Lígia Gasparoni Mangeon
Nesse quadro da Lígia há um ponto central forte que enfatiza a estrutura
subjacente do suporte com suas diagonais, e as linhas vertical e
horizontal. Ou seja, prevalece assim uma
estrutura simétrica e estática. Mas no primeiro plano de percepção temos outra
estrutura nada simétrica com seus sutis deslocamentos que enfraquecem aquele
ponto central. Nota-se também que em torno desse ponto central os tons se
rompem e assim perdem em intensidade. Nossa percepção atém-se para as massas
cromáticas em torno desse ponto e, assim, vários outros pontos se manifestam
simultaneamente. Como consequência nosso olho fica vagando pelo espaço plástico
engendrado pela pintura. Tudo nesse trabalho de Lígia é contraste e o mais
perceptível está nas diversas tonalidades de avermelhados e azulados. A
incerteza instala-se.
E há poesia. Por isso transcrevo um poema de Michael Palmer:
À febre das línguas
o metron, olho vagando
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Ao zero de ruas e de janelas
um braço na geometria
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Aos circos de redes
no primeiro rasgo
margem de uma imagem
unidades de distância
entre olho e pálpebra
Ao enxame de mensageiros
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À tempestade de poeira fina
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Aos pilares e às trilhas receptoras
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Às estradas ocultas do disco
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Ao casco de um barco falante
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