Ângela Montez – Sem Fotografias
Ausência
sentar sua
imagem
amassada
diante de um velho
espelho
e reconhecer palmo
a
palmo
o reflexo
que falta
os bairros não aportarão
nunca
as ruas correrão
agitadas
tudo estará fora de lugar
nesse mapa
o passado é um labirinto
de
veias
estreitas
e o homem um pássaro
com medo
estrangeira do tempo
do toque das molduras
douradas
esquecidas dos ventres
da polairóide
ao sabor da pele
sem
fotografias
inventa
um espaço novo
desesperado
plástico
que seja corpo
mas que não seja espelho
morto
Inventário
Em bandeira
somos
marchas
em luvas
brancas
o destino é
o mesmo
de mil seiscentos e qualquer um
desvendar
ou
estupro
as terras
aos ganhos
as índias
(araras verdes
bonitas
em estampas colegiais)
os índios
balouçando
em nosso
peitos
paternais
abrir caminho
é
antes de tudo
destino
com lanças hímens
arcabuzes
e sobrenomes
trançados
em quatrocenséculos
e
tais
a linhagem
dilui-se no
esperma
herdado
de El-Rei
sobre o nome
pesam
poderes mágicos
magistraturas
a chave do tamanho
para qualquer
figura
(caber
significa
rodar pé ante pé
sobre si mesma
numa bailarina
ofensa
aos desejos)
não há esquinas para cansaço
não há
o saber-se vendido
gritado
nas fruteiras
não há o século errado
exprimido
o sumo é o mesmo
mesmice
do eterno
descompasso cristão
dos espelhos
as saias as tangas
os sacristãos os vigias
os arrolados
e enroladores
bandeiras
que se vendem
como bananas
nesta
cidadania
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