lógico são o mundo.
Wittengenstein

A dicotomia belo/feio se baseia em conceitos preestabelecidos. A meu ver temos hoje que ficar mais atentos aos fatos plásticos, sejam eles pictóricos, gráficos, arquitetônicos, ou produzidos por outras suportes e meios. Temos que perceber esses fatos como atos criativos, ou seja, que nos permitam uma nova visão de mundo ética e estética. O assunto é vasto e estas anotações são apenas um pequeno comentário.

Um fato plástico exclui a necessidade de se incluir na compreensão da arte contemporânea um julgamento que considere o belo e o feio. Penso que o espaço da arte contemporânea, face às crises que começaram no século XIX, com a queda da aristocracia e a ascensão da burguesia e que se adensaram nos dias de hoje, levaram a arte a se realizar não mais como objeto de contemplação em um espaço remoto, mas claro, não sendo só isso, mas expondo também conceitos baseados na sincronicidade do espírito de época e também aquilo que mais trade Jung vai teorizar, o inconsciente coletivo, mas a se ocupar e se realizar no espaço imediato, ou seja, neste no qual nos orientamos.

Segue um poema de Baudelaire, e assim podemos mostrar que a crise que começara no século XIX foi pressentida por esse grande poeta, e também para ficar claro que para uma melhor compreensão da arte contemporânea é necessário um dimensão histórica.

Uma Carcaça

Lembra-te, meu amor, do objeto que encontramos
      Numa bela manhã radiante:
Na curva de um atalho, entre calhaus e ramos,
     Uma carniça repugnante.
As pernas para cima, qual mulher lasciva,
     A transpirar miasmas e humores,
Eis que as abria desleixada e repulsiva.
     O ventre prenhe de livores.
Ardia o sol naquela pútrida torpeza
     Como a cozê-la em rubra pira
E para ao cêntuplo volver à Natureza
     Tudo o que ali ela reunira.
E o céu olhava do alto a esplêndida carcaça
     Como uma flor a se entreabrir.
O fedor era tal que sobre a relva escassa
     Chegaste a sucumbir.

Tradução de Ivan Junqueira

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