domingo, 2 de setembro de 2012

Sobre um quadro de Rosane Franco



Sobre um quadro de Rosane Franco



Parece-me que há uma ordem no quadro pela organização que permite pensar no espaço através de elementos gráficos ou formas geométricas históricas do desenho considerando-se a tradição vasariana: triângulos, uma cruz, círculos, todos bem proporcionados. Há, portanto, uma ordem, que se contrasta com um processo de desordem do lado esquerdo. Temos, então, um processo dinâmico de organização, reorganização que permite um continum. Este metafórico: vida, morte e ressurreição.
Opondo-se a um tratamento que obedece à tradição vasariana que priorizava o desenho há várias estruturas cromáticas: à direita, ao alto, uma unidade cromática baseada no rosa e seu oposto, um verde amarelado e uns vermelhos. Esta permite a passagem para outra unidade cromática, abaixo à direita, na qual dominam vermelhos com seus rompimentos. Do lado esquerdo, em conseqüência dessas duas unidades, outra unidade cromática com azuis e seus rompimentos em uma gama bem extensa. Há ainda os claros e escuros. 
Percebemos, entre outras coisas, uma dinâmica entre o gráfico e o pictórico, o primeiro entendido como mais formal e o segundo mais cromático
 O curioso é que me parece que com essa estratégia o conflito entre o masculino e o feminino se evidencia dentro da lógica do terceiro excluído. Mas Rosane Franco vai além. Há uma dinâmica na qual estão presentes, simultaneamente, momentos de harmonia e desarmonia, considerando-se esses dois conceitos como interdependentes. Rosane caminha para considerar harmonia e desarmonia uma só coisa em si dinâmica. Com isso abandona as certezas, os valores absolutos e nos leva a refletir sobre a lógica do terceiro incluído. O terceiro termo é a inclusão do cinza sempiterna que se dá no tempo. Isto é, a inclusão de um terceiro termo sem ferir o axioma da não contradição.
 O que está em jogo, entretanto, não é somente o que acima está dito. É, sobretudo, toda uma complexidade que se ilumina com um raio poético e nos leva a pensar no enigma.

José Maria Dias da Cruz                                                                                           Florianópolis, fevereiro de 2012.

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