quarta-feira, 2 de julho de 2014

Frase de Leonardo no Tratado da Pintura.

Obsevando uma maria-sem-vergonha ou vpários caminhos para o infinito - o/s/t - 60 x 73 1996


Frase de Leonardo no Tratado da Pintura.
    De como as figuras que não expressam o pensamento estão duas vezes mortas.

Se as figuras não fazem os gestos vivos que mediante seus braços expressem o conceito de sua mente, tais figuras estão mortas duas vezes, pois mortas estão essencialmente, pois a pintura não é viva, senão expressão sem vida de coisas vivas, e se não se acrescenta a vivacidade do gesto morrem por uma segunda vez.

A flor e a cerca viva

Como pintor tentei no final da década de oitenta e início da de noventa resolver um problema. Observei uma cerca viva e uma flor em um sítio de um amigo. Surgiu uma posição menos contemplativa que i investigativa. Pensei: ou pintamos a flor, e perdemos a cerca viva, ou pintamos esta e perdemos a flor. Uma contradição, portanto. Disse, na ocasião, que o enquadramento, como um espaço limitado, engendraria a questão. Percebi que composição decorrente do enquadramento é m limitante. Devemos pesar em uma secção do espaço e assim composição passa a ter outro sentido. A anulação da contradição resolveu-se pela inclusão do fenômeno do rompimento do tom, que é a manifestação no quadro do cinza sempiterno, que não existe, pois é um pré ou pós-fenômeno.

Hoje posso dizer, com as novas descobertas no campo da ciência, que esse cinza sempiterno potencializa o espaço plástico e comporta-se como o terceiro incluído, anulando o contraste entre a flor e a cerca-viva. Ou como o vazio-cheio da física quântica. Mas estas lógicas não invalidam a do cinza sempiterno, assim como outras que surgirem não apagarão as verdades das que se passaram. A totalidade do quadro ultrapassa essas análises episódicas amparadas em descobertas científicas. Somos levados a citar o Eclesiastes.

E sobre a frase de Leonardo? O cinza sempiterno anima o espaço.

Todas as coisas são difíceis; o homem não as pode explicar por palavras. O olho não se farta de ver, nem o ouvido se cansa de ouvir. O que é que foi? É o mesmo que há de ser. Que é o que se fez? O mesmo que se há de fazer. Não há nada de novo debaixo do sol, e ninguém pode dizer: Eis aqui uma coisa nova, porque ela já existiu nos séculos que passaram antes de nós. Não há memória das coisas antigas, mas também não há memória das coisas que hão de suceder depois de nós entre aqueles que viverão mais tarde.”

Mas, no quadro referido, a flor foi pintada em uma intensidade (verde e rosa) em desarmonia com o restante da intensidade geral do quadro onde também podemos constatar a extensão da cerca-viva. Considero desarmonia como uma não convivência entre a “flor” e a “cerca-viva” e uma situação estática. Considerando-se os coloridos dinâmicos, uma desarmonia em um determinado nível de percepção e realidade pode se transformar, em outro nível, em uma harmonia.

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