Algumas rápidas considerações
sobre as cores e o espaço na obra de Hélio Oticica
A questão da cor tem um papel muito importante no
desenvolvimento da obra de Hélio Oiticica. No início de sua carreira ele
percebeu e escreveu que havia um problema importante na pintura contemporânea;
a cor. Pensou-a como um elemento espaço temporal, em seu núcleo e considerou o
quadro de cavalete insuficiente no sentindo de estudá-la a partir dessas
observações que anotara. Digo, então, que Hélio espacializou a pintura.
Tentaremos, aqui, abordar essa questão da espacialização da
pintura considerando as idéias que ele vinha desenvolvendo sobre as cores.
Há a obra de arte pensada a partir da pintura, e as cores
fazem que isso seja possível e enriquecedor. Comecemos com Cézanne quando este
afirma que entre o modelo e o pintor se interpões um plano, a atmosfera.
Podemos pensar que no espaço no qual nos orientamos pode ser percebido outro
que se desdobra em um plano entre o quadro e pintor. Este, mais do que
representar, procura transpor para a tela conceitos teóricos e procedimentos
que nos permitam novas percepções tanto do espaço imediato quanto o do remoto.
Temos que considerar também o espaço natural, o que nos leva a pensar nas
diversas distâncias, estas que Poussin se referia quando nos advertia sobre o
olhar prospectivo em contraposição com outro o qual levava em conta somente o
aspecto do objeto. Essas questões se adensam em face de um verso do poeta
Michael Palmer; “As diversas distâncias entre olho e pálpebra.”
Dessa forma podemos pensar na obra criando para ela um
espaço exclusivo à margem do espaço natural.
Mas há também a obra se realizando no espaço inclusivo, ou
de não interferência no espaço natural. Alguns relevos de Hélio Oiticica podem
se percebidos dentro dessa ótica. As cores por ele escolhidas se rompem, tanto
por contraste, como por elas próprias, e nos permite a manifestação dos cinzas
sempiternos que, como digo, não existe, pois é um pré ou pós-fenômeno e
multidimensional. Aqui novamente lembramo-nos de Cézanne quando afirma que
somente um cinza reina na natureza e que é dificílimo de alcançar. E também de
Rilke na ocasião da ocorrência da primeira retrospectiva do mestre de Aix,
retrospectiva que freqüentou diariamente, dando origem ao Livro Cartas sobre Cézanne. Em uma dessas cartas que escreveu para sua
esposa nos diz que o cinza em Cézanne não existia.
Nesse último caso torna-se evidente a geometria topológica.
Mas também podemos considerar o conceito vinciano de serpenteamento que anima o
espaço plástico. Não é, como alguns filósofos consideram, uma propriedade
somente perceptível nos seres vivos como um eixo gerador, mas, como está no
Tratado da Pintura, propriedade de todos os corpos e se refere ao contorno dos
objetos.
Creio que estas rápidas anotações nos podem levar a outras
compreensões e desdobramentos da obra de Hélio Oiticica considerando-se como as
cores, sendo enigmáticas, têm um papel importante na evolução de sua obra.
José Maria Dias da Cruz
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