Os
Formulários e a lógica do terceiro incluído
Um dos
principais impactos culturais da revolução quântica foi o questionamento do dogma
filosófico contemporâneo da existência de um único nível de Realidade. A revolução quântica
desempenhou um papel importante no nascimento de uma nova abordagem, ao mesmo
tempo científica, cultural, social e espiritual, a Transdisciplinaridade.
A
Metodologia Transdisciplinar foi formulada pelo físico teórico Basarab Nicolescu em 1999. Partindo da área Física, fundamentada na lógica
quântica,
Nicolescu considerou os conceitos da teoria
da Complexidade, e
formulou a lógica do terceiro incluído. A Transdiciplinaridade é
sustentada por três pilares;
Diferentes
Níveis de Realidade
- Lógica do Terceiro Termo Incluído
- Complexidade
Os
três pilares da metodologia transdisciplinar estão mutuamente relacionados,
sendo o foco fundamental recaído na lógica do terceiro termo incluído, a
qual funciona como uma espécie de ferramenta conceitual que busca explicar a
multiplicidade de interações que são difíceis de serem compreendidas segundo a
lógica clássica. Isso, contudo, só é possível quando são introduzidos diferentes
níveis de realidade e percepção.
A
lógica clássica aristotélica justificou a exclusão de um terceiro termo, de
algo que é diferente. De certo modo, deu abertura a filosofias fundamentalistas, racistas e cientificistas, separando, inclusive, o "bem" do "mal" (Maniqueísmo).
Segundo
Nicolescu, a transdisciplinaridade "transcende" as disciplinas do
conhecimento humano, ou seja, ela está "entre", "através" e
"além" delas. Sendo assim, a noção de transdisciplinaridade permite,
ao transgredir as fronteiras epistemológicas de cada ciência disciplinar,
construir um conhecimento que se dá "através" das ciências e que está
integrado em função da humanidade, resgatando as relações de interdependência[2] .
Conflito
de Lógicas
Representação
artística de Aristóteles, pai da Lógica Clássica.
A lógica
clássica é
binária, ou seja, ela é constituída a partir de apenas dois valores de verdade:
verdadeiro ou falso. Tal lógica, elaborada inicialmente por Aristóteles, é intuitiva, uma vez que ela
está em conformação ao raciocínio humano[1] .
A lógica
clássica está baseada na Lei do Terceiro Excluído, onde temos o seguinte
raciocínio lógico: "ou A é A ou não é não-A e não há uma terceira
possibilidade T". Dessa forma, dentro da lógica da Lei do Terceiro
Excluído, não existe um terceiro estado no qual A possa ser A e não-A ao mesmo
tempo, ou seja, não existe um estado e dualidade T para A[1] .
Sendo
assim, a lógica clássica é considerada como “a lógica da realidade”, pois ela
está fundamentada na própria estrutura da realidade, ou seja, ela,
naturalmente, faz parte do raciocínio humano. Isso a tornou amplamente
dominante na pesquisa e no ensino, criando a necessidade de um conhecimento
construído na objetividade plena e na não contradição.
No
entanto, as descobertas da Física
Quântica no
início do século
XX,
revelaram que os fenômenos que ocorrem em dimensões atômicas não correspondem à
lógica clássica, uma vez que em dimensões microscópicas, estados opostos se
complementam, podendo existir estados onde ocorrem dualidades.
O Princípio
de Superposição Quântica está presente no centro de todos os desenvolvimentos atuais da Mecânica
Quântica. Tal
princípio é o responsável pela existência de paradoxos quânticos, os quais são
consequência da grande dificuldade de compreensão dos fenômenos quânticos, uma
vez que estes não podem ser vistos por meio do realismo clássico, onde a Lei do
Terceiro Excluído funciona de forma lógica[1] .
A Física
Quântica forneceu, portanto, elementos para a formulação desta nova ferramenta
conceitual que é a lógica do Terceiro Incluído[1] .
Lógica Clássica
A lógica
clássica está baseada em três axiomas:
- Axioma da Identidade: "A é A"
- Axioma da Não-Contradição: "A não é não-A"
- Axioma do Terceiro Excluído: "não existe um terceiro termo T que é ao mesmo tempo A e não-A".
Lógica do Terceiro Termo Incluído
De modo
similar, uma lógica não-clássica pode ser baseada nos dois primeiros axiomas da
lógica clássica, mas tendo como terceiro axioma, a Lógica do Terceiro Termo
Incluído:
- Axioma da Identidade: A é A;
- Axioma da Não-Contradição: A não é não-A;
- Axioma do Terceiro Incluído: existe um terceiro termo T que é ao mesmo tempo A e não-A
Em ambas
as lógicas, no primeiro axioma, a Identidade diz que uma coisa “é” o que ela
“é”; no segundo axioma, a Não-Contradição diz que o que “é” não pode ser aquilo
que “não-é”. No terceiro axioma, contudo, a lógica clássica, partindo do
princípio de terceiro excluído, não admite a interação entre estados opostos,
enquanto que a lógica do Terceiro Incluído, admite, podendo existir um
terceiro estado T que é ao mesmo tempo A e não A.
O
filósofo romeno Stéphane Lupasco responsável por desenvolver uma lógica
não-aristotélica.
A
contradição entre a identidade e a não-identidade é observada nas partículas,
dentro da Física Quântica. O filósofo Stéphane
Lupasco aceita
esta contradição como um dado inevitável da experiência no que diz respeito à
suposta identidade das partículas, uma tendência à heterogeneidade em um mundo que parece superficialmente dedicado à
lidar com a homogeneidade[3] .
Ao
desenvolver o seu formalismo axiomático, Lupasco a postula a existência de um
terceiro tipo de dinâmica, antagônica, que coexiste com a dinâmica da heterogeneidade
(a qual matéria viva), e com a da homogeneidade (a qual governa a matéria
física macroscópica). Esse novo mecanismo dinâmico demanda a existência de um
estado de equilíbrio rigoroso, exato, entre os polos de uma contradição, em uma
semi-atualização e semi-potencialização estritamente iguais. Esse estado,
chamado por Lupasco de estado T (“T” sendo a inicial do “terceiro incluído”),
caracteriza o mundo microscópico, o mundo das partículas, ou seja, o objeto de
estudo da Quântica. Portanto, o princípio de superposição quântica e de
dualidade, por exemplo, pode ser melhor compreendido por meio de uma lógica
não-clássica. Na Mecânica Quântica, um terceiro estado T é incluído. Devido ao
próprio Princípio
de Incerteza
postulado por Werner
Heisenberg, a
combinação entre os estados de “existência” e “não-existência” é um estado
físico admitido
Por outro
lado, na lógica clássica, o determinante é o raciocínio não-contraditório, algo
que se consolidou na concepção e organização do conhecimento ao longo dos
séculos. Sendo assim, o conhecimento ficou “enclausurado” em um único nível de
realidade, onde não seria lógico que dois estados contraditórios pudessem
existir, pois, até então, nunca de havia observado algo desta natureza.
O
terceiro incluído não significa afirmar o paradoxo da existência de algo e o
seu contrário, o que, por anulação recíproca, destruiria toda possibilidade de
predição e, portanto, toda possibilidade de abordagem científica do mundo. É
necessário reconhecer que, dentro da Física Quântica, por exemplo, existem
inúmeras conexões imutáveis e que realizar uma experiência ou interpretar seus
resultados gera um "recorte" desta realidade. A entidade real pode,
assim, mostrar aspectos contraditórios que são incompreensíveis do ponto de
vista de uma lógica clássica fundada sobre o postulado do “ou isso ou aquilo”.
Esses aspectos contraditórios deixam de ser absurdos em uma lógica não-clássica
fundada sobre o postulado do “e isso e aquilo”, ou antes, “nem isso nem
aquilo”.
Dentro da
lógica do terceiro incluído, os opostos não são eliminados, eles coexistem.
Desse modo, ela não abole a lógica Aristotélica do "sim" e do
"não", uma vez que apenas não se considera a existência de apenas
dois termos mas, sim, de três; um terceiro que é o Terceiro Termo Incluído.
A lógica
do Terceiro Termo Incluído permite o cruzamento de diferentes perspectivas,
onde um sistema coerente e, ao mesmo tempo, aberto, é construído, permitindo
uma melhor compreensão não só de fenômenos científicos, como no caso da Física
Quântica, mas,
também políticos e sociais.
Formulário
Quando realizava os Formulários percebi que que a lógica do terceiro incluído estava
sendo discutida e percebi que também estava no mesmo caminho. Em alguns
formulários estabelecia dois campos, em cada qual signos diferentes, mas com o
mesmo valor. Por exemplo: a figura de um cachimbo, relógio, maçã e suas
respectivas palavras. Em alguns formulários cada campo com uma tonalidade
diferente, ou tendendo para um esverdeado ou avermelhado violáceo. Assim a
lógica aristotélica do terceiro excluído era respeitada: A não é B. Mas baseado
nos signos incluía um terceiro termo considerando a flecha do tempo. Assim um
outro nível de realidade se estabelecia sem ferir o princípio de contradição aristotélico.
Por ter intuído tudo isso pude tocar meu trabalho com bastante liberdade e
acabei descobrindo que poderia desenvolver meu pensamento plástico.As cores? Sempre me interessei por elas e com os formulários, e muito estudo do Tratado da Pintura do Leonardo da Vinci e de Cézanne cheguei ao cinza sempiterno e o serpenteamento. E hoje penso em uma geometria das cores.
Gostei muito!
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