segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Anotações sobre um quadro ou sobre o gráfico e o pictórico



Anotações sobre um quadro ou sobre o gráfico e o pictórico

“Na media que pintamos, desenhamos, quanto mais a cor se harmoniza, mais a forma de precisa.” Paul Cézanne


Diremos que no gráfico as cores se subordinam às formas, e no pictórico as formas se subordinam às cores. Mas não há o pictórico e o gráfico em absoluto. Há as diversas gradações entre um e outro.
No quadro em questão por mim realizado temos ao alto uma escala cromática que se encerra em uma forma sobre um fundo esbranquiçado. Ela, a escala, torna-se, assim, mais gráfica. Em um espaço gráfico, sendo as formas mais racionais, consideramos as cores mais pelo seu aspecto abstrato, daí diremos que as cores, nesse caso, são abstratas substantivas, ideias platônicas que subsistem por si só. Por isso somos levados a nomeá-las. Essas referências acima descritas as cores ficam em um segundo plano de percepção. Percebemos uma escala e assim a nomeamos.
Abaixo temos um colorido baseado na escala acima como uma das variações possíveis das cores simples de Leonardo da Vinci, que no Tratado da pintura escreveu: “As cores simples são seis e a primeira é o branco, se bem que alguns filósofos não aceitem nem o branco, nem o preto entre o número das cores simples, posto que um é a causa das cores e outro a ausência delas. Apesar disso, como o pintor nada pode fazer sem elas, nós as incluiremos no número das cores simples que o branco e diremos é o primeiro nesta ordem; o amarelo o segundo, o verde o terceiro, o azul o quarto, o vermelho o quinto e o preto o sexto; e assim poremos o branco para as luzes, [...] e o preto para as sombras, [...].”Essas observações de Leonardo da Vinci permitem-nos a descartar o circulo cromático tradicional que classifica as cores em primárias e secundárias, puras ou compostas, atrelando-o à linguagem verbal, à nomeação das cores. Mas se considerarmos a cor concreta adjetiva veremos que sua condição é ser no colorido. E mais, que ela é um par que contém em si sua oposta, tem uma dimensão temporal que permite o rompimento do tom e o cinza sempiterno como um pré ou pós-fenômeno e causa de si mesmo e, por consequência, enigmática. Daí podermos dizer que um colorido é um todo de cores concretas adjetivas. E como são muitas as escalas cromáticas que geram um colorido diremos que ele é sempre uma fração do espaço, uma vez que nos é interditado um colorido total.
No quadro aqui em exposição notamos, então, um contraste entre o gráfico e o pictórico. E também um contraste entre a nitidez do gráfico e um desfocamento do colorido. Ou um contraste entre as diversas distâncias entre um e outro. Uma metáfora do momento no qual vivemos?






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