Moldura e antimoldura
Com Alberti, o espaço plástico acontecia no plano do suporte
até um ponto além dele. Como uma pirâmide e o vértice, é esse ponto além.
Representava-se o espaço remoto, e a moldura servia para separar o espaço
remoto do imediato. Leonardo, pelo serpenteamento, ou seja, por seus estudos
dos limites dos corpos a partir de uma visão biocular, passou a representar o
espaço imediato, mas o espaço plástico continuou ocorrendo além do plano do
suporte, conforme preconizado por Alberti. Cézanne, pelos rompimentos dos tons
e do cinza, afirma que somente ele reina. E afirma mais ainda, que entre o
objeto e o pintor se interpõe um plano, a atmosfera. Faz assim coincidir o
espaço remoto com o imediato. Portanto a moldura começa a ser dispensada.
Podemos até indagar: não terá Duchamp, por um espírito de época, colocado a sua
fonte nesse espaço intuído por Cézanne? Alguns artistas, e Mondrian é o melhor
exemplo, aboliram a moldura, substituindo o quadro janela pelo quadro objeto,
esse ocorrendo no espaço imediato, mas o espaço plástico coincidindo com o
plano do suporte. Hélio Oiticica, com seus relevos, coloca o espaço plástico no
espaço imediato.
Nessa minha natureza morta que ilustra este texto,
representei uma moldura que poderia ter me levado ao quadro janela, enfatizando
o plano pictórico como o fez Caravaggio em uma natureza morta (ver imagem). Pelas
cores simples, pelos rompimentos, o cinza sempiterno e o serpenteamento pensado
além dos limites dos corpos procurei fazer coincidir simultaneamente o espaço
remoto, o imediato, o quadro objeto e o quadro janela.
Natureza morta com as quatro cores simples, os rompimentos dos tons, o cinze sempiterni e o serpenteamento.
Caravaggio
Nenhum comentário:
Postar um comentário