quinta-feira, 4 de julho de 2013

Francisco Mrcelo Cabral

NADA ME FAZ
lembrar um porto de diamantes
(que fossem topázios, ametista,
crisólitas, opalas, turmalinas!)
nem mesmo saber - só agora - que no cascalho do leito Meia Pataca
ainda repousa o ouro não minerado
inatingível sobe o lodo pegajoso
despejado pela usina de papel
te empobrecendo - duas vezes mil
vezes - dos bens que te tornaram desejada
dos índios. e depois dos soldados, bacharéis, criadores de gado
comerciantes, plantadores de café, trabalhadores braçais (21)
estudantes, prostitutas , padres, toda a gente
que arfou e gemeu sob o vapor de suor
de seus corpos perfumados, os pulmões livres
para o hausto vital soprado soprado nos seus narizes
plo ser vegetal e múltiplo que everdecia os quintais
e toda a terra para além do horizonte
- esse deus abatido e exilado
cuja ausência ainda pulsa nas dás cássias e quaresmeiras
e no amplo toldo de ingás. raros agora,breves inexistentes
_______________________

(21) primeiro trabalharam a terra, depois construiram estradas, redes elétricas, prédios, e calçaram ruas, e afinal foram trancafiados nas fábricas.presos às máquinas pela cadeia dos salários. e é curioso notar que assim mesmo cantam e dançam. enquanto sua energia se transfere ara os produtos (em) que (os) consumimos. todos matéria-prima essencial de mil artigos supérfluos. credores de uma herança sempre adiada, até quando?

Uma estrofe do poema de Inexílio
Francisco Marcelo Cabral
1979

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