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O jogo do engajamento nunca me atraiu. Por tal razão os comunistas me consideram fascistas, os fascistas me consideram comunista, os socialistas me consideram reacionário, os liberais me consideram um sem-vergonha. Não tem a menor importância – por absoluto cálculo e decisão nunca precisei de posição política para criar e viver, seguro de que, com as mãos desatada
s, pode se
nadar melhor e escapar das correntes fatais. Apenas atrapalhou um pouco
certas conquistas justas ou consequentes. Fiquei sempre colocado à
margem das situações, suspeitosamente – o que fortalece a nossa
capacidade de julgar a um ponto de se confundi-la com o cinismo. Mas não
escapamos da onda e uma ocasião, apanhado pelo arrastão politiqueiro,
que propositalmente confundia tubarão com cocoroca, levaram-me a
responder Inquérito Parlamentar e processo criminal – livrei-me com
ferimentos leves e boa dose de náusea.
Um simpático camarada, que não perde vaza, me condenava por não me candidatara uma apetecível pepineira pública.
- Você não consegue isto por que é burro.
- É. Sou burro – concordei.
E burro morrerei. Há mortes naturais.
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Que política me apraz? A da livre deliberação. A maior indignidade que se comete contra o homem é o voto obrigatório, penso e existo. Ao cidadão deve ser obrigatório o título de eleitor. Votar, não! Quanto cavalheiro não foi eleito com a ajuda de centenas de eleitores que não gostariam de votar nele? As pirâmides e convicções partidárias são mais frágeis do que castelo de cartas. Mas se é impossível o mundo sem política convicta e partidária, que alegria é o voto em branco! – afirmação interior que raramente pratiquei, tão contraditório é, sob todos os aspectos, nosso passeio no mundo.
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