quinta-feira, 23 de julho de 2020

Cézanne, Braque e Dufy e o cubismo e a quarta dimensão

De fato, apesar das preocupações intelectuais dos artistas sobre as novas geometrias, o espaço curvo não-euclidiano raramente aparece na pintura cubista, exceto em obras como L’Estaque, de Braque e Dufy (1908), Torres Eiffel de Delaunay (1910-1911), ou Paisagem Cubista de Metzinger (1911), onde parece que foi aplicada conscientemente aos princípios de deformação do espaço curvo não-euclidiano. Fonte Google

Cezanne

Dufy

Braque 

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Cubismo, Picasso, Dufy, Cézanne, Braque, Leonardo da Vinci e Poussin


Dufy e o cubismo


Primeiro temos de lembrar da frase de Leonardo na qual ele diz: "Devemos observar com muito cuidado os limites de qualquer corpo e o modo como serpenteiam para julgar se suas voltas participam de curvaturas circulares ou concavidades angulares".


Fig 1







Fig. 2


Consultei o Google e vi três quadros de Dufy. Nunca li nas Histórias das artes uma referência a Dufy como participante do  movimento cubista. Em praticamente em quase todas li que o cubismo começa com o quadro de Picasso, Demoiselle d'Avignon, um quadro realmente importante para a história das artes, mas li em um livro que esse quadro é um desdobramento das ideias de Gauguin, o que em parte concordo. E há uma afirmação de Duchamp na qual ele diz que o cubismo começa com Cézanne e passa pelos fauvistas. E Picasso nunca foi fauvista. 

Picasso e vários outros pintores se interessaram pela quarta dimensão, ou seja, as figuras mostradas considerando-se vários pontos de vistas ou os diversos eixos visuais, conforme previu Poussin, Se observarmos o quadro D’demoiselle d’Avignon (ver figura 3) notaremos que o espaço plástico está colado no suporte e numa primeira percepção é mais sincrético do que analítico. As cores não são nem modeladas nem moduladas, são chapadas como nas gravuras orientais que tanto interessou os pintores no fim do século XIX. As linhas de contorno são mais euclidianas do que vincianas. Cézanne nos mostrou outra consciência do espaço plástico quando o criou bi-ocular  e rompeu com a perspectiva cientifica renascentista definitivamente. Creio que é essa a relação de Picasso com Cézanne, o rompimento completo com a perspectiva renascentista. João Cabral de Melo Neto mostra em seu livro sobre esse Miró compreendeu esse rompimento. A relação de Picasso com os cubistas se devem, também, às questões da quarta dimensão.



          Picasso, 1907 – Fig. 3

Continuemos. As dúvidas e incertezas continuam. Nunca chegaremos a uma conclusão.

Vejamos agora os quadros de Dufy que mais se aproximou das questões estudadas por Braque. Dufy em 1910 abandona definitivamente o cubismo.


Dufy – 1908 – Fig. 4




 Dufy – 1908 – Fig. 5



 Dufy – 1908 – Fig. 6


Acima os três quadros de Dufy datados de 1908 (ver figuras 4, 5 e 6), quando, junto com Braque, criaram as bases da passagem de Cézanne para o cubismo. No primeiro (Ver figura 4) umas árvores azuis e laranjas rompidas que permitem a manifestação do cinza sempiterno como consequência das afirmações de Cézanne que afirma que entre o objeto e o pintor se interpõe um plano, a atmosfera. Não há uma data precisa quando do esse quadro foi pintado, mas podemos inferir que foi depois dos outros dois que mostro nos anexos. Nesse quadro de Dufy o espaço plástico tem mais de duas e menos de três dimensões, e assim nos mostra uma percepção do espaço e não da perspectiva renascentista que se interessa mais pela tri-dimensionalidade e o olhar é monocular. E nesse quadro de Dufy podemos também observar o que Poussin afirma, ou seja, um eixo visual frontal e os laterais quando o olhar é prospectivo e bi-ocular. E podemos observar o serpenteamento vinciano no tronco das árvores, tanto as curvaturas circulares como as concavidades angulares quando uma das laterais não é mostrada e, assim, nos permite ver o que está atrás. (Ver figuras 1 e 2).

Enfim, instalam-se as dúvidas. Acho que descobrir uma coisa é semeá-las. E, também, considerar essas descobertas dependentes do espírito de época na qual a coisa pode ser concebida, mas considerar também toda uma tradição que lhe antecede. 
Nos quadros acima (Ver figuras5 e 6), pintado em 1908, podem nos levar a considerar Dufy um originalíssimo precursor do cubismo? Creio que sim. Sua consciência do espaço plástico é uma consequência de sua percepção da obra de Cézanne. Dufy, entretanto, não modulou, ou seja, não rompeu os tons de uma forma que permitisse a manifestação do cinza sempiterno criando um espaço plástico atmosférico à frente do suporte. Dufy modelou, ou seja, ele usou a para as passagens do claro para o escuro a variação da mesma cor. A originalidade de Dufy se deve à percepção das observações de Cézanne relativas ao tratamento da natureza transposta para o suporte através da esfera, do cilindro e do cone para a realização do espaço plástico e não pela a circunscrição dos objetos a essas formas históricas da geometria euclidiana. Mas como Dufy modelava, o espaço plástico ficou no espaço remoto do suporte. É possível que Dufy tenha se interessado em mostrar o que a maioria dos artistas seus contemporâneos com novas ideias propunham, uma quarta dimensão, ou seja, um espaço além daquele que é limitado pelo nosso campo de visão que percebe um espaço tridimensional. Percebemos muito pouco os eixos visuais laterais,
conforme nos adverte Poussin, pois nossa percepção desses quadros de Dufy dentro da estética cubista é ortogonal, o que não exclui uma relação figura e fundo. Alguns teóricos afirmam que alguns quadros cubistas tangenciam uma percepção escultórica. 

Creio que esse é o caso desses dois quadros de Dufy.