Um texto sem titulo
O artista não é um ego, é um eco.
“Jamais aderir” George Braque
Ao não aderir, e considerando o momento crítico no qual vivemos,
o artista é marginalizado e se marginaliza. (Leia-se a Marginalidade da arte
moderna de Sérgio Milliet e veja-se a obra de Hélio Oiticica).
Frase de Cézanne: “A luz não existe para o pintor, tem que
ser substituída por outra coisa, a cor.”
Devemos descartar o círculo cromático
iluminista e reintroduzir a cor na arte.
Substituir um círculo cromático absoluto por diversos
diagramas, considerando-se o rompimento de tom não mais como misturas
pigmentares, mas como a sobreposição em uma cor de sua pós imagem. Temos assim
uma dimensão temporal da cor.
Considerar a cor abstrata substantiva, que subsiste por si
só, e a concreta adjetiva, que é um par, que contém em si sua oposta e sua
condição é ser no colorido. Nem uma nem outra têm valores absolutos. Ou seja,
temos que considerar as incertezas.
Outra frase de Cézanne: “Entre o objeto e o pintor se
interpõe um plano, a atmosfera.” O mestre nos mostra que o espaço plástico
coincide com esse no qual nos orientamos. Duchamp percebeu esse novo espaço e nele
colocou um objeto, sua obra, A fonte. Repensar esses objetos considerando a cor,
o serpenteamento vinciano e um olhar não mais pelo simples aspecto do objeto,
mas um prospectivo, como nos adverte Poussin, olhar este que considera o saber do
olho, as diversas distâncias e os eixos visuais. Isso pode nos permitir uma
percepção,enriquecida pelo saber do olho, além do objeto.
Quando Poussin se refere aos eixos visuais e as diversas
distâncias, e se considerarmos também o rompimento do tom e a atmosfera entre o
objeto e o pintor intuída por Cézanne podemos considerar uma superfície com
mais de duas e menos de três dimensões.
Uma reinterpretação da frase de Leonardo da Vinci sobre o limite
de qualquer corpo na qual ele se refere às curvaturas circulares e concavidades
angulares e como serpenteiam nos permite um olhar pelos intervalos, o que
descarta vermos um objeto pelo simples aspecto.
Importante também é pensarmos no conflito entra e percepção
sensível e a linguagem. Se considerarmos um objeto pelo seu simples aspecto
logo o nomeamos, ou seja, passamos a pensá-lo racionalmente, isto é, dentro da
linguagem articulada. Cézanne não se baseia em um tema, mas em um motivo e diz
que na natureza tudo é colorido. Como as cores são enigmáticas, não há como
racionalizá-las. Mas podemos desenvolver nosso conhecimento também pelo saber
do olho, o que só é possível pelo pensamento plástico. Daí Braque afirmar que
explicar uma coisa, é substituir a coisa pela explicação.
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