Cézanne e a superfície do quadro e o
plano (a atmosfera) a sua frente.
Frases de Cézanne:
“Tratar a natureza através do cone, da esfera e do cilindro,
[...].”
“Os corpos na natureza são todos convexos”
“Entre o objeto e o pintor se interpõe um plano, a
atmosfera.”
“A Natureza é mais em profundidade que em superfície.”
“Quero chegar a perspectiva unicamente pelas cores.”
Frases de Braque:
“Não é o bastante fazer ver o que se pinta, é preciso ainda
fazer tocar.”
“O espaço visual. O espaço tátil. O espaço manual.”
Desdobramento
Percebemos uma superfície não em duas dimensões, mas em
três, sendo que a terceira é dada pela
distância entre o observador e essa superfície. Na medida em que se aproxima dessa
superfície, mais presente vai se formando a necessidade de tocá-la, ou seja,
mais o tátil se manifestando. Mais
próximo ainda, chega-se ao espaço manual. Isso nos remete ao que Poussin afirma
sobre as diversas distâncias quando nosso olhar é prospectivo. Essas
distâncias demonstram que quanto mais afastado o observador estiver, mas
o espaço é visual. Com a aproximação chega ao espaço manual passando pelo
espaço tátil.
Se
compararmos os dois quadros de Cézanne com um de VanGogh podemos perceber que o
espaço plástico cezanneano acontece à frente do quadro, e nesta atmosfera a que
ele se referia, enquanto que em Van Gogh o espaço acontece além da superficie
do suporte como ilusão. Cézanne rompe com o conceito do espaço plástico
proposto por Alberti.
Creio
que isso pode nos levar a uma investigação mais profunda das descobertas
cezanneanas, inclusive para entendermos os valores hápticos que são uma das
propostas destas observações.
O
que temos que investigar de início: o que ocorre neste plano que se interpões
entre o modelo e o pintor? Mas se deve anotar que Cézanne conseguiu chegar a
esse olhar pesrpectivo unicamente pelas cores. E um olhar, nesses últimos
quadro, já totalmente desligado de quaisquer resquícios da perspectiva
renescentista.
Aqui
um parêntesis. Na geometria euclidiana os sólidos geométricos são acromáticos,
portanto, abstrações, uma vez que na natureza, segundo Cézanne, tudo está
colorido. E mais ainda. Para ele cor e forma são uma só coisa. Daí ter dito
que “quanto mais a cor se harmoniza, mais a forma se precisa.”
Se
observarmos esses dois quadros de Cézanne, realizados em sua maturidade.
Veremos que o espaço plástico de manifesta como uma superfície com vários
acidentes sobre o plano do suporte projetando-o para frente, vindo a coincidir
com este no qual nos orientamos. Como as
cores são concretas adjetivas, têm uma dimensão temporal, surgem pequenas
superfícies ora cônicas, ora cilindrícas, ora esféricas (uma das formas das
pequenas sensações?), pequenas superfícies
em constante transformaões. Como
estamos de tal forma condicionados a pensarmos no espaço a partir daqueles
sólidos geométricos, temos que fazer um certo esforço para percebermos a como Cézanne
rompeu com padrões culturalmente internalizados em nossos espíritos.
Para
melhor percebermos o que tento mostrar, podemos comparar esses quadros de
Cézanne com a paisagem de Van Gogh. No quadro deste o espaço plástico está
ainda alem da superfície do suporte, e nelas
uma série de acidentes mas sem uma dimensão temporal. Tai8s fenômenos não se
dão às explicações racionais e ao discurso verbal – pertencem unicamente ao
pensamento plástico.
Estas
anotações, assim, ficam por aqui. Que o olho as faça perceptíveis, é o que
pretendemos.
José
Maria Dias da Cruz
Florianópolis,
setembro de 2012
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