quinta-feira, 19 de junho de 2014









CÉZANNE E A SUPERFÍCIE DO QUADRO E O PLANO PICTÓRICO (A ATMOSFERA À SUA FRENTE) 
Frases de Cézanne: “Tratar a natureza através do cone, da esfera e do cilindro, [...].” “Os corpos na natureza são todos convexos.” “Entre o objeto e o pintor se interpõe um plano, a atmos- fera.”“A Natureza é mais em profundidade que em superfície.” “Quero chegar à perspectiva unicamente pelas cores.” 
Frases de Braque: “Não é o bastante fazer ver o que se pinta, é preciso ainda fazer tocar.” “O espaço visual. O espaço tátil. O espaço manual.” Desdobramento Percebemos uma superfície não em duas dimensões, mas em três, sendo que a terceira é dada pela distância entre o observador e essa superfície. Na medida em que se aproxima dessa superfície, mais presente vai se formando a necessidade de tocá-la, ou seja, mais o tátil se manifesta.  Mais próximo ainda chega-se ao espaço manual. Isso nos remete ao que Poussin afirma sobre as diversas distâncias quando nosso olhar é prospectivo. Essas distâncias demonstram que, quanto mais afastado o observador estiver, mais o espaço é visual. Com a aproximação chega ao espaço manual passando pelo espaço tátil.

Fig. 9 - Cézanne

Se compararmos os dois quadros de Cézanne com um de Van Gogh podemos perceber que o espaço plástico cezanneano acontece à frente do quadro, e nesta atmosfera a que ele se referia, enquanto que em Van Gogh o espaço acontece além da superfície do suporte como ilusão. Cézanne rompe com o conceito do espaço plástico proposto por Alberti, uma pirâmide cuja base coincide com a superfície do suporte e o vértice dessa pirâmide ilusoriamente se situa além dessa superfície.   
Fig. 10 - Cézanne

Fig. 11 - Van Gogh
Creio que isso pode nos levar a uma investigação mais profun- da das descobertas cezanneanas, inclusive para entendermos os valores hápticos que são uma das propostas destas observações. O que temos de investigar de início: o que ocorre nesse plano que se interpõe entre o modelo e o pintor? Mas se deve anotar que Cézanne conseguiu chegar a esse olhar pesrpectivo unicamente pelas cores. E a um olhar, nesses últimos quadros, já totalmente desligado de quaisquer resquícios da perspectiva renascentista.  Aqui um parêntesis. Na geometria euclidiana os sólidos geométricos são acromáticos, portanto, abstrações, uma vez que na natureza, segundo Cézanne, tudo está colorido.  E mais ainda. Para ele cor e for- ma são uma só coisa. Daí ter dito que “quanto mais a cor se harmoniza, mais a forma se precisa.” Se observarmos esses dois quadros de Cézanne, realizados em sua maturidade, veremos que o espaço plástico se manifesta como uma superfície com vários acidentes sobre o plano do suporte projetando-o para frente, vindo a coincidir com este no qual nos orientamos.  Como as cores são concretas adjetivas, têm uma dimensão temporal, surgem pequenas superfícies ora cônicas, ora cilíndricas, ora esféricas (uma das formas das pequenas sensações?), pequenas superfícies  em constante transformação.  Como estamos de tal forma condicionados a pensarmos no espaço a partir daqueles sólidos geométricos, temos que fazer um certo esforço para percebermos Para melhor percebermos o que tento mostrar, podemos comparar esses quadros de Cézanne com a paisagem de Van Gogh. No quadro deste, o espaço plástico está ainda além da superfície do suporte,  e nele uma série de acidentes, mas sem uma dimensão temporal.  Tais fenômenos não se dão às explicações racionais e ao discurso ver- bal – pertencem unicamente ao pensamento plástico. Estas anotações, as- sim, ficam por aqui. Que o olho as faça perceptíveis, é o que pretendemos.como Cézanne rompeu com padrões culturalmente internalizados em nossos espíritos. 
 Para melhor percebermos o que tento mostrar, podemos comparar esses quadros de Cézanne com a paisagem de Van Gogh. No quadro deste, o espaço plástico está ainda além da superfície do suporte,  e nele uma série de acidentes, mas sem uma dimensão temporal.  Tais fenômenos não se dão às explicações racionais e ao discurso ver- bal – pertencem unicamente ao pensamento plástico. Estas anotações, as- sim, ficam por aqui. Que o olho as faça perceptíveis, é o que pretendemos.




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