sábado, 2 de março de 2013

Palestra sobre Cézanne



Palestra sobre Cézanne

A palestra será dividida em 3 partes.

A primeira. Falaremos da dificuldade de interpretá-lo. Cézanne pouco escreveu e, deixando Paris para se retirar em Aix em Provence, pouco falou. Dizia sempre que preferia  pintar. Algumas de suas frases: “Les causeries sur l’art sont presque inutile.” (O blá blá blá sobre arte é quase inútil.) Mas isso não implica que Cézanne não se importava com questões teóricas. Ao contrário. Outras frases. “A pintura é teoria aplicada diretamente em contato com a natureza.” “Não basta ver, faz falta a reflexão.” Somente próximo de seu fim, foi procurado por outros artistas, críticos e marchands. Um dos mais assíduos freqüentadores do atelier de Cézanne foi Émile Bernard. E desse encontro um equivoco surgiu. A inclusão do cubo nas reflexões de Cézanne e que fez fortuna nos movimentos dos primórdios da arte moderna no princípio do século XX.

A interpretação de Argan.

A Teoria do não Objetos de Ferreira Gullar.

A segunda. Cézanne como pintor. Tentaremos mostrar como rompeu com os impressionistas. Como desprezou uma teoria cromática baseada em um círculo cromático absoluto que classifica as cores em primárias e secundárias. Veremos seu respeito às observações de Pissarro, que muito marcaram o pensamento cezanneano. Tentaremos falar um pouco do que afirmou a Émile Bernard. “Vou lhe dizer o que é a verdade em pintura.” Nunca disse, mas pintou, e se rastrearmos os artistas que o influenciaram (Poussin, Chardin, Delacroix e Manet), podemos desvelar algo.

Análise de uma quadro de Chardin.

Nesta segunda parte falaremos ainda sobre a possibilidade de repensarmos as questões cromáticas descartando uma teoria que considera o círculo cromático absoluto. Afirmou: “A luz não existe para o pintor, tem que substituída por uma outra coisa, a cor. Fiquei contente comigo mesmo quando descobri isso.” Descartou, portanto, uma teoria cromática que se baseou no espectro. Que teoria desenvolveu? Procuraremos entende-lo. Referia-se ainda a um cinza que reina em toda natureza dificílimo de alcançar. Tentaremos definir o cinza sempiterno, como passei a denominar esse cinza a que Cézanne se referia. E mais, o rompimento do tom, a cor abstrata substantiva, a cor concreta adjetiva, o serpenteamento vinciano, etc. Mostraremos que em importantes livros sobre a teoria das cores Cézanne nem é citado ao contrário de Seurat. (A historia das cores, de Manlio Brusantin; O espiritual na arte; de Kandinsky; Teoria da arte moderna, de Klee; Interação das cores, de Albers; Teoria das cores, de Itten; nos escritos de Hélio Oiticica e muitos outros). Quando é citado, pouco de suas preocupações cromáticas são abordadas. E até mesmo em livros de divulgação científica Cézanne é citado, ao contrário de Seurat. Mas Cézanne estava bem consciente de suas descobertas. Afirmou: “Sou um primitivo pelas coisas novas que descobri.”

Nesta parte tentaremos apontar para um dos possíveis desdobramentos das suas descobertas: uma geometria das cores.

Na terceira parte falaremos de Cézanne como desenhista. Penso que o mestre conseguiu apontar para uma autonomia do desenho, o que vale dizer, do desenho livre das amarras históricas pelas quais, como escreveu Vasari, era considerado. Falava-se do desenho como o pai das três artes: a pintura, a escultura e a arquitetura. Nessa parte voltaremos a Leonardo e seu conceito de serpenteamento. É uma frase difícil de compreender em sua totalidade. “Devemos considerar com muito cuidado os limites de qualquer corpo e o modo como serpenteiam, para julgar se suas voltas participam de curvaturas circulares ou concavidades angulares”. Merleau-Ponty faz uma referência a essa frase e cita Ravaison e Bergson. Estes entendem que o serpentaemento somente se explicaria considerando os seres vivos, e como um eixo gerador. Pensamos que Leonardo nos indica um outro conceito de linha. Uma linha potencialmente ativa.

Terminarei a exposição com uma pergunta a qual não responderei. O que será que Cézanne quis dizer quando afirmou: “As cores são quase umas mônadas.” Será que não está nessa afirmação uma referência ao cinza sempiterno?

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