Trecho do ensaio “A
poesia e o livre mercado” do poeta mexicano Octavio Paz,
Desde a era do
romantismo, os leitores de poemas têm sido figuras solitárias
e dissidentes, assim como os próprios poetas, aliás.
São poetas e leitores burgueses, sim, mas revoltados contra
seu passado, sua classe social e a ética do mundo.
Com exceção
de meia dúzia aristocratas, todos os poetas modernos
pertenceram e pertencem à classe média. Todos eles
cursaram faculdade. Alguns foram advogados, jornalistas, médicos,
professores e diplomatas, outros foram executivos de publicidade ou
relações públicas, banqueiros, empresários,
burocratas importantes. Alguns poucos, como Verlaine e Rimbaud, foram
parasitas.
Estamos vivendo uma
mudança dos tempos: não uma revolução, no
sentido mais profundo e duradouro da palavra, uma revolta – uma
volta à origem, um retorno ao início. Estamos
testemunhando não o fim da história, como afirmou um
certo professor universitário nos Estados Unidos, mas um
reinício.
Hoje em dia a
literatura e as artes estão expostas a um perigo diferente:
estão sendo ameaçadas não por uma doutrina ou
período político mas por um processo econômico
sem rosto, sem alma e sem direção. O mercado é
circular, impessoal, inflexível. Alguns me dirão que
está certo, que é assim mesmo que deveria ser. Talvez.
Mas o mercado, cego e surdo, não aprecia riscos, não
sabe como escolher.
Num mundo governado
pela lógica do mercado, ou pelo planejamento estatal nos
países comunistas, a poesia é uma atividade que não
traz retorno algum. Seus produtos são praticamente e quase
inteiramente inúteis. Para a mente moderna, embora ela não
não admita isto para si própria, a poesia é
energia, tempo e talento voltados a objetos supérfluos. No
entanto, contrariando toda a lógica, a poesia circula e é
lida. Rejeitando o mercado, custando quase nada, ela passa de boca a
boca, como o ar e a água. Seu valor e sua utilidade não
podem ser medidos; um homem rico em poesia pode ser um mendigo. E os
poemas não podem ser economizados para formar uma poupança
para firmar uma poupança: eles têm q ser gastos.