terça-feira, 14 de agosto de 2012

A cor e o colorido


Algumas considerações sobre as cores e os coloridos.  

Há a questão do surgimento do cinza sempiterno quando ele passa da condição de não existente para a de existente. Na condição de existente o cinza deixa de ser somente bidimensional. Surge como uma atmosfera que se interpõe entre o modelo e o pintor e assim, tornando-se mais dinâmico e permitindo que as demais cores de um colorido transformem-se em concretas adjetivas. Isto não impede que cada cor se manifeste também como abstrata substantiva. No primeiro caso a condição de cada cor é ser no colorido. No segundo as cores se nos apresentam mais como ideias e neste caso, elas, as cores, são nomeáveis. Estas últimas, subsistindo somente em nossos cérebros, não se rompem, isto é, não articulam suas respectivas opostas vão gerar outras tonalidades, fenômeno este que também nos leva a perceber a manifestação do cinza sempiterno. 

As consequências dessas atitudes são as seguintes:

a) como concretas adjetivas as cores são mais qualitativas, independente de nomeação na medida que convivem com as demais cores de um colorido. Não podemos, pois que ilógico, afirmar qual a cor de um colorido. E assim aceitamos a afirmativa de que as cores são enigmáticas e, por extensão, pensar no nosso miserere, isto é, na imperfeição própria dos homens. E assim também aceitamos a ideia de que ética e estética são uma só coisa.
b) Como abstratas substantivas percebemos que as cores, como ideias, subsistem por si só. São nomeáveis e se tornam mais subordinadas às formas. Assim tornam-se mais racionais.

c) A consequência é que podemos perceber que pode haver uma convivência entre as cores concretas adjetivas e abstratas substantivas.

As considerações acima nos levam a algumas indagações sobre as harmonias. Podemos repensá-las não mais como absolutas e estáticas (e presas a uma lógica mais clássica), mas também como dinâmicas e com uma dimensão temporal. Neste caso podemos considerar a harmonia absoluta e estática como uma morte, e, se dinâmica, como uma vida. A passagem entre uma e outra se dá quando há a possibilidade de um estado de entropia máxima, e assim nos possibilita um recomeço. Abre, inclusive, para repensarmos em uma situação na qual não temos mais um espaço somente pictórico, mas também gráfico e este perceptível quando nossa mentalidade é absoluta. Em um espaço mais gráfico predomina a racionalidade das formas, isto é, ele torna-se mais racional. E, assim sendo, as questões de proporcionalidade podem ser mensuráveis racionalmente e independentes de uma  fenomenologia.

José Maria Dias da Cruz                                                                                                            Florianópolis – Maio de 20012


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