sexta-feira, 4 de julho de 2014

O PENSAMENTO PLÁSTICO


O PENSAMENTO PLÁSTICO

Falamos anteriormente de um pensamento plástico. Pode- mos constatar um conflito entre o discurso verbal e a percepção visual. O filósofo Mário Guerreiro indaga se “devemos concordar com a ideia de que o percebido só se faz passando pelo crivo da nomeação, como se a linguagem estivesse filtrando a percepção, canalizando-a no sentido de só poder captar certos padrões em detrimento de outros.” Digo que o pintor tem que lidar com as duas abordagens das cores. Mas, pensando plasticamente, não faz sentido a nomeação. Por exemplo, um terra de sombra queimada, um vermelho de cádmio claro, um magenta, um castanho, um rosa claro são todos avermelhados. E, assim, plasticamente os diversos azulados, amarelados e esverdeados e os claros e escuros, as cores simples de Leonardo além dos brancos e pretos.  Se observarmos, lado a lado, dois vermelhos e dois verdes, notaremos, tanto nos primeiros como nos segundos, desvios para os amarelados ou azulados. Se repetirmos a experiência com dois amarelos e dois azuis, notaremos que ambos os pares se desviam para os avermelhados ou esverdeados. Dessa forma não mais precisamos nomear as cores a partir de seus específicos matizes. Um magenta será para nós um vermelho-azulado, um terra de sena queimada, um vermelho-amarelado. E o mesmo para os diversos amarelos ou azulados. Nossa percepção ficará, se livre das nome- ações, mais aguçada. Para fins práticos podemos construir um diagrama em quadrantes a partir dessas simples percepções que poderão representar vários coloridos. Abole-se, portanto, um cír- culo cromático absoluto, ficamos mais livres para observarmos as sutilezas cromáticas de Cézanne e notamos sua singularidade face a seus contemporâneos. Há ainda os contrastes simultâneos. Uma mesma cor pode ter inumeráveis tonalidades conforme aquelas de suas vizinhas, a qualidade da luz, os rompimentos contínuos, etc. Assim podereos dizer que, plasticamente, temos os claros, os escuros, os aver- melhados, os esverdeados, os amarelados e os azulados – as cores simples de Leonardo. Claro, um pensamento plástico não elimina para o pintor o pensamento verbal. Ele tem que saber como lidar com os dois. E certamente com outros, como o pré-lógico, o táctil, o auditivo, o mágico, etc.

Nenhum comentário:

Postar um comentário