O recalque da cor
Antes um resumo. Leonardo disse que o artista tem que
ultrapassar seu mestre. O que não significa ser melhor. Nem mais hábil.
Marguerite de Yuocernar diz que a perfeição contém em si a palavra fim. Nem tão
pouco concluir. Fernando Pessoa diz que "não me venham com conclusões, a
única conclusão é morrer. “Portanto
apenas continuar, na prática, sisificamente, as questões teóricas anteriores.
Isso dá pano para manga.
Raríssimos são os pintores contemporâneos coloristas. Muitos
ditos contemporâneos usam em seus quadros pouquíssimas cores, umas três ou
quadro. Alguns deles trabalhados com intervalos mínimos o que resulta numa
ausência de contrastes. Para compensar tal pobreza, procuram uns valores táteis
(pinceladas, etc.) e o resultado é uma descompensação, nenhuma objeto para uma reflexão,
nenhuma possibilidade dialética.
Vale, então, um olhar atento às obras de Morandi. As cores
são rompidas, rebaixadas, ou tristes como diria o teórico português do círculo
de Miguel Ângelo, Francisco Holanda, os intervalos mínimos, mas grandes os
contrastes e os valores táteis. Leva-nos às atmosferas que se interpõem entre o objeto e o pintor, atmosferas essas
tão perseguidas por Cézanne. Ou, como digo, ao cinza sempiterno. Daí às
reflexões.
Morandi
Observar que o objeto à esquerda azulado está sobre um fundo
mais amarelado e este, na medida q se aproxima da borda rompe-se levemente. Um
cinza sempiterno se manifesta. E nesse quadro podemos observar as cores simples
de Leonardo: esbranquiçado, amarelado, esverdeado, azulado, avermelhado e
escuro.
Morandi
Observe-se o objeto entre as duas garrafas esbranquiçadas.
Nele a parte iluminada é azulada e a sombra, mais escura, amarelada, um rompimento
do azul. Na garrafa à direita há uma parte iluminada levemente amarelada (um
tom rompido) contra um azul mais escuro. O cinza sempiterno se manifesta e dá
vida ao colorido. O gargalo esbranquiçado acentua o contraste claro escuro. Assim
no mesmo quadro são várias as passagens luz-sombra.
José Maria Dias da Cruz
O mito de Sísifo
Nuno Ramos em uma entrevista diz que apagaria o bigode da
Mona Lisa. Eu apagaria, desenharia, voltava a apagar, redesenharia...