Volpi
Volpi diz
que não fala, mas pinta. Citemos Braque: “O pintor pensa por formas e cores, o
objeto é a poética.” O que vale dizer, o pintor
pensa plasticamente. Acrescento: Volpi é um colorista e as cores são
enigmáticas, as formas são racionais.
Isso posto
sigo adiante.
Têm-se uma
pincelada na qual ficam evidentes as marcas da cerda e o gesto, e se perguntarmos
a alguém o que ele vê em um primeiro nível de percepção a resposta será: isto é
uma pincelada. Mas se com o mesmo pincel cobrirmos uma superfície sem as marcas
da cerda e a evidência de um gesto, aquele alguém, considerando o primeiro
nível de percepção, responderá: isto é a
cor tal. Nas pinturas de Volpi temos que uma pincelada e tal cor são uma só
coisa. Essa coisa é uma pequena sensação,
como a queria Cézanne.
Assim nos trabalhos de Volpi temos não uma figuração imediata e uma consequente
narrativa, conforme nos adverte Deleuze. Temos uma Figura. A obra de Volpi se
torna um fato plástico, mas não em termos absolutos, que se desdobra em um fato
pictórico, ou seja, em um espaço cromático com seus enigmas. Daí que esses
quadros de Volpi realizados em sua maturidade não descartam totalmente a
figuração imediata ou o narrativo. Podem ser vistos também pelo viés da
semiologia.
Há na personalidade
de Volpi uma simplicidade e uma ética próprias dos artesãos. No início de sua
carreira Volpi estudou muito com pinturas direto da natureza. Dessa forma pôde desenvolver um saber do olho
que segundo Poussin permite um olhar prospectivo que é muito mais que um olhar
que considera o simples aspecto de um objeto nomeando-o, o que
o levaria a uma narrativa mais literária, portanto racional. Assim Volpi passa a ser simultaneamente um
artesão e um artista, pois, segundo Espinoza, o pintor adquire um conhecimento
intuitivo que o leva à liberdade e à criatividade.
Digo que o artista não é um ego, é um eco. Volpi não é um ego, é um eco.
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