sábado, 28 de novembro de 2015



O recalque da cor

Antes um resumo. Leonardo disse que o artista tem que ultrapassar seu mestre. O que não significa ser melhor. Nem mais hábil. Marguerite de Yuocernar diz que a perfeição contém em si a palavra fim. Nem tão pouco concluir. Fernando Pessoa diz que "não me venham com conclusões, a única conclusão é morrer.  “Portanto apenas continuar, na prática, sisificamente, as questões teóricas anteriores. Isso dá pano para manga.
Raríssimos são os pintores contemporâneos coloristas. Muitos ditos contemporâneos usam em seus quadros pouquíssimas cores, umas três ou quadro. Alguns deles trabalhados com intervalos mínimos o que resulta numa ausência de contrastes. Para compensar tal pobreza, procuram uns valores táteis (pinceladas, etc.) e o resultado é uma descompensação, nenhuma objeto para uma reflexão, nenhuma possibilidade dialética.
Vale, então, um olhar atento às obras de Morandi. As cores são rompidas, rebaixadas, ou tristes como diria o teórico português do círculo de Miguel Ângelo, Francisco Holanda, os intervalos mínimos, mas grandes os contrastes e os valores táteis. Leva-nos às atmosferas que se interpõem  entre o objeto e o pintor, atmosferas essas tão perseguidas por Cézanne. Ou, como digo, ao cinza sempiterno. Daí às reflexões.

Morandi

Observar que o objeto à esquerda azulado está sobre um fundo mais amarelado e este, na medida q se aproxima da borda rompe-se levemente. Um cinza sempiterno se manifesta. E nesse quadro podemos observar as cores simples de Leonardo: esbranquiçado, amarelado, esverdeado, azulado, avermelhado e escuro.

Morandi 




Observe-se o objeto entre as duas garrafas esbranquiçadas. Nele a parte iluminada é azulada e a sombra, mais escura, amarelada, um rompimento do azul. Na garrafa à direita há uma parte iluminada levemente amarelada (um tom rompido) contra um azul mais escuro. O cinza sempiterno se manifesta e dá vida ao colorido. O gargalo esbranquiçado acentua o contraste claro escuro. Assim no mesmo quadro são várias as passagens luz-sombra.

José Maria Dias da Cruz
O mito de Sísifo
Nuno Ramos em uma entrevista diz que apagaria o bigode da Mona Lisa. Eu apagaria, desenharia, voltava a apagar, redesenharia...





Os Formulários e a lógica do terceiro incluído



Os Formulários e a lógica do terceiro incluído


Um dos principais impactos culturais da revolução quântica foi o questionamento do dogma filosófico contemporâneo da existência de um único nível de Realidade. A revolução quântica desempenhou um papel importante no nascimento de uma nova abordagem, ao mesmo tempo científica, cultural, social e espiritual, a Transdisciplinaridade.
A Metodologia Transdisciplinar foi formulada pelo físico teórico Basarab Nicolescu em 1999. Partindo da área Física, fundamentada na lógica quântica, Nicolescu considerou os conceitos da teoria da Complexidade, e formulou a lógica do terceiro incluído. A Transdiciplinaridade é sustentada por três pilares;
Diferentes Níveis de Realidade
  1. Lógica do Terceiro Termo Incluído
  2. Complexidade
  Os três pilares da metodologia transdisciplinar estão mutuamente relacionados, sendo o foco fundamental recaído na lógica do terceiro termo incluído, a qual funciona como uma espécie de ferramenta conceitual que busca explicar a multiplicidade de interações que são difíceis de serem compreendidas segundo a lógica clássica. Isso, contudo, só é possível quando são introduzidos diferentes níveis de realidade e percepção.
  A lógica clássica aristotélica justificou a exclusão de um terceiro termo, de algo que é diferente. De certo modo, deu abertura a filosofias fundamentalistas, racistas e cientificistas, separando, inclusive, o "bem" do "mal" (Maniqueísmo).
Segundo Nicolescu, a transdisciplinaridade "transcende" as disciplinas do conhecimento humano, ou seja, ela está "entre", "através" e "além" delas. Sendo assim, a noção de transdisciplinaridade permite, ao transgredir as fronteiras epistemológicas de cada ciência disciplinar, construir um conhecimento que se dá "através" das ciências e que está integrado em função da humanidade, resgatando as relações de interdependência[2] .
Conflito de Lógicas

Representação artística de Aristóteles, pai da Lógica Clássica.
A lógica clássica é binária, ou seja, ela é constituída a partir de apenas dois valores de verdade: verdadeiro ou falso. Tal lógica, elaborada inicialmente por Aristóteles, é intuitiva, uma vez que ela está em conformação ao raciocínio humano[1] .
A lógica clássica está baseada na Lei do Terceiro Excluído, onde temos o seguinte raciocínio lógico: "ou A é A ou não é não-A e não há uma terceira possibilidade T". Dessa forma, dentro da lógica da Lei do Terceiro Excluído, não existe um terceiro estado no qual A possa ser A e não-A ao mesmo tempo, ou seja, não existe um estado e dualidade T para A[1] .
Sendo assim, a lógica clássica é considerada como “a lógica da realidade”, pois ela está fundamentada na própria estrutura da realidade, ou seja, ela, naturalmente, faz parte do raciocínio humano. Isso a tornou amplamente dominante na pesquisa e no ensino, criando a necessidade de um conhecimento construído na objetividade plena e na não contradição.
No entanto, as descobertas da Física Quântica no início do século XX, revelaram que os fenômenos que ocorrem em dimensões atômicas não correspondem à lógica clássica, uma vez que em dimensões microscópicas, estados opostos se complementam, podendo existir estados onde ocorrem dualidades.
O Princípio de Superposição Quântica está presente no centro de todos os desenvolvimentos atuais da Mecânica Quântica. Tal princípio é o responsável pela existência de paradoxos quânticos, os quais são consequência da grande dificuldade de compreensão dos fenômenos quânticos, uma vez que estes não podem ser vistos por meio do realismo clássico, onde a Lei do Terceiro Excluído funciona de forma lógica[1] .
A Física Quântica forneceu, portanto, elementos para a formulação desta nova ferramenta conceitual que é a lógica do Terceiro Incluído[1] .
Lógica Clássica

A lógica clássica está baseada em três axiomas:
  1. Axioma da Identidade: "A é A"
  2. Axioma da Não-Contradição: "A não é não-A"
  3. Axioma do Terceiro Excluído: "não existe um terceiro termo T que é ao mesmo tempo A e não-A".
Lógica do Terceiro Termo Incluído

De modo similar, uma lógica não-clássica pode ser baseada nos dois primeiros axiomas da lógica clássica, mas tendo como terceiro axioma, a Lógica do Terceiro Termo Incluído:
  1. Axioma da Identidade: A é A;
  1. Axioma da Não-Contradição: A não é não-A;
  2. Axioma do Terceiro Incluído: existe um terceiro termo T que é ao mesmo tempo A e não-A
Em ambas as lógicas, no primeiro axioma, a Identidade diz que uma coisa “é” o que ela “é”; no segundo axioma, a Não-Contradição diz que o que “é” não pode ser aquilo que “não-é”. No terceiro axioma, contudo, a lógica clássica, partindo do princípio de terceiro excluído, não admite a interação entre estados opostos, enquanto que a lógica do Terceiro Incluído, admite, podendo existir um terceiro estado T que é ao mesmo tempo A e não A.
O filósofo romeno Stéphane Lupasco responsável por desenvolver uma lógica não-aristotélica.
A contradição entre a identidade e a não-identidade é observada nas partículas, dentro da Física Quântica. O filósofo Stéphane Lupasco aceita esta contradição como um dado inevitável da experiência no que diz respeito à suposta identidade das partículas, uma tendência à heterogeneidade em um mundo que parece superficialmente dedicado à lidar com a homogeneidade[3] .
Ao desenvolver o seu formalismo axiomático, Lupasco a postula a existência de um terceiro tipo de dinâmica, antagônica, que coexiste com a dinâmica da heterogeneidade (a qual matéria viva), e com a da homogeneidade (a qual governa a matéria física macroscópica). Esse novo mecanismo dinâmico demanda a existência de um estado de equilíbrio rigoroso, exato, entre os polos de uma contradição, em uma semi-atualização e semi-potencialização estritamente iguais. Esse estado, chamado por Lupasco de estado T (“T” sendo a inicial do “terceiro incluído”), caracteriza o mundo microscópico, o mundo das partículas, ou seja, o objeto de estudo da Quântica. Portanto, o princípio de superposição quântica e de dualidade, por exemplo, pode ser melhor compreendido por meio de uma lógica não-clássica. Na Mecânica Quântica, um terceiro estado T é incluído. Devido ao próprio Princípio de Incerteza postulado por Werner Heisenberg, a combinação entre os estados de “existência” e “não-existência” é um estado físico admitido
Por outro lado, na lógica clássica, o determinante é o raciocínio não-contraditório, algo que se consolidou na concepção e organização do conhecimento ao longo dos séculos. Sendo assim, o conhecimento ficou “enclausurado” em um único nível de realidade, onde não seria lógico que dois estados contraditórios pudessem existir, pois, até então, nunca de havia observado algo desta natureza.
O terceiro incluído não significa afirmar o paradoxo da existência de algo e o seu contrário, o que, por anulação recíproca, destruiria toda possibilidade de predição e, portanto, toda possibilidade de abordagem científica do mundo. É necessário reconhecer que, dentro da Física Quântica, por exemplo, existem inúmeras conexões imutáveis e que realizar uma experiência ou interpretar seus resultados gera um "recorte" desta realidade. A entidade real pode, assim, mostrar aspectos contraditórios que são incompreensíveis do ponto de vista de uma lógica clássica fundada sobre o postulado do “ou isso ou aquilo”. Esses aspectos contraditórios deixam de ser absurdos em uma lógica não-clássica fundada sobre o postulado do “e isso e aquilo”, ou antes, “nem isso nem aquilo”. 
Dentro da lógica do terceiro incluído, os opostos não são eliminados, eles coexistem. Desse modo, ela não abole a lógica Aristotélica do "sim" e do "não", uma vez que apenas não se considera a existência de apenas dois termos mas, sim, de três; um terceiro que é o Terceiro Termo Incluído.
A lógica do Terceiro Termo Incluído permite o cruzamento de diferentes perspectivas, onde um sistema coerente e, ao mesmo tempo, aberto, é construído, permitindo uma melhor compreensão não só de fenômenos científicos, como no caso da Física Quântica, mas, também políticos e sociais.  

Formulário
Quando realizava os Formulários percebi que  que a lógica do terceiro incluído estava sendo discutida e percebi que também estava no mesmo caminho. Em alguns formulários estabelecia dois campos, em cada qual signos diferentes, mas com o mesmo valor. Por exemplo: a figura de um cachimbo, relógio, maçã e suas respectivas palavras. Em alguns formulários cada campo com uma tonalidade diferente, ou tendendo para um esverdeado ou avermelhado violáceo. Assim a lógica aristotélica do terceiro excluído era respeitada: A não é B. Mas baseado nos signos incluía um terceiro termo considerando a flecha do tempo. Assim um outro nível de realidade se estabelecia sem ferir o princípio de contradição aristotélico. Por ter intuído tudo isso pude tocar meu trabalho com bastante liberdade e acabei descobrindo que poderia desenvolver meu pensamento plástico.
As cores? Sempre me interessei por elas e com os formulários, e muito estudo do Tratado da Pintura do Leonardo da Vinci e de Cézanne cheguei ao cinza sempiterno e o serpenteamento. E hoje penso em uma geometria das cores.











sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O recalque da cor na cotemporaneidade - Morandi e Cezanne e o cinza sempiterno

O recalque da cor

Raríssimos são os pintores contemporâneos coloristas. Muitos  considerados coloristas usam em seus quadros pouquíssimas cores, uma três ou quatro. Alguns deles com trabalhados com intervalos mínimos o que resulta numa ausência de contrastes. Para compensar tal pobreza, procuram uns calores táteis (pinceladas, etc.) e o resultado é uma descompensação, nenhuma reflexão, nenhuma possibilidade dialética.

Vale, então, um olhar atento às obras de Morandi. As cores são rompidas, rebaixadas, ou tristes como diria o teórico português do círculo de Miguel Ângelo, Francisco Holanda, os intervalos mínimos, mas grandes os contrastes e os valores táteis. Leva-nos às atmosferas que se interpõem entre o objeto e o pintor, atmosferas essas tão perseguidas por Cézanne. Ou, como digo, ao cinza sempiterno.

 Morandi


 Morandi

domingo, 4 de outubro de 2015

Além do objeto - Kakati





Quando Cézanne afirmou que “entre o objeto e o pintor se interpõe um plano, a atmosfera”

fez coincidir o espaço plástico com esse no qual nos orientamos. Essa atmosfera se deve ao

rompimento do tom definido não mais por misturas pigmentares, mas pela sobreposição da

pós-imagem. Pelo aprofundamento dessa observação cezanneana diremos, então, que essa

cor que se rompe é concreta adjetiva, é um par que contém em si sua oposta e cuja condição é

ser no colorido. Opõe-se, assim, à cor abstrata substantiva, que subsiste por si mesma e é uma

ideia platônica. Topologicamente há uma fronteira (ou um intervalo) entre esse espaço

plástico resultante do rompimento do tom redefinido que permite uma passagem para o

espaço imediato no qual nos orientamos. E mais ainda: Cézanne rompe com o espaço plástico

albertiano, que acontecia além da superfície do suporte. Esse espaço deixa de ser lá, e passa a

ser ali – e nesse caso, como diz Braque, pode ser tocado, na medida em que o suporte é

coberto por uma pintura com cores que nos levam a pensa-las como abstratas substantivas, ou

seja, sem a manifestação de uma atmosfera – ou aqui, quando as cores são concretas

adjetivas. Essa percepção de Cézanne permitiu o surgimento do cubismo analítico. Os

historiadores de arte dizem que no cubismo analítico há a predominância de poucas cores

(preto, cinza e tons de marrom e ocre). O que há são rompimentos de tons, por exemplo, os

ocres, na realidade amarelados, se rompem em direção aos cinzas, ou melhor, por contrastes,

azulados. Em minha opinião, esse espaço imediato, aqui, permitiu a Duchamp, certamente por

um espírito de época, colocar sua obra, A fonte, como um objeto.

Vejamos, então, as obras de Kakati. Há um primeiro suporte pintado com um tom rompido,

que, embora criando uma atmosfera, pode ser percebido como um objeto. Mas a atmosfera

criada permite também sobrepor a esse primeiro objeto um outro suporte também pintado

com tons rompidos, portanto outro suporte. Há nisso uma estrutura topológica na medida em

que esse segundo suporte vai ocupando o espaço imediato.

É importante se dizer que não estamos considerando esses trabalhos de Kakati sendo vistos

por seus simples aspectos. Consideramos um olhar prospectivo, como nos adverte Poussin,

olhar esse que considera o saber do olho, as diversas distâncias e os eixos visuais. Esse saber

do olho nos permite ver pelos intervalos, nesse caso, as fronteiras consideradas em uma

estrutura topológica.

E assim avançamos e chegamos ao serpenteamento vinciano, ou seja, uma linha que tem uma

potência, uma oscilação, que anima o espaço plástico. Essa linha serpenteante difere da

euclidina, que é estática. Diremos, então, que Kakati está nos apontando para outra

geometria. O objeto transcende ou, em outras palavras, vai além do objeto.

José Maria Dias da Cruz -

“Estou aqui, ou ali ou mais além” Eliot

Com Alberti, o espaço plástico acontecia no plano do suporte até um ponto além dele. Como uma pirâmide e o vértice, é esse ponto além. Representava-se o espaço remoto, e a moldura servia para separar o espaço remoto do imediato. Leonardo, pelo serpenteamento, ou seja, por seus estudos dos limites dos corpos a partir de uma visão biocular, passou a representar o espaço imediato, mas o espaço plástico continuou ocorrendo além do plano do suporte, conforme preconizado por Alberti. Cézanne, pelos rompimentos dos tons e do cinza, afirma que somente ele reina. E afirma mais ainda, que entre o objeto e o pintor se interpõe um plano, a atmosfera. Faz assim coincidir o espaço remoto com o imediato. Portanto a moldura começa a ser dispensada. Podemos até indagar: não terá Duchamp, por um espírito de época, colocado a sua fonte nesse espaço intuído por Cézanne? Alguns artistas, e Mondrian é o melhor exemplo, aboliram a moldura, substituindo o quadro janela pelo quadro objeto, esse ocorrendo no espaço imediato, mas o espaço plástico coincidindo com o plano do suporte. Hélio Oiticica, com seus relevos, coloca o espaço plástico no espaço imediato.
Nessa minha natureza morta que ilustra este texto, representei uma moldura que poderia ter me levado ao quadro janela, enfatizando o plano pictórico como ali o fez Caravaggio em uma natureza morta (ver imagem).
Pelas cores simples, pelos rompimentos, o cinza sempiterno e o serpenteamento vinciano (pensado além dos limites dos corpos) procurei fazer coincidir simultaneamente o espaço remoto, o imediato, o quadro objeto e o quadro janela.
Assim, representa-se em um mesmo quadro o espaço plástico lá, ali e aqui.
José Maria Dias da Cruz – Florianópolis – abril de 2015

 Natureza Morta - o/s/t - 60 x 50 cm - 2010



Caravaggio

José Maria Dias da Cruz - sem título - o/s/t - 80 x 100 cm - 2015


José Maria Dias da Cruz - sem título - o/s/t - 90 x 70 cm - 2015


José Maria Dias da Cruz - Sem título - o/s/t´50 x 60 cm - 2015


José Maria Dias da Cruz


O Espaço plástico em Alberti e Cezanne


Além do objeto





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“Não é bastante fazer ver o que se pinta, é preciso fazer tocar” George Braque
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O espaço albertiano
O espaço albertiano ocorre da superfície do suporte até um ponto além dele. É um espaço plástico remoto, lá. Um quadro janela.
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O espaço plástico cezanneano
Em Cézanne o espaço plástico ocorre à frente do suporte. Coincide com esse no qual nos orientamos. O espaço plástico passa a ser aqui.
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Frase de Cézanne: “Entre o objeto e o pintor se interpõe um plano, a atmosfera.  O mestre nos mostra que o espaço plástico pode coincide com esse no qual nos orientamos. Duchamp percebeu esse novo espaço. Não porque tenha seguido Cézanne, mas levado por um espirito de época, ou da sincronicidade proposta por Jung e também para romper com o retiniano. Quando colocou sua obra A Fonte no espaço imediato ligou-se à tradição. Podemos dizer: tornou-se cezanneano.
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Podemos repensar o objeto considerando a cor, o serpenteamento vinciano com um olhar não mais pelo simples aspecto, mas por um prospectivo, como nos adverte Poussin, olhar este que considera o saber do olho, as diversas distâncias e os eixos visuais. E ver por fora para compreender o que está por dentro. Ou espinosamente: intuição com conhecimento. Isso pode nos permitir uma percepção, enriquecida pelo saber do olho, além do objeto.
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“Estou aqui, ali ou além.” T.S.Eliot
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