domingo, 23 de setembro de 2012

BobN






Essa obra de BobN está aqui registrada. Temos então o seguinte. Há a obra e há o registro. A primeira em um espaço imediato. A segunda em um espaço remoto. Este se perpetualiza e, assim, ganha um passado, um presente e um futuro. Já a obra está sempre no presente.  Nessa abrangência o trabalho de BobN ganha muitos contornos. Um deles que se relaciona com os tempos, seja o chronos, kairós ou aión. Outra situação: a obra mostra uma bancada de feira e nela, “à venda”, bananas e livros. Como banana é uma coisa e livro outra temos que postos à venda criam situações diferentes, até mesmo conflitantes pois ninguém vai a uma feira de alimentos para comprar livros e nem a uma feira de livros para comprar bananas. Não temos como conter o riso. Citemos, então, Bergson.
“É cômica toda combinação de atos e de acontecimentos que nos dê, inseridas, uma na outra, a ilusão de vida e a sensação nítida de arranjo mecânico.”
“Ela delata nossas extremas e inatingíveis exigências para conosco que, por vezes, tornam nossas vidas inviáveis. Ela provoca a reflexão sobre as formas como nos relacionamos, sentimos, pensamos, vivemos. Ela expressa nossa insatisfação, nossas angústias, nosso sofrimento. Mas ela também nos permite tornar nossas ações risíveis e, com isso, trazer à tona a leveza da vida.”

sábado, 22 de setembro de 2012

Troca de emaoils com Silvana Lal



Troca de e-mail com Silvada Leal












                                                                                                                                   

Silvana

Fui a exposição no Museu de Arte de Santa Catarina. Fiquei entusiasmado com seu trabalho. Já havia gostado do que vi no m Museu Histórico como te falei. Com essa agora aumentou minha admiração. Percebi que um trabalho exposto, por exemplo, é esvaziado de tudo que é supérfluo. Nenhuma insinuação em um sentido, e noutro, outras insinuações.  Ele, o trabalho, é informado por vários que estão expostos e assim ultrapassa o conceito, o narrativo e passa a ser uma metáfora com uma grande carga poética. E mais ainda, um outro espaço se faz possível. (Essa é a grande conquista da modernidade e que está sendo aprofundada na contemporaneidade – os novos espaços, e que também devem ser compartilhados pela pintura.) Sobre o trabalho refiro-me a uma peça de pano em forma de um corpo e com vários mariscos aplicados. Que beleza! Nos vídeos as ondas batendo nas rochas (ou no corpo?). Quantos poemas nos vem à lembrança! Daí pouco me servem as palavras agora. Vai um poema do Ivan Junqueira como a melhor resposta.

O POLVO

No golfo um polvo hermético se move
entre algas de silêncio e solidão;
no golfo, um polvo, aquático espião,
agita seus tentáculos, remove,
sem trégua, a lama espessa que recobre
o tácito esqueleto de seu pão.
Mas não sabe a polpa nem o grão
do plasma em chamas que o molusco engole.
Sabe-se apenas que o animal se inclina,
voraz, sobre a nudez da essência pura
e nela enterra a fome de seu dente.
Sabe-se mais: que o mar se transfigura
e à tona envia um anjo incandescente
quando no golfo o polvo se ilumina.

Ivan Junque

Olá josé Maria,

Muito grata! Fico muito contente por suas palavras e sentidos. Você realmente sente a minha obra. Esta exposição está impregnada com o sagrado e não tem espaço mesmo pra o supérfluo. Ele é contaminado pela poesia do viver, pois tudo está impregnado pela minha experiência de vida. Para dar vida a personagem molusco habitante, iniciei o processo pelo meu nascimento. o que há de vir? É um trabalho incrustado na minha paixão pelo mar e dos mitos que dele extraio. 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012



Continuando o que escrevi sobre Cézanne e a superfície.  Email para Ricardo Simões.
Ricardo

Só agora te respondo.

Esse seu quadro está me fazendo pensar, inclusive face a sua observação em relação a Clement Greemberg.

Vejamos. Cézanne nos mostrou esse plano à frente do quadro. Há um descolamento de uma estrutura de um plano atrelado à superfície do suporte. Creio que o problema está em se descobrir qual a nova estrutura que Cézanne se apóia. Creio q está baseada em uma lógica da geometria das cores que ainda a de vir Assim Cézanne já apontou para muito mais do que esse crítico sugeriu: a dimensão planar da pintura, esta inteiramente subordinada a estrutura do suporte.
Em Cézanne podemos, então, compreender o que ele escreveu a Émille Bernard: “Trate a natureza através doa esfera, do cilindro e do cone, tudo situado em perspectiva, ou seja, que cada lado de um objeto, de um plano, se dirija a um ponto central.”
Como ele disse que queria chegar à perspectiva unicamente pelas cores certamente devemos pensar não em formas geométricas como formas geométricas históricas que permitam a construção de um espaço plástico. Será que a geometria dos fractais pode ser tomada como um apoio? Cézanne se refere às pequenas sensações. Em cada uma delas se manifesta o cinza sempiterno que é um ponto. Não seria esse ponto para o qual os lados dos objetos e dos planos se dirigem? Neste caso haveria um fracionamento e em todos uma constante, esse ponto. 

Abro aqui um parêntesis.

O Brasil é um país curioso. Tivemos aqui o fenômeno do Manuel Antônio de Almeida que foi realista muito antes desse movimento surgir na Europa. Mas ainda somos um país que culturalmente de atrelada  às descobertas de fora. Olhamos pouco para a nossa história das artes (será que ainda por escrever?). Manoel Antônio de Almeida devia naturalmente ser leitura  de todo brasileiro. Se não ainda não é nos podemos indagar o porquê.   
Entre os pintores americanos modernos podemos ver as obras de John Marin e Krehbiel.

 John Marin


Krihbiel

Dos artista brasileiros Martinho de Haro e Guignard


        
         Marinho de Haro


        Guignard

Ainda aqui no Brasil podemos citar o artista Orlando Mollica.



Mollica

Continuo então, mas ainda de forma bem resumida. Preciso de mais tempo.   Ainda o descolamento da estrutura desse plano. Frank Stella percebeu esse problema de e basta vermos um de seus trabalhos para o compreendê-lo.


   Frank Stella

Já o seu quadro nos inquieta, pois parece que temos que descobrir essa nova estrutura na qual ele se baseia. Não é estrutura subjacente do suporte ou na geometria euclidiana que ele se liga e que  a partir dela se constrói.


   Ricardo Simões


Veja o que me escreveu uma amiga, Célia Galdino de Pattacini. Muito pertinente.


Te escrevi um e-mail comentando q estou pensando um publicar um livro com textos q escrevi. Um deles q havia pensado está no meu arquivo mais infelizmente sem a imagem de seu quadro. Será que vc ainda tem essa imagem? Depois de escrito gostaria tbm de colar na minha pag do Face.

Fico esperando suas observações. Fico sempre com muitas dúvidas.

De qualquer forma creio que estou me encaminhando para escrever algo sobre esse seu novo quadro. Muito bom mesmo. Parabéns.

Abraço JM

Respota a Ricarso Simôes


Ricardo

Só agora te respondo. 
 
 


Esse seu quadro está me fazendo pensar, inclusive face a sua observação em relação a Clememt Greemgerg.

Vejamos.

Cézanne nos mostrou esse plano à frente do quadro. Há um descolamento de uma estrutura de uma plano atrelado à superfície do suporte. Creio que o problema está em se descobrir qual a nova estrutura que Cézanne se apóia. Creio q está baseada em uma lógica da geometria das cosas. Assim Cézanne já apontou muito mais do que esse crítico sugeriu, a dimensão planar da pintura. E esta inteiramente subordinada a estrutura do suporte.

Abro aqui um parêntesis.

O Brasil é um país curioso. Tivemos aqui o fenômeno do Manuel Anônio de Lamenida que foi realista muito antes desse movimento surgir na Europa. Mas ainda somos um país que culturalmente de atreala às descobertas de fora. Olhamos pouco para a nossa história das artes (será q ainda por escrever?). Manoel Antônio de Almeida devia ser leitura naturalmente obrigatória de todo brasileiro. Se não ainda não é nos permite indagar o porquê.

Continuo então, mas ainda de forma bem resumida. Preciso de mais tempo.

Ainda o descolamento da estrutura desse plano. Frank Stella percebeu esse problema e basta vermos um de seus trabalhos para o compreendê-lo. 
 
 

Já o seu quadro nos inquieta pois parece que temos que descobrir essa nova estrutura na qual ele se baseia. Não é mesmo na estrutura subjacente do suporte ou na geometria euclidiana que ele se liga e a partir dela se constrói.

Veja o que me escreveu uma amiga, Célia Galdino de Pattacini. Muito pertinente.


Te escrevi um e-mail comentando q estou pensando um publicar um livro com textos q escrevi. Um deles q havia pensado está no meu arquivo mais infelizmente sem a imagem de seu quadro. Será que vc ainda tem essa imagem? Depois de escrito gostaria tbm de colar na minha pag fo Face.

Fico esperando suas observações. Fico sempre com muitas dúvidas.

De qualquer forma creio que estou me encaminhando para escrever algo sobre esse seu novo quadro. Muito bom mesmo. Parabéns.

Um forte abraço
JM

sábado, 8 de setembro de 2012

Andrea Facchini



Andrea Facchini

“Se poesia não há, a arte é pura fabricação”   

                                                                                    Tasso.

SOBRE SALTOS E JARDINS, Série: CAROCHINHA, Acrílica sobre linho,
115 cm x 45 cm,  2012 - Este trabalho está na Luciana Caravello Arte Contemporânea


Muito bom esse trabalho da Andrea. Merece umas palavras pela inventividade, pelas soluções plásticas e pela enorme carga poética.  Vejamos, há um forte contraste do fundo com as figuras. Estas são modeladas, o fundo é todo chapado, igual em toda a sua extensão. Deve-se notar que as figuras são todas trabalhadas em um mesmo grau de detalhe. Temos então uma superfície plana que nos permite uma consciência do espaço plástico vertical e a sensação de que estamos diante de uma abstração. Prevalece, assim, um espaço gráfico no qual as relações formais ficam em um primeiro plano de percepção, ficando o pictórico a ele subordinado. O que vale dizer, não temos nem um, nem outro, com valores absolutos.
Um tempo então se impõe e com ele se esclarece a poesia. Transcrevo agora uma citação que me foi mostrada por Milton Machado. “Devemos dizer que o primeiro não o primeiro é se não houver, depois dele, um segundo. Consequentemente, o segundo não é apenas aquilo que vem, como algo que chega com atraso, depois do primeiro, mas é o que permite ao primeiro ser um primeiro.  Assim, o primeiro não tem como ser um primeiro por sua própria potência, por seus próprios meios: o segundo deve ajudá-lo com toda a força de sua demora. É através do segundo que o primeiro é o primeiro.
A ‘segunda vez ‘ tem portanto uma certa prioridade sobre ‘a primeira vez’, pois está presente, já desde a primeira vez, como condição prévia  para a prioridade da primeira vez (sem contudo que seja ela mesma, evidentemente, uma 1primeira vez’ mais primitiva): Daí que a 1primeira vez’ é, na realidade, a terceira vez.” (Vincent Lescombes, Les même et les autres;quatente e cinq ans de phiplosophie, française 91933-1878).
Há o gráfico, e há o pictórico que chega. E com ele o sono.

José Maria Dias da Cruz                                                                                                              Florianópolis - 2012