ENTREVISTA
JOSÉ MARIA DIAS
Meu
amigo sinta-se a vontade para escrever, acrescentar ou retirar algo
que não lhe agradar
1-Não
posso fugir do trivial meu amigo, que estilo de pintura mais
aprecia?
Não
é nem uma questão de apreciação, mas de
tomada de posição mesmo. Defendo os pintores
verdadeiramente coloristas. E na contemporaneidade são muito
poucos.
Aqui
tenho que me alongar para me posicionar face à questão
da cor na modernidade e contemporaneidade.
Helio
Oiticica escreveu na década de sessenta que havia um problema
na pintura, a cor. Declarou então que a pintura era da pintura
de cavalete estava definitivamente encerrada.
Creio q esse problema da cor na pintura pode estudado a partir dos artistas pós impressionistas do final do século XIX.
Van Gogh e Odilon Redon, aos se referirem ao rompimento do tom, afirmaram que se misturássemos um laranja e um azul puros em quantidade iguas obteríamos um cinza absolutamente incolor. Apoiavam-se no círculo cromático iluminista que pretendia racionalmente explicar todos os fenômenos cromáticos da natureza. Já Guaguin afirmou quer a cor era enigmática. E se perguntou se deveríamos pintar uma sombra azulada ou o mais azul possível. Instalam-se suas dúvidas. Sendo a cor enigmática, como racionalizá-la? Deveria usar a cor adjetivada ou pura? Já Cézanne afirma que a luz não existe para o pintor, tem que se substituída por uma outra coisa, a cor. No final de sua vida diz que não realizou e nem realizará nada que pretendia e que fora um primitivo pelas coisas novas que descobrira. Já Seurat, baseado no livro de Chevreul, pretendeu realizar uma obra ancorada em princípios científicos. Estudou a divisão do tom baseado no círculo cromático iluminista. Seurat foi seguido por Paul Signac e esse método foi classificado pela crítica como pontilhismo, que é apenas um procedimento e não uma questão teórica.
No início do século XX duas retrospectivas importantes são realizadas em Paris entre 1902 e 1904, a de Van Gogh e Gauguin. Matisse, então, inicia o movimento fauvista. Afirma que as cores devem ser puras e obedecer à emoção. Diz ainda que não quer pintar com Signac, que escolhe uma cor ou outra baseado em princípios teóricos. É seguido por Braque, Vlaminck, Derain e muitos outros pintores. Sem uma base teórica forte o fauvismo dura apenas dois anos, de 1905 a 1907. Em 1906 é realizada a retrospectiva de Cézanne. Braque dá início aos primeiros quadros cubistas e começa e usar o rompimento do tom. É seguido logo por Picasso. A crítica não percebendo toda a riqueza dos rompimentos de tons dinamizando o clorido com uma dimwensão temporal, afirmam que os cubistas resumiram suas paletas aos ocres, cinzas e pretos.
Continuemos. Em meados do século XX tivemos alguns estudiosos das cores, Kandinsky, Klee, Albres e Itten, mas todos ainda considerando o círculo cromático iluminista. Alguns cololoristas surgiram depois, poucos, certamente pelo fato de os pintores considerarem um olhar não pelo simples aspecto, mas um prospectivo que implica em um saber do olho, como nos adverte Poussin.
Mas me parece que essa crise na pintura que eclodiu a partir da década de sessenta e os discursos sobre a morte da pintura recalcaram ainda mais a questão da cor. Claro, isso não impediu que grandes artistas com novas ideias surgissem.
De minha parte continuei fiel à cor, e nos meus estudos descartei o círculo cromático iluminista.
Creio q esse problema da cor na pintura pode estudado a partir dos artistas pós impressionistas do final do século XIX.
Van Gogh e Odilon Redon, aos se referirem ao rompimento do tom, afirmaram que se misturássemos um laranja e um azul puros em quantidade iguas obteríamos um cinza absolutamente incolor. Apoiavam-se no círculo cromático iluminista que pretendia racionalmente explicar todos os fenômenos cromáticos da natureza. Já Guaguin afirmou quer a cor era enigmática. E se perguntou se deveríamos pintar uma sombra azulada ou o mais azul possível. Instalam-se suas dúvidas. Sendo a cor enigmática, como racionalizá-la? Deveria usar a cor adjetivada ou pura? Já Cézanne afirma que a luz não existe para o pintor, tem que se substituída por uma outra coisa, a cor. No final de sua vida diz que não realizou e nem realizará nada que pretendia e que fora um primitivo pelas coisas novas que descobrira. Já Seurat, baseado no livro de Chevreul, pretendeu realizar uma obra ancorada em princípios científicos. Estudou a divisão do tom baseado no círculo cromático iluminista. Seurat foi seguido por Paul Signac e esse método foi classificado pela crítica como pontilhismo, que é apenas um procedimento e não uma questão teórica.
No início do século XX duas retrospectivas importantes são realizadas em Paris entre 1902 e 1904, a de Van Gogh e Gauguin. Matisse, então, inicia o movimento fauvista. Afirma que as cores devem ser puras e obedecer à emoção. Diz ainda que não quer pintar com Signac, que escolhe uma cor ou outra baseado em princípios teóricos. É seguido por Braque, Vlaminck, Derain e muitos outros pintores. Sem uma base teórica forte o fauvismo dura apenas dois anos, de 1905 a 1907. Em 1906 é realizada a retrospectiva de Cézanne. Braque dá início aos primeiros quadros cubistas e começa e usar o rompimento do tom. É seguido logo por Picasso. A crítica não percebendo toda a riqueza dos rompimentos de tons dinamizando o clorido com uma dimwensão temporal, afirmam que os cubistas resumiram suas paletas aos ocres, cinzas e pretos.
Continuemos. Em meados do século XX tivemos alguns estudiosos das cores, Kandinsky, Klee, Albres e Itten, mas todos ainda considerando o círculo cromático iluminista. Alguns cololoristas surgiram depois, poucos, certamente pelo fato de os pintores considerarem um olhar não pelo simples aspecto, mas um prospectivo que implica em um saber do olho, como nos adverte Poussin.
Mas me parece que essa crise na pintura que eclodiu a partir da década de sessenta e os discursos sobre a morte da pintura recalcaram ainda mais a questão da cor. Claro, isso não impediu que grandes artistas com novas ideias surgissem.
De minha parte continuei fiel à cor, e nos meus estudos descartei o círculo cromático iluminista.
2-
sobre a sua pesquisa sobre Cézanne, se considera
um especialista nesse assunto? Independente da resposta, como avalia
essa pesquisa.
Não
há uma pesquisa. Houve no inicio, era ainda adolescente, um
interesse pela pintura. Tive a sorte de desde o início
consultar as fontes primárias. Dúvidas iam surgindo, e
uma delas sobre as cores, muito recalcadas em nossa cultura. Daí
chegar a Cézanne. O que percebi é que as cores eram um
problema na pintura contemporânea e que Cézanne era
muito mal estudado. Em diversos livros sobre cor ele é muito
mal citado, e e em alguns nem é lembrado. Estou tentando
entendê-lo e graças a ele descobri muitas coisas, como
o cinza sempiterno, causa e efeito dos coloridos e isso
me permitiu descartar o círculo cromático iluminista.
Esse descarte me permitiu ainda redefini o rompimento do tom não
mais como misturas pigmentares. Hoje digo que a cor é para ser
pensada e os pigmentos para serem usados. Descobri muitas outras
coisas, como a definição da cor abstrata subsatantiva e
a concreta adjetiva, uma interpretação para o
serpenteamento vinciano que fala dos limites dos corpos. Nas
histórias das artes diz-se que Leonardo introduziu o sfumato
na pintura. Isso é mais um procedimento e não uma
questão teórica, ou se você quiser, um
pensamento.
3-Como
são as cores no trabalho e na sua vida, por que escolhe
algumas em especial? Qual seria o critério? Intuição?
Aqui
vale antes uma observação. Cheguei à conclusão
que temos as cores abstratas substantivas, que são ideias
platônicas e as cores concretas adjetivas, cuja condição
é ser no colorido. E esse colorido tem uma lógica.
Portanto a escolha é bem mais o encontro da cor exata dentro
de um colorido que afirme essa lógica. E creio que nesse
critério há uma intuição, mas
espinosamente, isso é, com conhecimento.
4-Que
relação você vê entre poesia e pintura?
Essa
pergunta já foi bem respondida por Leonardo da Vinci. "A
pintura é uma poesia muda." Uma poesia que se dá
pelo pensamento plástico. Na modernidade e contemporaneidade,
com a questão do espaço expandido, a fronteira entre
pintura e poesia diminuiu muito.
5-Como
consegue dar a sensação de luz nas pinturas a ponto de
parecer poético, ou não há essa intenção,
o resultado vem e também o surpreende?
Entendi
a estrutura cromáticas de Rembrandt, que pelo rompimento do
tom chegava à luz, e não a um claro. Há no meu
trabalho uma intenção de chegar à luz. Se você
quiser veja isso como uma metáfora. O que me surpreende é
ver que uma vez realizado um quadro que tenho ainda muito o que
estudar tais as dúvidas que surgem.
6-Qual
o maior artista plástico na sua concepção e por
quê?
A
sua pergunta me permite responder que os maores artistas plásticos
são aqueles que se matém fieis às suas questões,
e não a modismos, jogos de conveniências, etc.
7-Que
influência as palavras do pai tiveram sobre sua
obra.(Dias não citei sobre seu pai porque queria saber se é
de sua vontade ou não, caso não seja,basta não
responder a pergunta e eu entenderei sua posição.)
Uma
questão complexa essa. Creio ter escolhido a pintura para não
enfrentá-lo em um campo no qual ele tem domínio
quase perfeito.
8-Uma
vez em nossas conversas, falei sobre as dificuldades na vida
literária e você também comentou que por duas
vezes pensou em parar com a pintura. Como foi esse momento? E como
aconteceu a retomada?
A
crítica não compreendeu o que vinha estudando e por
vezes isso me desanimou. Cheguei mesmo a para algumas vezes mas
felizmente consegui me superar.
9-
Lendo sobre sua vida, acompanhando e me preparando para essa conversa
tão especial,li o seguinte: "O artista não é
um ego, mas um eco." Por quê ?
O
atrista tem hoje que compreender que a ética é bem mais
importante que seu próprio ego.
10-Como
foi ser considerado pelo Jornal do Brasil na década de 90 como
um dos 70 melhores artistas brasileiros do século XX?
Claro,
gostei da notícia. Pensei que poderia alavancar minhas vendas,
mas isso não aconteceu. As coisas se complicaram, em 20o5 fui
morar em Florianópolis muito desanimado. Mas lá
continuei trabalhando, escrevi dois livros, O cromatismo cezanneano e
Pintura, cores e coloridos, este que será agora lançado
no Rio. Aliás agora estou de volta, divulgando minhas ideias e
isso tem valido muito mais que aquela consideração. E
minha volta se deve muito ao empemho de uma grande amiga, Jandira
Teske.
11-O
que mais tentava passar para seus alunos quando foi professor no MAM
Rio e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage?
Tentei
mostrar como a cor tem que ser reestudada, que como disse, está
muito recaldada na contemporaneidade.
12-Qual
seria a perfeita harmonia artística na sua concepção?
Primeiro,
não acredito em harmonia em termos absolutos. Como disse
acredito que os verdadeiros artistas levantam mais dúvidas que
conclusões. Certamente por nem mais pensamentos utópicos
podemos ter. Vivemos um momento crítico e procurar entendê-lo
já é uma tarefa enorme.
13-Teve
influências de artistas brasileiros como Di Cavalcanti, Iberê
Camargo, Pancetti, Milton Da costa, Tarsila do Amaral, Santa Rosa e
outros?
Nenhum
me influenciou. Mas de alguns recebi bons conselhos. Me fizeram,
pensar e isso é muito importante.
14-O
que seria a geometria das cores?Em seus livros, o que mais valorizou?
A
geometria sempre esteve presente na pintura, mas pelo lado gráfico,
isto é, pelas formas que são mais racionais. Por
isso na Renascença Vasari afirmou que o desenho era o pai das
três artes, a arquitetura, a escultura e a pintura. Deu-se o
primado da forma ou do gráfico sobre a cor. Isso se entende
porque as formas são racionais e as cores enigmáticas.
Nos meus estudos das cores e dos coloridos percebi, pelo pensamento
plástico, que os coloridos têm uma lógica nada
absurda, como diz Cézanne. Por essa lógica nos é
possivel construir espaços cromáticos. Entendo a
construção lógica desses espaços como
geométricos, apesar das cores e coloridos serem
enigmáticos. Temos assim as formas subordinada às
cores.
No
meu livro tento mostrar essa lógica e nesse sentido creio que
estou muito mais fundando um novo olhar e uma outra mentalidade.
15-As
vésperas de mais uma exposição, sei que ainda há
o frio na barriga, aquela sensação do que vai acontecer
e vai ser um sucesso tenho certeza, o que podemos esperar de você,
do seu trabalho?
Creio
que sentirei que vai aumentar minha responsabilidade.
16-Qual
a mensagem deixa para nossos leitores.
Que
duvidem sempre
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