Dufy e o cubismo
Primeiro temos de lembrar da frase de Leonardo na qual ele diz: "Devemos observar com muito cuidado os limites de qualquer corpo e o modo como serpenteiam para julgar se suas voltas participam de curvaturas circulares ou concavidades angulares".
Fig 1
Fig. 2
Consultei o Google e vi três quadros de
Dufy. Nunca li nas Histórias das artes uma referência a Dufy como
participante do movimento cubista. Em praticamente em quase todas li que
o cubismo começa com o quadro de Picasso, Demoiselle d'Avignon, um quadro
realmente importante para a história das artes, mas li em um livro que esse
quadro é um desdobramento das ideias de Gauguin, o que em parte concordo.
E há uma afirmação de Duchamp na qual ele diz que o cubismo começa com
Cézanne e passa pelos fauvistas. E Picasso nunca foi fauvista.
Picasso e vários outros pintores se
interessaram pela quarta dimensão, ou seja, as figuras mostradas
considerando-se vários pontos de vistas ou os diversos eixos visuais, conforme
previu Poussin, Se observarmos o quadro D’demoiselle d’Avignon (ver figura 3) notaremos
que o espaço plástico está colado no suporte e numa primeira percepção é mais
sincrético do que analítico. As cores não são nem modeladas nem moduladas, são
chapadas como nas gravuras orientais que tanto interessou os pintores no fim do
século XIX. As linhas de contorno são mais euclidianas do que vincianas. Cézanne
nos mostrou outra consciência do espaço plástico quando o criou bi-ocular e rompeu com a perspectiva cientifica
renascentista definitivamente. Creio que é essa a relação de Picasso com
Cézanne, o rompimento completo com a perspectiva renascentista. João Cabral de
Melo Neto mostra em seu livro sobre esse Miró compreendeu esse rompimento. A relação
de Picasso com os cubistas se devem, também, às questões da quarta dimensão.
Picasso, 1907 – Fig. 3
Continuemos. As dúvidas e incertezas continuam. Nunca
chegaremos a uma conclusão.
Vejamos agora os quadros de Dufy que mais se aproximou
das questões estudadas por Braque. Dufy em 1910 abandona definitivamente o
cubismo.
Dufy –
1908 – Fig. 4
Acima os três quadros de Dufy datados de 1908 (ver figuras 4, 5 e 6), quando, junto com Braque, criaram as bases da passagem de Cézanne para o cubismo. No primeiro (Ver figura 4) umas árvores azuis e laranjas rompidas que permitem a manifestação do cinza sempiterno como consequência das afirmações de Cézanne que afirma que entre o objeto e o pintor se interpõe um plano, a atmosfera. Não há uma data precisa quando do esse quadro foi pintado, mas podemos inferir que foi depois dos outros dois que mostro nos anexos. Nesse quadro de Dufy o espaço plástico tem mais de duas e menos de três dimensões, e assim nos mostra uma percepção do espaço e não da perspectiva renascentista que se interessa mais pela tri-dimensionalidade e o olhar é monocular. E nesse quadro de Dufy podemos também observar o que Poussin afirma, ou seja, um eixo visual frontal e os laterais quando o olhar é prospectivo e bi-ocular. E podemos observar o serpenteamento vinciano no tronco das árvores, tanto as curvaturas circulares como as concavidades angulares quando uma das laterais não é mostrada e, assim, nos permite ver o que está atrás. (Ver figuras 1 e 2).
Enfim, instalam-se as dúvidas. Acho que
descobrir uma coisa é semeá-las. E, também, considerar essas descobertas
dependentes do espírito de época na qual a coisa pode ser concebida, mas
considerar também toda uma tradição que lhe antecede.
Nos quadros
acima (Ver figuras5 e 6), pintado em 1908, podem nos levar a considerar Dufy um
originalíssimo precursor do cubismo? Creio que sim. Sua consciência do espaço
plástico é uma consequência de sua percepção da obra de Cézanne. Dufy, entretanto,
não modulou, ou seja, não rompeu os tons de uma forma que permitisse a
manifestação do cinza sempiterno criando um espaço plástico atmosférico à frente
do suporte. Dufy modelou, ou seja, ele usou a para as passagens do claro para o
escuro a variação da mesma cor. A originalidade de Dufy se deve à percepção das
observações de Cézanne relativas ao tratamento da natureza transposta para o
suporte através da esfera, do cilindro e do cone para a realização do espaço
plástico e não pela a circunscrição dos objetos a essas formas históricas da
geometria euclidiana. Mas como Dufy modelava, o espaço plástico ficou no espaço
remoto do suporte. É possível que Dufy tenha se interessado em mostrar o que a
maioria dos artistas seus contemporâneos com novas ideias propunham, uma quarta
dimensão, ou seja, um espaço além daquele que é limitado pelo nosso campo de
visão que percebe um espaço tridimensional. Percebemos muito pouco os eixos
visuais laterais,
conforme nos
adverte Poussin, pois nossa percepção desses quadros de Dufy dentro da estética
cubista é ortogonal, o que não exclui uma relação figura e fundo. Alguns
teóricos afirmam que alguns quadros cubistas tangenciam uma percepção
escultórica.
Creio que esse é o caso desses dois quadros de Dufy.
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