sábado, 25 de fevereiro de 2017

com José Maria Dias da Cruz (Jm), filho do escritor Marques Rebelo

Eduardo Zomkowski
Uma tarde memorável com José Maria Dias da Cruz (Jm), filho do escritor Marques Rebelo, e com Jandira Teske, sua fiel amiga.
Lúcido e jovial, muito amável, vez que outra me evocando a mordacidade do pai, seu José Maria é sincero e devotado artista, incansável investigador da pintura, além de premiada testemunha de encontros entre nossos antigos intelectuais, como Jorge Amado, Burle Marx, Paulo Francis, Poty Lazzarotto, os quais costumava ver e a quem hoje se referiu. Estou porém diante do filho de Rebelo, e é natural que por este nutra especial predileção:
— No apartamento de seu pai, você conheceu vários intelectuais, pintores...
— Sim, sim, e veja só, rapaz... — recordava por trás dos óculos brilhantes: — No apartamento em que morávamos, havia sempre gente interessante... o Samuel Wainer, o Jorge Amado, o Paulo Francis, o Jango, muitos outros. O Jorge Amado, ora, o Jorge Amado ficava lá de pé admirado, emudecido e escutando. E no centro dessas reuniões, meu pai contando histórias, piadas, discutia assuntos intelectuais.
— Ela era bastante engraçado, não? Tinha uma língua ferina.
― Sim, sim... e era homem de alta cultura artística, e até filosófica. ― respondeu. ― Veja só: com aquele seu jeito persuasivo, envolvente... argumentos aqui e ali... ele ia cingindo a pessoa, trazendo-a para a sua idéia e, rapaz! algumas vezes ficava difícil acompanhar a discussão. Quantas vezes um amigo cortava com um argumento superior, e ele vinha com um mais alto, e outro, e outro, e assim ia coisa até que ficávamos boiando. Meu pai era um homem muito culto.
*
Dia de exposição da Bienal ("Não vi nada de novo por aqui! Você viu, Jandira?..."), no Café do Niemeyer conversava gente bonita, fina, sofisticada. Era agradável estar ali, no meio de tanta beleza e beldade. Porém José Maria é genuíno carioca, da saudosa raça da gente antiga, muitas histórias que contar e com quem logo ficamos à vontade, como pouca vez é dado experimentar. Presenteou-me com o recente "O Melhor do Conto Brasileiro" (J. Olympio) e com o seu "O Cromatismo Cezanneano", deitando neles sua plástica dedicatória.
Tomamos uns cafés e fumamos os nossos cigarros, bem-acompanhados da afável Jandira.
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Errando no labirinto do Centro Histórico, em busca da Rua Clotário Portugal ("Rapaz, e não é que o curitibano não tem relação com as ruas?..."), deixei-o enfim a porta do seu hotel, recebi efusivo abraço e a certeza de que retornará para melhor nos conhecer e contar suas histórias.
(Domingo, 20 de outubro de 2013)

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