Sobre um quadro de Rosane Franco
Parece-me
que há uma ordem no quadro pela organização que permite pensar no espaço
através de elementos gráficos ou formas geométricas históricas do desenho
considerando-se a tradição vasariana: triângulos, uma cruz, círculos, todos bem
proporcionados. Há, portanto, uma ordem, que se contrasta com um processo de
desordem do lado esquerdo. Temos, então, um processo dinâmico de organização,
reorganização que permite um continum. Este metafórico: vida, morte e
ressurreição.
Opondo-se
a um tratamento que obedece à tradição vasariana que priorizava o desenho há
várias estruturas cromáticas: à direita, ao alto, uma unidade cromática baseada
no rosa e seu oposto, um verde amarelado e uns vermelhos. Esta permite a
passagem para outra unidade cromática, abaixo à direita, na qual dominam
vermelhos com seus rompimentos. Do lado esquerdo, em conseqüência dessas duas
unidades, outra unidade cromática com azuis e seus rompimentos em uma gama bem
extensa. Há ainda os claros e escuros.
Percebemos,
entre outras coisas, uma dinâmica entre o gráfico e o pictórico, o primeiro
entendido como mais formal e o segundo mais cromático
O
curioso é que me parece que com essa estratégia o conflito entre o masculino e
o feminino se evidencia dentro da lógica do terceiro excluído. Mas Rosane
Franco vai além. Há uma dinâmica na qual estão presentes, simultaneamente,
momentos de harmonia e desarmonia, considerando-se esses dois conceitos como
interdependentes. Rosane caminha para considerar harmonia e desarmonia uma só
coisa em si dinâmica. Com isso abandona as certezas, os valores absolutos e nos
leva a refletir sobre a lógica do terceiro incluído. O terceiro termo é a
inclusão do cinza sempiterna que se dá no tempo. Isto é, a inclusão de um
terceiro termo sem ferir o axioma da não contradição.
O
que está em jogo, entretanto, não é somente o que acima está dito. É,
sobretudo, toda uma complexidade que se ilumina com um raio poético e nos leva
a pensar no enigma.
José
Maria Dias da Cruz Florianópolis,
fevereiro de 2012.
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