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A fascinação da leitura vem cedo, mesmo com luz de vela, de lampião, de bico de gás, que é luz lindíssima! Aos 7 anos já alfabetizado por esforço próprio e com o auxílio semanal Tico-Tico e do Jornal do Brasil todos os dias. Daí para o livro nem foi um pulo – um simples passo. E afundei-me pelo mundo da carochinha, lastro incorruptível de sonho e imaginação –
debaixo de uma pedra do jardim poderia encontrar um tesouro, com uma varinha de condão poderia transformar minha tia em sapo!
OS 9 anos recebo o Coração como livro de leitura – felizes tempos! Guardo ainda o exemplar com assinalada data – 6 de março de 1916 – e a minha assinatura em gorda letra horizontal. Colou para sempre – é responsável por todo o sentimentalismo que minha pena distila, apesar da vigilância, e que Manuela Bandeira, em 1931, quando da minha estréia em livro, registraria um pouco soprado em carta por Antônio de Alcântara Machado, não muito de acordo com a generosidade que a crítica recebeu Oscarina. E Alcântara tinha razão – muito foguete é para estréia de circo.
Aos 11 anos, um pastor prostestante americano, que acabou bispo em Goiás, pôs nas minhas mãos a Biblia, na tradução de Antônio pereira de Figueiredo. E guardo também este livro, datado de 1919, com assinatura em caligrafia mais magra e ascensional, como a do médico que atendia a nossa família, jamegão que eu achava deslumbrante. Cético quanto ao seu conteúdo e destino, até agora tem sido meu livro de cabeceira, o único que jamais me enfastiou, que abro, que abro constantemente para encontrara riqueza, inesgotável em exemplos de propriedade expressional. Jorge Amado pirelhiou:
- Ainda bem que o Marques não tem obrigação de pagar direitos autorais de transição.
Meu pai tinha uma estante com uns duzentos e tantos livros no corredor, biblioteca um pouco tumultuosamente escolhida, convenhamos – Herculano, Eça, Camilo, Fialho, Júluio Diniz e franceses, pois já traçava o meu francês, Anatole, Dumas, Vitor Hugo, Bourget, Daudet, e, incrível que pareça, Buffon e Darwin, na tradução de Barbier! E foi minha, depressa esgotada pelo infantil ardor. Mesada tinha pequena – 10 mil réis. Mas compravam-se por dois tostões naquele tempo! Editoras lusas e francesas inundavam nossos balcões com variado e barato sortimento. E passei a frequentar os sedutores sebos da rua São Jose a adjacências. Carlos Ribeiro era caixeirinho de calças curtas na Quaresma – vivo como sagüi! O velho Matos, português, gerente, era rústico e boníssimo – quantos livros não me deu em com cara amarrada, olhando-me por cima dos óculos! Aos 15 anos encontrava lá as Memórias de um Sargento de Milícias, que foi um alumbramento! E daí por diante a breve e desconhecida vida de Manuela Antônio de Almeida passo a ser uma das minhas apaixonadas preocupações.
Li, li, li o os olhos são de ferro. E não considero que, em nenhum caso, houvesse perdido meu tempo. As baboseiras ensinam tanto quanto as grandes obras. Pelo efeito contrário, como no bilhar. Claro que ensinam apenas àqueles que seriamente pretendem escrever, sejam meia dúzia de predestinados para cada cem milhões de amadores.
OS 9 anos recebo o Coração como livro de leitura – felizes tempos! Guardo ainda o exemplar com assinalada data – 6 de março de 1916 – e a minha assinatura em gorda letra horizontal. Colou para sempre – é responsável por todo o sentimentalismo que minha pena distila, apesar da vigilância, e que Manuela Bandeira, em 1931, quando da minha estréia em livro, registraria um pouco soprado em carta por Antônio de Alcântara Machado, não muito de acordo com a generosidade que a crítica recebeu Oscarina. E Alcântara tinha razão – muito foguete é para estréia de circo.
Aos 11 anos, um pastor prostestante americano, que acabou bispo em Goiás, pôs nas minhas mãos a Biblia, na tradução de Antônio pereira de Figueiredo. E guardo também este livro, datado de 1919, com assinatura em caligrafia mais magra e ascensional, como a do médico que atendia a nossa família, jamegão que eu achava deslumbrante. Cético quanto ao seu conteúdo e destino, até agora tem sido meu livro de cabeceira, o único que jamais me enfastiou, que abro, que abro constantemente para encontrara riqueza, inesgotável em exemplos de propriedade expressional. Jorge Amado pirelhiou:
- Ainda bem que o Marques não tem obrigação de pagar direitos autorais de transição.
Meu pai tinha uma estante com uns duzentos e tantos livros no corredor, biblioteca um pouco tumultuosamente escolhida, convenhamos – Herculano, Eça, Camilo, Fialho, Júluio Diniz e franceses, pois já traçava o meu francês, Anatole, Dumas, Vitor Hugo, Bourget, Daudet, e, incrível que pareça, Buffon e Darwin, na tradução de Barbier! E foi minha, depressa esgotada pelo infantil ardor. Mesada tinha pequena – 10 mil réis. Mas compravam-se por dois tostões naquele tempo! Editoras lusas e francesas inundavam nossos balcões com variado e barato sortimento. E passei a frequentar os sedutores sebos da rua São Jose a adjacências. Carlos Ribeiro era caixeirinho de calças curtas na Quaresma – vivo como sagüi! O velho Matos, português, gerente, era rústico e boníssimo – quantos livros não me deu em com cara amarrada, olhando-me por cima dos óculos! Aos 15 anos encontrava lá as Memórias de um Sargento de Milícias, que foi um alumbramento! E daí por diante a breve e desconhecida vida de Manuela Antônio de Almeida passo a ser uma das minhas apaixonadas preocupações.
Li, li, li o os olhos são de ferro. E não considero que, em nenhum caso, houvesse perdido meu tempo. As baboseiras ensinam tanto quanto as grandes obras. Pelo efeito contrário, como no bilhar. Claro que ensinam apenas àqueles que seriamente pretendem escrever, sejam meia dúzia de predestinados para cada cem milhões de amadores.
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