domingo, 15 de dezembro de 2013

Entrevisata com Danka Mais

ENTREVISTA JOSÉ MARIA DIAS
Meu amigo sinta-se a vontade para escrever, acrescentar ou retirar algo que não lhe agradar
1-Não posso fugir do trivial meu amigo, que estilo de pintura mais aprecia?
Não é nem uma questão de apreciação, mas de tomada de posição mesmo. Defendo os pintores verdadeiramente coloristas. E na contemporaneidade são muito poucos.
Aqui tenho que me alongar para me posicionar face à questão da cor na modernidade e contemporaneidade.
Helio Oiticica escreveu na década de sessenta que havia um problema na pintura, a cor. Declarou então que a pintura era da pintura de cavalete estava definitivamente encerrada.

Creio q esse problema da cor na pintura pode estudado a partir dos artistas pós impressionistas do final do século XIX.

Van Gogh e Odilon Redon, aos se referirem ao rompimento do tom, afirmaram que se misturássemos um laranja e um azul puros em quantidade iguas obteríamos um cinza absolutamente incolor. Apoiavam-se no círculo cromático iluminista que pretendia racionalmente explicar todos os fenômenos cromáticos da natureza. Já Guaguin afirmou quer a cor era enigmática. E se perguntou se deveríamos pintar uma sombra azulada ou o mais azul possível. Instalam-se suas dúvidas. Sendo a cor enigmática, como racionalizá-la? Deveria usar a cor adjetivada ou pura? Já Cézanne afirma que a luz não existe para o pintor, tem que se substituída por uma outra coisa, a cor. No final de sua vida diz que não realizou e nem realizará nada que pretendia e que fora um primitivo pelas coisas novas que descobrira. Já Seurat, baseado no livro de Chevreul, pretendeu realizar uma obra ancorada em princípios científicos. Estudou a divisão do tom baseado no círculo cromático iluminista. Seurat foi seguido por Paul Signac e esse método foi classificado pela crítica como pontilhismo, que é apenas um procedimento e não uma questão teórica.

No início do século XX duas retrospectivas importantes são realizadas em Paris entre 1902 e 1904, a de Van Gogh e Gauguin. Matisse, então, inicia o movimento fauvista. Afirma que as cores devem ser puras e obedecer à emoção. Diz ainda que não quer pintar com Signac, que escolhe uma cor ou outra baseado em princípios teóricos. É seguido por Braque, Vlaminck, Derain e muitos outros pintores. Sem uma base teórica forte o fauvismo dura apenas dois anos, de 1905 a 1907. Em 1906 é realizada a retrospectiva de Cézanne. Braque dá início aos primeiros quadros cubistas e começa e usar o rompimento do tom. É seguido logo por Picasso. A crítica não percebendo toda a riqueza dos rompimentos de tons dinamizando o clorido com uma dimwensão temporal, afirmam que os cubistas resumiram suas paletas aos ocres, cinzas e pretos.

Continuemos. Em meados do século XX tivemos alguns estudiosos das cores, Kandinsky, Klee, Albres e Itten, mas todos ainda considerando o círculo cromático iluminista. Alguns cololoristas surgiram depois, poucos, certamente pelo fato de os pintores considerarem um olhar não pelo simples aspecto, mas um prospectivo que implica em um saber do olho, como nos adverte Poussin.

Mas me parece que essa crise na pintura que eclodiu a partir da década de sessenta e os discursos sobre a morte da pintura recalcaram ainda mais a questão da cor. Claro, isso não impediu que grandes artistas com novas ideias surgissem.

De minha parte continuei fiel à cor, e nos meus estudos descartei o círculo cromático iluminista.
2- sobre a sua pesquisa  sobre Cézanne, se  considera um especialista nesse assunto? Independente da resposta, como avalia essa pesquisa.
Não há uma pesquisa. Houve no inicio, era ainda adolescente, um interesse pela pintura. Tive a sorte de desde o início consultar as fontes primárias. Dúvidas iam surgindo, e uma delas sobre as cores, muito recalcadas em nossa cultura. Daí chegar a Cézanne. O que percebi é que as cores eram um problema na pintura contemporânea e que Cézanne era muito mal estudado. Em diversos livros sobre cor ele é muito mal citado, e e em alguns nem é lembrado. Estou tentando entendê-lo e graças a ele descobri muitas coisas, como o   cinza sempiterno, causa e efeito dos coloridos e isso me permitiu descartar o círculo cromático iluminista. Esse descarte me permitiu ainda redefini o rompimento do tom não mais como misturas pigmentares. Hoje digo que a cor é para ser pensada e os pigmentos para serem usados. Descobri muitas outras coisas, como a definição da cor abstrata subsatantiva e a concreta adjetiva, uma interpretação para o serpenteamento vinciano que fala dos limites dos corpos. Nas  histórias das artes diz-se que Leonardo introduziu o sfumato na pintura. Isso é mais um procedimento e não uma questão teórica, ou se você quiser, um pensamento.
3-Como são as cores no trabalho e na sua  vida, por que escolhe algumas em especial? Qual seria o critério? Intuição?
Aqui vale antes uma observação. Cheguei à conclusão que temos as cores abstratas substantivas, que são ideias platônicas e as cores concretas adjetivas, cuja condição é ser no colorido. E esse colorido tem uma lógica. Portanto a escolha é bem mais o encontro da cor exata dentro de um colorido que afirme essa lógica.  E creio que nesse critério há uma intuição, mas espinosamente, isso é, com conhecimento.
4-Que relação você vê entre poesia e pintura?
Essa pergunta já foi bem respondida por Leonardo da Vinci. "A pintura é uma poesia muda." Uma poesia que se dá pelo pensamento plástico. Na modernidade e contemporaneidade, com a questão do espaço expandido, a fronteira entre pintura e poesia diminuiu muito.
5-Como consegue dar a sensação de luz nas pinturas a ponto de parecer poético, ou não há essa intenção, o resultado vem e também o surpreende?
Entendi a estrutura cromáticas de Rembrandt, que pelo rompimento do tom chegava à luz, e não a um claro. Há no meu trabalho uma intenção de chegar à luz. Se você quiser veja isso como uma metáfora. O que me surpreende é ver que uma vez realizado um quadro que tenho ainda muito o que estudar tais as dúvidas que surgem.
6-Qual o maior artista plástico na sua concepção e por quê?
A sua pergunta me permite responder que os maores artistas plásticos são aqueles que se matém fieis às suas questões, e não a modismos, jogos de conveniências, etc.
7-Que influência as palavras do pai tiveram sobre sua  obra.(Dias não citei sobre seu pai porque queria saber se é de sua vontade ou não, caso não seja,basta não responder a pergunta e eu entenderei sua posição.)
Uma questão complexa essa. Creio ter escolhido a pintura para não enfrentá-lo em um campo no qual ele tem  domínio quase perfeito.
8-Uma vez em nossas conversas, falei sobre as dificuldades na vida literária e você também comentou que por duas vezes pensou em parar com a pintura. Como foi esse momento? E como aconteceu a retomada?
A crítica não compreendeu o que vinha estudando e por vezes isso me desanimou. Cheguei mesmo a para algumas vezes mas felizmente consegui me superar.
9- Lendo sobre sua vida, acompanhando e me preparando para essa conversa tão especial,li o seguinte: "O artista não é um ego, mas um eco." Por quê ?
O atrista tem hoje que compreender que a ética é bem mais importante que seu próprio ego.
10-Como foi ser considerado pelo Jornal do Brasil na década de 90 como um dos 70 melhores artistas brasileiros do século XX?

Claro, gostei da notícia. Pensei que poderia alavancar minhas vendas, mas isso não aconteceu. As coisas se complicaram, em 20o5 fui morar em Florianópolis muito desanimado. Mas lá continuei trabalhando, escrevi dois livros, O cromatismo cezanneano e Pintura, cores e coloridos, este que será agora lançado no Rio. Aliás agora estou de volta, divulgando minhas ideias e isso tem valido muito mais que aquela consideração. E minha volta se deve muito ao empemho de uma grande amiga, Jandira Teske.
11-O que mais tentava passar para seus alunos quando foi professor no MAM Rio e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage?
Tentei mostrar como a cor tem que ser reestudada, que como disse, está muito recaldada na contemporaneidade.
12-Qual seria a perfeita harmonia artística na sua concepção?
Primeiro, não acredito em harmonia em termos absolutos. Como disse acredito que os verdadeiros artistas levantam mais dúvidas que conclusões. Certamente por nem mais pensamentos utópicos podemos ter. Vivemos um momento crítico e procurar entendê-lo já é uma tarefa enorme.
13-Teve influências de artistas brasileiros como Di Cavalcanti, Iberê Camargo, Pancetti, Milton Da costa, Tarsila do Amaral, Santa Rosa e outros?
Nenhum me influenciou. Mas de alguns recebi bons conselhos. Me fizeram, pensar e isso é muito importante.
14-O que seria a geometria das cores?Em seus livros, o que mais valorizou?
A geometria sempre esteve presente na pintura, mas pelo lado gráfico, isto é, pelas  formas que são mais racionais. Por isso na Renascença Vasari afirmou que o desenho era o pai das três artes, a arquitetura, a escultura e a pintura. Deu-se o primado da forma ou do gráfico sobre a cor. Isso se entende porque as formas são racionais e as cores enigmáticas. Nos meus estudos das cores e dos coloridos percebi, pelo pensamento plástico, que os coloridos têm uma lógica nada absurda, como diz Cézanne. Por essa lógica nos é possivel construir espaços cromáticos. Entendo a construção lógica desses espaços como geométricos, apesar das  cores e coloridos serem enigmáticos. Temos assim as formas subordinada às cores.
No meu livro tento mostrar essa lógica e nesse sentido creio que estou muito mais fundando um novo olhar e uma outra mentalidade.
15-As vésperas de mais uma exposição, sei que ainda há o frio na barriga, aquela sensação do que vai acontecer e vai ser um sucesso tenho certeza, o que podemos esperar de você, do seu trabalho?
Creio que sentirei que vai aumentar minha responsabilidade.
16-Qual a mensagem deixa para nossos leitores.
Que duvidem sempre

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