O
impasse na pintura e na arte
Quando Cézanne afirmou que entre o objeto e o pintor
se interpõe um plano, a atmosfera deu inicio a uma nova arte. Uma crise que
começa em fins do século XIX se instala. Ela resulta no início da
industrialização com a consequente luta de classes. Escritores como Victor Hugo e Charles Dickens
a denunciam.
A partir de Cézanne, quando o espaço plástico deixou
de acontecer lá, além do suporte, como preconizava Alberti, para acontecer
aqui, coincidindo com esse no qual nos orientamos, a arte começa a tomar outro
rumo. Talvez por um espírito de época Duchamp colocou nele sua obra A fonte. A
arte passou a realizar-se nesse espaço imediato.
Como pintor esses são meus pontos de referência.
Estudiosos de outras disciplinas poderão se aprofundar nessas questões.
Interessante é relermos o livro de Sérgio Milliet, A
marginalidade da arte moderna. O que vemos hoje é o agravamento dessa crise,
daí me perguntar: a arte e a pintura contemporâneas estão vivendo um impasse? Creio que sim.
Praticamente um século de ocupação desse espaço imediato está se esvaziando e
por consequência uma coisa nova se faz urgente.
A cor abstrata substantiva e concreta adjetiva, Espinosa e Poussin
Digo que a cor abstrata é uma
ideia e que subsiste por si mesma e que a cor concreta é adjetiva, que é um
par, contém em si sua oposta, que se rompe por ação dessa oposta, e cuja
condição é ser no colorido. Digo mais, que o pintor lida com as duas. Acredito
que com esses conceitos pelos quais descartamos a ideia de cor definida em
função do espectro e também considerando só a percepção, podemos entender
Cézanne quando ele afirma que a luz não existe para o pintor. Com esses
conceitos de cor podemos distinguir o que seja um colorido e um desenho
colorido. Ou seja, podemos entender o que seja um colorido. Este tem sua lógica
própria, e não mais somente diversas cores em uma superfície seguindo um
determinado princípio de harmonia.
Certamente esses conceitos podem
nos levar hábitos estéticos que somente com o tempo farão algum sentido.
Assim podemos nos aproximar de
Espinosa e entender Cézanne quando ele diz que na natureza tudo é colorido e
que a arte é uma religião.
Para Espinosa Deus não é mais um
criador, mas a própria natureza como causa de si mesma e, por consequência, um
produtor. Para Espinosa, Deus (ou a natureza), tem toda a liberdade, nada o
constrange. Já o homem não tem toda essa liberdade, pois o que lhe é exterior o
constrange.
Considerando
a epistemologia de Espinosa podemos de uma forma bem simplificada dizer que
primeiro o homem percebe o objeto e em seguida usa de sua razão para a
compreensão desse objeto. Mas com isso não ultrapassa o constrangimento, ou
seja, não produz nem cria, e por consequência, não consegue ser livre. Para tal
Espinosa nos fala de uma terceira etapa. Nesta o homem pode, por uma sabedoria
adquirida, criar, e neste ato se aproximar da natureza e entender melhor a
liberdade. O filósofo fala de uma criação, ou conhecimento por intuição.
Agora podemos fazer uma referência a Poussin, que se refere a uma percepção
considerando o simples aspecto do objeto, e um olhar prospectivo que considera
o saber do olho que é bem mais que uma simples percepção.
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