quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

José Maria Dias da Cruz : Cézanne. Sérgio Millit, Espinosa e Poussin




O impasse

Quando Cézanne afirmou que entre o objeto e o pintor se interpõe um plano, a atmosfera deu inicio a uma nova arte. Uma crise que começa em fins do século XIX se instala. Ela resulta no início da industrialização com a consequente luta de classes. Escritores como Victor Hugo e Charles Dickens a denunciam.
A partir de Cézanne, quando o espaço plástico deixou de acontecer lá, além do suporte, como preconizava Alberti, para acontecer aqui, coincidindo com esse no qual nos orientamos. Daí Duchamp ter colocado nele sua obra A fonte. A arte passou a realizar-se nesse espaço imediato.
Como pintor esses são meus pontos de referência. Estudiosos de outras disciplinas poderão se aprofundar nessas questões.
Interessante é relermos o livro de Sérgio Millit, A marginalidade da arte moderna. O que vemos hoje é o agravamento dessa crise, daí me perguntar: a arte e a pintura contemporâneas estão vivendo um impasse? Creio que sim. Praticamente um século de ocupação desse espaço imediato está se esvaziando e por consequência uma coisa nova se faz urgente.
A cor abstrata substantiva e concreta adjetiva, Espinosa e Poussin
Digo que a cor abstrata é uma ideia e que subsiste por si mesma e que a cor concreta é adjetiva, que é um par, contém em si sua oposta, que se rompe por ação dessa oposta, e cuja condição é ser no colorido. Digo mais, que o pintor lida com as duas. Acredito que com esses conceitos pelos quais descartamos a ideia de cor definida em função do espectro e também considerando só a percepção, podemos entender Cézanne quando ele afirma que a luz não existe para o pintor. Com esses conceitos de cor podemos distinguir o que seja um colorido e um desenho colorido. Ou seja, podemos entender o que seja um colorido. Este tem sua lógica própria, e não mais somente diversas cores em uma superfície seguindo um determinado princípio de harmonia.
Certamente esses conceitos podem nos levar hábitos estéticos que somente com o tempo farão algum sentido.
Assim podemos nos aproximar de Espinosa e entender Cézanne quando ele diz que na natureza tudo é colorido e que a arte é uma religião.
Para Espinosa Deus não é mais um criador, mas a própria natureza como causa de si mesma e, por consequência, um produtor. Para Espinosa, Deus (ou a natureza), tem toda a liberdade, nada o constrange. Já o homem não tem toda essa liberdade, pois o que lhe é exterior o constrange.
Considerando a epistemologia de Espinosa podemos de uma forma bem simplificada dizer que primeiro o homem percebe o objeto e em seguida usa de sua razão para a compreensão desse objeto. Mas com isso não ultrapassa o constrangimento, ou seja, não produz nem cria, e por consequência, não consegue ser livre. Para tal Espinosa nos fala de uma terceira etapa. Nesta o homem pode, por uma sabedoria adquirida, criar, e neste ato se aproximar da natureza e entender melhor a liberdade. O filósofo fala de uma criação, ou conhecimento por intuição. Agora podemos fazer uma referência a Poussin, que se refere a uma percepção considerando o simples aspecto do objeto, e um olhar prospectivo que considera o saber do olho que é bem mais que uma simples percepção.






Nenhum comentário:

Postar um comentário