segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

O impasse da arte e da pnitura O cinza sempiterno, a cor astrata substantiva e concreta adjetiva Espioza e



O impasse da pintura e da arte

“Fuja de estudar aquele que produz uma obra destinada a morrer com ele.”
“Triste discípulo é aquele que não ultrapassa seu mestre.”
Leonardo da Vinci

Essa ultrapassagem não implica uma obra esteticamente superior. Como para Leonardo a arte é coisa mental, essa ultrapassagem se dá com o acréscimo de novas ideias. O discípulo tem que matar seu mestre para poder ressuscitá-lo, para dar continuidade a uma narrativa histórica não linear.
Quando Cézanne afirmou que entre o objeto e o pintor se interpõe um plano, a atmosfera deu inicio a uma nova arte. Uma crise que começa em fins do século XIX se instala. Ela resulta no início da industrialização com a consequente luta de classes.  Escritores como Victor Hugo e Charles Dickens a denunciam.
A partir de Cézanne, quando o espaço plástico deixou de acontecer lá, além do suporte, como preconizava Alberti, para acontecer aqui, coincidindo com esse no qual nos orientamos, a arte começa a tomar outro rumo. Talvez por um espírito de época Duchamp colocou nele sua obra A fonte. A arte passou a realizar-se nesse espaço imediato.
Como pintor esses são meus pontos de referência. Estudiosos de outras disciplinas poderão se aprofundar nessas questões.
Interessante é relermos o livro de Sérgio Milliet, A marginalidade da arte moderna. O que vemos hoje é o agravamento dessa crise, daí me perguntar: a arte e a pintura contemporâneas estão vivendo um impasse? Creio que sim. Praticamente um século de ocupação desse espaço imediato está se esvaziando e por consequência uma coisa nova se faz urgente.
Nos meus estudos das cores e coloridos pensei nas cores abstratas substantivas e concretas adjetivas, as primeiras, como uma abstração liga-se ao discurso verbal, por consequência, ao espaço remoto. As segundas, na medida em que se aproximam da lógica do colorido, criam um espaço aqui, que faz fronteira com esse no qual nos orientamos. O pintor lida com as duas. Essas questões me levaram à realização das assemblages de pintura e poesia.







A cor abstrata substantiva e concreta adjetiva, Espinosa e Poussin
Digo que a cor abstrata é uma ideia e que subsiste por si mesma e que a cor concreta é adjetiva, que é um par, contém em si sua oposta, que se rompe por ação dessa oposta, e cuja condição é ser no colorido. Digo mais, que o pintor lida com as duas. Acredito que com esses conceitos pelos quais descartamos a ideia de cor definida em função do espectro e também considerando só a percepção, podemos entender Cézanne quando ele afirma que a luz não existe para o pintor. Com esses conceitos de cor podemos distinguir o que seja um colorido e um desenho colorido. Ou seja, podemos entender o que seja um colorido. Este tem sua lógica própria, e não mais somente diversas cores em uma superfície seguindo um determinado princípio de harmonia.
Certamente esses conceitos podem nos levar hábitos estéticos que somente com o tempo farão algum sentido.
Assim podemos nos aproximar de Espinosa e entender Cézanne quando ele diz que na natureza tudo é colorido e que a arte é uma religião.
Para Espinosa Deus não é mais um criador, mas a própria natureza como causa de si mesma e, por consequência, um produtor. Para Espinosa, Deus (ou a natureza), tem toda a liberdade, nada o constrange. Já o homem não tem toda essa liberdade, pois o que lhe é exterior (os fatos que lhe afetam) o constrange.
Considerando a epistemologia de Espinosa podemos de uma forma bem simplificada dizer que primeiro o homem percebe o objeto e em seguida usa de sua razão para a compreensão desse objeto. Mas com isso não ultrapassa o constrangimento, ou seja, não produz nem cria, e por consequência, não consegue ser livre. Para tal Espinosa nos fala de uma terceira etapa. Nesta o homem pode, por uma sabedoria adquirida, criar, e neste ato se aproximar da natureza e entender melhor a liberdade. O filósofo fala de uma criação, ou conhecimento  por intuição. Agora podemos fazer uma referência a Poussin, que se refere a uma percepção considerando o simples aspecto do objeto, e um olhar prospectivo que considera o saber do olho que é bem mais que uma simples percepção.



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