Palestra sobre
Cézanne
A palestra será dividida em 3 partes.
A primeira. Falaremos da dificuldade de interpretá-lo.
Cézanne pouco escreveu e, deixando Paris para se retirar em Aix em Provence,
pouco falou. Dizia sempre que preferia
pintar. Algumas de suas frases: “Les causeries sur l’art sont presque
inutile.” (O blá blá blá sobre arte é quase inútil.) Mas isso não implica que
Cézanne não se importava com questões teóricas. Ao contrário. Outras frases. “A
pintura é teoria aplicada diretamente em contato com a natureza.” “Não basta
ver, faz falta a reflexão.” Somente próximo de seu fim, foi procurado por
outros artistas, críticos e marchands. Um dos mais assíduos freqüentadores do
atelier de Cézanne foi Émile Bernard. E desse encontro um equivoco surgiu. A
inclusão do cubo nas reflexões de Cézanne e que fez fortuna nos movimentos dos primórdios
da arte moderna no princípio do século XX.
A interpretação de Argan.
A Teoria do não Objetos de Ferreira Gullar.
A segunda. Cézanne como pintor. Tentaremos mostrar como
rompeu com os impressionistas. Como desprezou uma teoria cromática baseada em
um círculo cromático absoluto que classifica as cores em primárias e
secundárias. Veremos seu respeito às observações de Pissarro, que muito
marcaram o pensamento cezanneano. Tentaremos falar um pouco do que afirmou a
Émile Bernard. “Vou lhe dizer o que é a verdade em pintura.” Nunca
disse, mas pintou, e se rastrearmos os artistas que o influenciaram (Poussin,
Chardin, Delacroix e Manet), podemos desvelar algo.
Análise de uma quadro de Chardin.
Nesta segunda parte falaremos ainda sobre a possibilidade de
repensarmos as questões cromáticas descartando uma teoria que considera o
círculo cromático absoluto. Afirmou: “A luz não existe para o pintor, tem que
substituída por uma outra coisa, a cor. Fiquei contente comigo mesmo quando
descobri isso.” Descartou, portanto, uma teoria cromática que se baseou no
espectro. Que teoria desenvolveu? Procuraremos entende-lo. Referia-se ainda a
um cinza que reina em toda natureza dificílimo de alcançar. Tentaremos definir
o cinza sempiterno, como passei a denominar esse cinza a que Cézanne se
referia. E mais, o rompimento do tom, a cor abstrata substantiva, a cor
concreta adjetiva, o serpenteamento vinciano, etc. Mostraremos que em importantes
livros sobre a teoria das cores Cézanne nem é citado ao contrário de Seurat. (A
historia das cores, de Manlio Brusantin; O espiritual na arte; de Kandinsky;
Teoria da arte moderna, de Klee; Interação das cores, de Albers; Teoria das
cores, de Itten; nos escritos de Hélio Oiticica e muitos outros). Quando é
citado, pouco de suas preocupações cromáticas são abordadas. E até mesmo em
livros de divulgação científica Cézanne é citado, ao contrário de Seurat. Mas
Cézanne estava bem consciente de suas descobertas. Afirmou: “Sou um primitivo
pelas coisas novas que descobri.”
Nesta parte tentaremos apontar para um dos possíveis
desdobramentos das suas descobertas: uma geometria das cores.
Na terceira parte falaremos de Cézanne como desenhista. Penso
que o mestre conseguiu apontar para uma autonomia do desenho, o que vale dizer,
do desenho livre das amarras históricas pelas quais, como escreveu Vasari, era
considerado. Falava-se do desenho como o pai das três artes: a pintura, a
escultura e a arquitetura. Nessa parte voltaremos a Leonardo e seu conceito de
serpenteamento. É uma frase difícil de compreender em sua totalidade. “Devemos
considerar com muito cuidado os limites de qualquer corpo e o modo como
serpenteiam, para julgar se suas voltas participam de curvaturas circulares ou
concavidades angulares”. Merleau-Ponty faz uma referência a essa frase e cita
Ravaison e Bergson. Estes entendem que o serpentaemento somente se explicaria
considerando os seres vivos, e como um eixo gerador. Pensamos que Leonardo nos
indica um outro conceito de linha. Uma linha potencialmente ativa.
Terminarei a exposição com uma pergunta a qual não
responderei. O que será que Cézanne quis dizer quando afirmou: “As cores são
quase umas mônadas.” Será que não está nessa afirmação uma referência ao cinza
sempiterno?
Nenhum comentário:
Postar um comentário