domingo, 4 de outubro de 2015

José Maria Dias da Cruz -

“Estou aqui, ou ali ou mais além” Eliot

Com Alberti, o espaço plástico acontecia no plano do suporte até um ponto além dele. Como uma pirâmide e o vértice, é esse ponto além. Representava-se o espaço remoto, e a moldura servia para separar o espaço remoto do imediato. Leonardo, pelo serpenteamento, ou seja, por seus estudos dos limites dos corpos a partir de uma visão biocular, passou a representar o espaço imediato, mas o espaço plástico continuou ocorrendo além do plano do suporte, conforme preconizado por Alberti. Cézanne, pelos rompimentos dos tons e do cinza, afirma que somente ele reina. E afirma mais ainda, que entre o objeto e o pintor se interpõe um plano, a atmosfera. Faz assim coincidir o espaço remoto com o imediato. Portanto a moldura começa a ser dispensada. Podemos até indagar: não terá Duchamp, por um espírito de época, colocado a sua fonte nesse espaço intuído por Cézanne? Alguns artistas, e Mondrian é o melhor exemplo, aboliram a moldura, substituindo o quadro janela pelo quadro objeto, esse ocorrendo no espaço imediato, mas o espaço plástico coincidindo com o plano do suporte. Hélio Oiticica, com seus relevos, coloca o espaço plástico no espaço imediato.
Nessa minha natureza morta que ilustra este texto, representei uma moldura que poderia ter me levado ao quadro janela, enfatizando o plano pictórico como ali o fez Caravaggio em uma natureza morta (ver imagem).
Pelas cores simples, pelos rompimentos, o cinza sempiterno e o serpenteamento vinciano (pensado além dos limites dos corpos) procurei fazer coincidir simultaneamente o espaço remoto, o imediato, o quadro objeto e o quadro janela.
Assim, representa-se em um mesmo quadro o espaço plástico lá, ali e aqui.
José Maria Dias da Cruz – Florianópolis – abril de 2015

 Natureza Morta - o/s/t - 60 x 50 cm - 2010



Caravaggio

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