segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Volpi



Volpi 

Volpi diz que não fala, mas pinta. Citemos Braque: O pintor pensa por formas e cores, o objeto é a poética. O que vale dizer, o pintor pensa plasticamente. Acrescento: Volpi é um colorista e as cores são enigmáticas, as formas são racionais.
Isso posto sigo adiante.
Têm-se uma pincelada na qual ficam evidentes as marcas da cerda e o gesto, e se perguntarmos a alguém o que ele vê em um primeiro nível de percepção a resposta será: isto é uma pincelada. Mas se com o mesmo pincel cobrirmos uma superfície sem as marcas da cerda e a evidência de um gesto, aquele alguém, considerando o primeiro nível de percepção,  responderá: isto é a cor tal. Nas pinturas de Volpi temos que uma pincelada e tal cor são uma só coisa.  Essa coisa é uma pequena sensação, como a queria Cézanne.
Assim nos trabalhos de Volpi temos não uma figuração imediata e uma consequente narrativa, conforme nos adverte Deleuze. Temos uma Figura. A obra de Volpi se torna um fato plástico, mas não em termos absolutos, que se desdobra em um fato pictórico, ou seja, em um espaço cromático com seus enigmas. Daí que esses quadros de Volpi realizados em sua maturidade não descartam totalmente a figuração imediata ou o narrativo. Podem ser vistos também pelo viés da semiologia.
na personalidade de Volpi uma simplicidade e uma ética próprias dos artesãos. No início de sua carreira Volpi estudou muito com pinturas direto da natureza.  Dessa forma pôde desenvolver um saber do olho que segundo Poussin permite um olhar prospectivo que é muito mais que um olhar que considera o simples aspecto de um objeto nomeando-o, o que o levaria a uma narrativa mais literária, portanto racional.  Assim Volpi passa a ser simultaneamente um artesão e um artista, pois, segundo Espinoza, o pintor adquire um conhecimento intuitivo que o leva à liberdade e à criatividade.
Digo que o artista não é um ego, é um eco. Volpi não é um ego, é um eco. 






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