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Posto que não se pudesse viver da pena, ou para tentá-lo teria que descer demais, cortejando público e editores, aceitando um jornalismo escravizante e dissolvente, para não sufocar ou atrofiar a vocação, optei por uma vida modesta, modestíssima, inversa do carreirismo – e note-se que a literatura entre nós funcionou muito como brilhante muleta para a ascensão s
ocial, econômica e
política do cidadão semi-alfabetizado. Entreguei-me a um ascetismo e
empregos modestos, mas relativamente folgados, que facultassem o maior
tempo possível para o ócio de pensar e repensar, matriz do engenho
artístico, e para ler e escrever, na proporção de 20 livros lidos para
20 linhas escritas, linhas que se reduzirem a 2 publicáveis, aliás uma
excelente média. E não me arrependi jamais da opção – na vida só aspirei
a ser escritor.
Compreenda-se que o exercício da verdadeira literatura é, antes de tudo, um ato de coragem. È além da coragem para múltiplos sacrifício, precisamos, especialmente, de coragem para cortar. E cortei, corto e cortarei sem avareza e arrependimentos, como se cortasse a obra alheia – e se dá que se vê sempre melhor o Mao alheio que o nosso. Diminui também o campo do erro, do excesso, do supérfluo. E com tal sistema podador acabamos por vencer a torpe facilidade, que infelicita tantos valores ponderáveis. E condicionada, porem, necessito de tempo na minha frente para resolver as paradas literárias, mesmo as aparentemente simples. Pois nada é simples nos domínios da criação – ó extenuante ócio! Quanta vez me ofereceram trabalho com pagamento atraente – afinal o dinheiro é assunto cobiçante e útil – digamos uma ou duas páginas de colaboração urgente. E combinei:
- Pelo menos uma semana, meu amigo.
Felizmente tenho amigos, até que uma bonita coleção, apesar de muita gente supor o contrário, dada a minha capacidade de fazer desafetos literários e penitencio-me de algumas injustiças – obras que achei chatas, tornaram-se realmente chatíssimas. E os prazos eram concedidos. Menos uma vê. Certo publicitário queria um conto de Natal, cinco páginas no máximo, em quatro dias. Estávamos em novembro.
- Preciso de um mês, pelo menos. Serve?
Não serviu – fiquei sem os 400 mil cruzeiros. Os publicitários são práticos.
Também sou homem prático, isto é, odeio o rigor do pragmatismo, do planejamento dogmático, da maquinização desumana. Que o processo de a padronização não perturbem a ordem natural. Tanto a variedade quanto uma aparente balbúrdia são formas de equilíbrio vital. Acreditemos que deus não ajuda somente a quem cedo madrugue. Podemos perfeitamente acordar tarde. Se não houvesse relógios de ponto, mas pontos de honra, a existência seria mais nobre. No dia em que estabeleceram relógio de ponto, larguei o emprego, embora me facultassem só marcar na entrada. Nunca chegara atrasado. Nunca cheguei atrasado em lugar nenhum. Talvez tenha chegado atrasado no mundo, isto sim. Melhor teria sido se nascesse há um século passado. O progresso do século XX, frio, mercantil, ganansioso, e chave de cardiopatias e neuroses, me irrita um pouco. Ou até bastante. A natureza não melhora relativamente ao progresso que inventa, e que empurra aos parvos por alto preço, com crediários para iludir. Acho até que aguça a sua congênita velhacaria.
Compreenda-se que o exercício da verdadeira literatura é, antes de tudo, um ato de coragem. È além da coragem para múltiplos sacrifício, precisamos, especialmente, de coragem para cortar. E cortei, corto e cortarei sem avareza e arrependimentos, como se cortasse a obra alheia – e se dá que se vê sempre melhor o Mao alheio que o nosso. Diminui também o campo do erro, do excesso, do supérfluo. E com tal sistema podador acabamos por vencer a torpe facilidade, que infelicita tantos valores ponderáveis. E condicionada, porem, necessito de tempo na minha frente para resolver as paradas literárias, mesmo as aparentemente simples. Pois nada é simples nos domínios da criação – ó extenuante ócio! Quanta vez me ofereceram trabalho com pagamento atraente – afinal o dinheiro é assunto cobiçante e útil – digamos uma ou duas páginas de colaboração urgente. E combinei:
- Pelo menos uma semana, meu amigo.
Felizmente tenho amigos, até que uma bonita coleção, apesar de muita gente supor o contrário, dada a minha capacidade de fazer desafetos literários e penitencio-me de algumas injustiças – obras que achei chatas, tornaram-se realmente chatíssimas. E os prazos eram concedidos. Menos uma vê. Certo publicitário queria um conto de Natal, cinco páginas no máximo, em quatro dias. Estávamos em novembro.
- Preciso de um mês, pelo menos. Serve?
Não serviu – fiquei sem os 400 mil cruzeiros. Os publicitários são práticos.
Também sou homem prático, isto é, odeio o rigor do pragmatismo, do planejamento dogmático, da maquinização desumana. Que o processo de a padronização não perturbem a ordem natural. Tanto a variedade quanto uma aparente balbúrdia são formas de equilíbrio vital. Acreditemos que deus não ajuda somente a quem cedo madrugue. Podemos perfeitamente acordar tarde. Se não houvesse relógios de ponto, mas pontos de honra, a existência seria mais nobre. No dia em que estabeleceram relógio de ponto, larguei o emprego, embora me facultassem só marcar na entrada. Nunca chegara atrasado. Nunca cheguei atrasado em lugar nenhum. Talvez tenha chegado atrasado no mundo, isto sim. Melhor teria sido se nascesse há um século passado. O progresso do século XX, frio, mercantil, ganansioso, e chave de cardiopatias e neuroses, me irrita um pouco. Ou até bastante. A natureza não melhora relativamente ao progresso que inventa, e que empurra aos parvos por alto preço, com crediários para iludir. Acho até que aguça a sua congênita velhacaria.
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